Durante o debate presidencial realizado na última terça-feira, 10 de setembro, Donald Trump teve a coragem de repetir uma fake news que afirma que imigrantes ilegais estariam se alimentando de animais de estimação de estadunidenses em Springfield, Ohio. A origem desse boato é uma postagem nas redes sociais compartilhada pelo vice de Trump, J.D. Vance, que alegou – sem apresentar evidências – ter recebido “várias denúncias” de que imigrantes haitianos estavam roubando e comendo pets na cidade. A publicação original incluía uma captura de tela de uma postagem que alegava que um gato havia sido visto prestes a ser desossado e comido por supostos haitianos. As autoridades locais de Springfield, Ohio prontamente desmentiram as afirmações de Trump e Vance e disseram não haver qualquer denúncia ou prova crível para corroborar a história. Vance, posteriormente, “tirou a bronca” e afirmou que “era possível que todos esses rumores fossem falsos”, mas a narrativa infundada já tinha se espalhado entre os apoiadores da dupla redes sociais.
Esse tipo de discurso xenófobo faz parte da estratégia da campanha de Trump, que tem focado em questões de imigração ilegal e alimentado preconceitos contra grupos estrangeiros, especialmente americanos (no caso, do Haiti) e populações negras. Durante o debate, Trump voltou a afirmar que os Estados Unidos estavam sendo “invadidos” por criminosos de outros países e insinuou, inclusive, que os imigrantes chegavam ao país diretamente de presídios e hospitais psiquiátricos.
A manipulação de rumores e boatos nas redes sociais não é novidade na campanha republicana. A publicação original que deu base à fala de Trump no debate falava sobre uma “amiga da filha do vizinho” (literalmente) que teria testemunhado o ato. O uso de uma imagem de um homem negro segurando um ganso canadense pelas patas foi outro fator que ajudou a reforçar a percepção preconceituosa e racista associada a imigrantes haitianos no boato. Essa não é a primeira vez que Trump e sua equipe recorrem a narrativas desse tipo para explorar temores e preconceitos sobre a imigração. A disseminação de fake news por figuras públicas como Trump e Vance podem ser interpretadas como uma tática muito bem pensada de polarização, especialmente em um momento crítico para a campanha presidencial dos Estados Unidos, o que levanta preocupações óbvias sobre o impacto de desinformações amplificadas por políticos de alto escalão.
Nos Estados Unidos, a Primeira Emenda da Constituição protege a liberdade de expressão, o que torna difícil criminalizar discursos de ódio, incluindo declarações potencialmente falsas feitas por candidatos. No entanto, essa proteção tem limites, especialmente quando o discurso tem como objetivo causar danos ou minar o processo democrático. No Brasil, o artigo 9º-C proíbe a utilização, na propaganda eleitoral, “de conteúdo fabricado ou manipulado para difundir fatos notoriamente inverídicos ou descontextualizados com potencial para causar danos ao equilíbrio do pleito ou à integridade do processo eleitoral”. A violação dessa diretriz pode ser considerada abuso no uso dos meios de comunicação, resultando na cassação do registro ou do mandato, além de permitir a investigação das responsabilidades envolvidas, nos termos do artigo 323 do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965).
Foto: Redes Sociais de Trump / Divulgação
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