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Caí em casa ontem à noite e me machuquei. A princípio não dei importância, mas durante a madrugada foi difícil dormir por causa da dor, principalmente nas costas, bacia e joelho esquerdo. De manhã tomei café e rumei para a emergência do hospital Mater Dei Porto Dias. Aí começou uma saga que só acabou às 14h e depois de muita reclamação.

Já na recepção o atendimento foi demorado. Em seguida, na Triagem, a enfermeira teve que ir pedir para “segurarem” os pacientes na recepção, pois a sala estava lotada e havia uma fila no corredor, incluindo cadeirante e pessoas idosas. Ela me avaliou cuidadosamente e pôs aquela pulseirinha amarela, para atendimento urgente. Fui então para a sala de espera da Ortopedia, e percebi que quem usava pulseirinha verde estava sendo chamado primeiro. Reclamei à funcionária encarregada da sala e ela me disse que não podia interferir, a chamada era pelo monitor de vídeo e feita pelo médico. Uma senhora que tinha sido atropelada estava na mesma situação que eu, sentindo muita dor e precisando de atendimento urgente. Tive que ir falar com o médico e alertar que a triagem não estava sendo obedecida. Ele me atendeu muito bem, fez os exames clínicos, receitou a medicação injetável e solicitou exames de raios x da coluna e do joelho, recomendando que retornasse após esse circuito, para nova avaliação.

Levei a papelada para a funcionária da sala de espera da ortopedia obter a autorização do meu plano de saúde, assinei tudo para adiantar e passei à sala de medicação. Lá, só uma técnica em Enfermagem atendia toda a demanda. Fiquei com medo de que ela estourasse a minha veia, afinal era muita gente e ela não parava um minuto. Felizmente se manteve serena e atenciosa o tempo todo, com uma palavra de conforto a cada paciente, não errou.

Mas ali presenciei a reclamação da filha da senhora atropelada quanto à demora da medicação. Ninguém sabia do receituário, ela foi atrás do funcionário que levara as receitas para a farmácia do hospital, e depois de muitas idas e vindas descobriu que a receita da mãe estava misturada à de outra paciente.

Voltando à sala de espera da Ortopedia, tive que ir desviando do lago que tinha se formado no corredor. Havia estourado um cano de água na sala de atendimento grave e todas as salas dali foram imundadas, inclusive as de exames de raios x, posto de enfermagem, duas UTIs.

Uma hora depois, como ainda não tinha sido chamada para fazer os exames, voltei a reclamar e a funcionária percebeu que tinham levado por engano a requisição do meu exame e teve que imprimir outra.

Mais demora. Então fui verificar o que estava acontecendo na sala de raios X, já que ninguém era chamado. Estava vazia.

Pedi a pelo menos quatro pessoas do hospital que acionassem o tecnólogo para que atendesse os pacientes; cada um respondia uma coisa diferente a título de explicação e o fato é que ele não aparecia.

Falei que iria publicar o péssimo funcionamento do hospital e um deles me respondeu “fique à vontade”. Tipo assim: entre na fila! Imaginem se estivesse sendo atendida por favor! Nem o SUS é de graça, pagamos para que exista. Ninguém merece tal tratamento, ainda mais em emergência.

Tive que ir atrás do tecnólogo e finalmente fui atendida. Ao sair perguntei se as imagens estavam disponíveis para o médico, ele confirmou. Pois fui ao consultório mas o médico não conseguiu acessar de jeito algum e precisou se deslocar até a sala de raios X para verificar as imagens.

Ao sair de lá vi pela enésima vez uma senhorinha idosa, de aspecto frágil e em cadeira de rodas, que eu tinha visto rodando pelo corredor desde a hora em que cheguei à emergência. Coitadinha! Ainda esperava atendimento.

Por fim, a espera pelo elevador é exasperante: foi mais meia hora. Ficava parado um tempão em alguns andares. Mesmo usando bengala para evitar forçar o joelho, tive ímpetos de ir pela escada.

O Hospital Mater Dei Porto Dias tem uma equipe de médicos e enfermagem de excelência, mas salta aos olhos problema na gestão. Piso sujo, apenas um profissional em cada setor para atender uma multidão, falta de acessibilidade e de conexão entre salas de exames e consultórios são inaceitáveis em hospital desse porte.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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