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O resultado de uma pesquisa, fornecido pela Agência Brasileira de Investigação Profissional de Dourados (Abip), município do estado de Mato Grosso do Sul, causou “zum zum zum” nas redes sociais, ao afirmar que, naquele município, 70% dos casos de traição conjugal de homens eram com pessoas do mesmo sexo. Ainda, segundo a agência, os traidores são homens em busca de aventura. Nada de amantes à moda antiga, com um relacionamento fixo. Nesses perfis a rotatividade é grande e sem maiores envolvimentos. É apenas a busca do prazer.

Apesar do tema suscitar inúmeras ruminações, o envolvimento com pessoas do mesmo gênero não é assunto que me cause surpresa e muito menos está inserido na minha escala de valores. A grande questão é por que as pessoas se casam ou se mantêm em casamentos nos moldes tradicionais, onde o combinado é um relacionamento a dois, se não faz parte do seu formato?

Uma outra pesquisa, realizada pelo Gleeden, aplicativo de encontros discretos, mostra o Brasil como o país mais infiel da América Latina. Estamos em pleno século XXI, no qual as pessoas podem escolher se querem um relacionamento monogâmico, poligâmico (poliamor), aberto, trisal, quadrisal, amizade colorida, ventilado, etc. Enfim, um “cardápio” de relacionamentos onde é possível escolher o tipo que convém. A questão é que não é um lado escolher o que lhe convém. A escolha é consensual.

Sobre a preferência sexual de cada um não cabe qualquer tipo de julgamento. Entretanto, é direito da outra parte saber e decidir se também lhe convém a relação. Porque a melhor relação é aquela na qual os dois resolvem embarcar. É preciso colocar suas escolhas sexuais às claras. Todos têm direito de escolher seu formato de relação.

Acontece que a nossa sociedade machista e hipócrita não aceita que as mulheres também escolham. Continua a mesma mentalidade arcaica. E vamos combinar que a infidelidade não é, e nunca foi, mais comum entre os jovens, devido a imaturidade ou avalanche hormonal. De fato, ela é mais frequente entre homens acima de 69 anos, onde diversas pesquisas apontam como os que mais traem, os que mais estão abertos a todos os tipos de aventura. Entretanto, são os que mais fazem “fita” de integridade, fidelidade e lealdade. Continua a velha mentalidade onde só os homens têm direito ao prazer ou gozo e as mulheres não têm segurança e nem liberdade sexual.

Lealdade é combinar o relacionamento. Não expor a pessoa socialmente como a “trouxa” que todos sabem mais dela que ela mesma. O parceiro tem direito a saber das preferências sexuais e relacionais do outro com o qual se envolve. E aqui eu me atrevo a fazer uma correlação com a perversão, onde um lado, sem o consentimento do outro, submete-o a coisas horríveis.

Não combinar sai caro. O prejuízo psíquico para algumas pessoas é desastroso. Vamos imaginar uma pessoa quando, após anos de relacionamento, descobre as traições e chega à conclusão que tudo era mentira, que compartilhou a vida com uma pessoa que nunca conheceu, portanto, não existiu. Em alguns indivíduos causará uma dificuldade relacional para o resto da vida. É preciso ter responsabilidade afetiva, pelo menos.

Então, é possível viver a sexualidade em plenitude sem ferir o outro. Basta combinar. Jogar aberto com o parceiro. Ninguém precisa enganar ninguém. Falar do que gosta, como gosta, explorar o repertório sexual dentro da relação pode ser a chave para um relacionamento duradouro, seguro, prazeroso e verdadeiro. Portanto, trair nos dias de hoje, diante de tantas possibilidades relacionais é “démodé”. É careta!

France Florenzano
France Florenzano é psicanalista, pós-graduada em Suicidologia pela Universidade de São Caetano do Sul. Whatsapp: (091)99111-5350 Instagram: psifranceflorenzano

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