Publicado em: 30 de setembro de 2025
Uma investigação conduzida pelo professor do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará (UFPA), o químico Dorsan Moraes, que coordenou um grupo de pesquisadores da instituição, desenvolveu um estudo que aponta a possibilidade de transformar resíduos da mineração em materiais capazes de remover poluentes da água.
O trabalho teve como meta inicial explorar o uso de rejeitos minerais na criação de tecnologias voltadas a minimizar impactos decorrentes de poluição hídrica ou desastres ambientais. A proposta consistiu em reverter um passivo ambiental significativo (o acúmulo de resíduos da mineração) em parte da solução para despoluir rios amazônicos.
A pesquisa, intitulada “Uso de resíduos minerais e/ou minerais filossilicatos para produção de novos materiais ou desenvolvimento de tecnologia para minimização de impactos oriundos de desastres naturais ou poluição de recursos hídricos”, foi publicada em agosto na revista científica REM – International Engineering Journal e, além de Dorsan Moraes, coassinada por Arthur de Farias Silva Rente, Augusto Farias Rente, Bruno Apolo Miranda Figueira e Anderson Conceição Mendes.
A Amazônia concentra os maiores impactos da mineração no Brasil. De acordo com levantamento do MapBiomas divulgado em 2020, dos 206,1 mil hectares de terras mineradas no país, 149,3 mil estavam em território amazônico. Esse avanço da exploração mineral gera efeitos ambientais severos, sobretudo a contaminação dos ecossistemas aquáticos por rejeitos e metais pesados, como mercúrio e cromo.
Dorsan Moraes afirmou que o aumento da mineração no estado do Pará leva, inevitavelmente, à maior geração de resíduos provenientes dos processos de beneficiamento dos minerais, os quais, em caso de acidentes, podem contaminar o ar, o solo e, sobretudo, a água, comprometendo sua qualidade, reduzindo a fauna aquática e, por consequência, a pesca. Segundo ele, a criação de novos processos de redução da poluição oferece alternativas mais acessíveis do que as atualmente disponíveis, contribuindo para a preservação dos rios e beneficiando a população que deles depende para sua subsistência.
O estudo reuniu professores de áreas distintas, além de alunos de iniciação científica, graduação e pós-graduação. Entre os rejeitos analisados, ganharam destaque a vermiculita e os resíduos da mineração de manganês, que permitiram a síntese de dois materiais em laboratório: a vermiculita ativada com sódio e a fase tipo Shigaite LDH.
Os experimentos testaram esses compostos em situações que simulam contaminações reais dos rios amazônicos. A vermiculita ativada com sódio foi eficaz contra o azul de metileno, corante usado na indústria têxtil que altera a cor dos rios, reduz a entrada de luz e o oxigênio disponível para a fauna aquática. O material removeu 99% dessa substância.
Já a fase tipo Shigaite LDH apresentou alto desempenho na remoção de metais pesados, eliminando 97% do cromo, elemento de potencial carcinogênico que pode causar sangramentos em pessoas intoxicadas, e 100% do manganês, associado em concentrações elevadas a doenças como Alzheimer e outros distúrbios neurodegenerativos.
Além da eficiência, os pesquisadores destacam a vantagem econômica. O processo desenvolvido apresenta custo inferior ao de métodos convencionais, como peneiras moleculares e adsorvedores comerciais. Segundo o coordenador do projeto, além da despoluição, há também a redução de resíduos que poderiam ser lançados nos rios, ressaltando que o processo é mais eficaz quando aplicado diretamente na saída das águas de despejo das mineradoras, evitando o problema na origem.
Com a publicação dos resultados, o próximo passo é expandir a pesquisa para outros resíduos minerais encontrados na biota amazônica e buscar parcerias com empresas interessadas em transformar a descoberta em tecnologia aplicável em larga escala, já que esse avanço representa ganhos ambientais e econômicos.
“A principal importância trata do uso de rejeitos diversos, principalmente da mineração, para desenvolvimento de novos materiais para atuarem como adsorvedores de poluentes, o que vem a reduzir custos de produção desses compostos já que são de origem natural, bem como ajudar na própria diminuição desses resíduos, transformando o que era lixo em nicho de mercado para as próprias empresas”, destaca Moraes.
Foto: Alexandre de Moraes / Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
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