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 Leoni
 El Cuarteto de Nos
Lobão
FOTOS: LUCY HENRIQUES
“O Festival Se Rasgum
apresentou sua sexta edição, mas, para mim, que pela primeira vez consegui
prestigiar, teve gostinho de novidade. E das boas. Foram vinte e duas atrações,
locais e nacionais, convidadas e selecionadas pelo próprio público durante um
evento seletivo prévio, divididas em dois palcos, um lounge com DJs locais e a III Semana de Profissionalização, em
paralelo, no IAP.

E lá fui eu, nos dias 18
e 19, conferir o Se Rasgum. O primeiro ponto positivo: a localização. Está
certo que amamos experimentalismos, mas os sonoros. Ouvi alguns comentários de
que o Hangar, por ser muito “arrumadinho”, não tem o “clima ideal” para o
evento, com o que eu não concordo nem um pouco, apesar de achar que Damaso
& Cia. acharão maneiras divertidas de criar uma ambientação mais
descontraída nas edições futuras. O conforto – incluindo climatização
impecável, banheiros dignos, praça de alimentação, estacionamento – é
fundamental para aproveitar a maratona de shows e neste quesito o
Se Rasgum acertou. Outra coisa muito bacana foi a
feirinha alternativa de roupas, bijoux, CDs. Quem sabe, ano que vem, esse
espaço não possa ser aproveitado para que as bandas participantes vendam e
autografem seus materiais?

Confesso que fui
“focada” em dois shows específicos: do carioca Leoni, na sexta, e dos urugaios
do El Cuarteto de Nos, no sábado.

Quando cheguei no
Festival, quem estava no palco era o Circuito Floresta Sonora. Uma pena que o
salão ainda não estivesse cheio: a proposta “mistureba”, que reúne a
criatividade de artistas como MG Calibre, Leo Chermont, Juca Culatra e
Metaleiras da Amazônia merece, no mínimo, a atenção do público e dos críticos.
Leoni dividiu o palco com a banda Suzana Flag, um formato que está bastante “na
moda” nos últimos tempos e que eu, pessoalmente, acho muito arriscado. Para
funcionar tem que ter um grande equilíbrio – o que não aconteceu neste caso, na
minha opinião – além de um tempo de apresentação maior, o que não é de praxe
num festival. A idéia de colocar um artista consagrado com outros de menor
projeção é excelente na teoria, mas na prática o que aconteceu foi que o Suzana
Flag funcionou como “banda base”, desagradou os fãs do Leoni no pequeno espaço
que lhes coube para apresentar seu trabalho autoral e, pior, deixou os fãs da
banda que queriam prestigiar suas composições insatisfeitos. Eu, que sou fã do
Leoni e já acompanhei outros shows dele, me esgoelei junto com a multidão nos
hits e fiquei no gostinho de “quero mais”. Entretanto, o show dos gaúchos do
Bidê ou Balde foi o mais comentado da noite. O público vibrou durante a
apresentação inteira, literalmente.

No sábado a estrela da
noite era o Lobão, mas eu queria mesmo era ver o El Cuarteto de Nos. Donos de
uma sonoridade cativante e de um dos videoclipes mais legais dos últimos anos
(“Yá No Sé Qué Hacer Conmigo”), eles subiram no palco como se estivessem
tocando para milhares de pessoas e mostraram que um bom show se faz com
entusiasmo e prazer de tocar (e com uma produção bastante acertada, apesar de
simples). Foi, do começo ao fim, um show “pra cima”, com uma sonoridade latina
marcante porém sem deixar de lado a pegada rock’n’roll. Que seja apenas o
início de um longo e rico intercâmbio nosso, amazônico, com o resto da América
Latina.

Voltando ao Lobão:
acostumado a bancar o rebelde e dar declarações “de efeito”, no palco toda a
sua personalidade não foi suficiente para segurar a empolgação de uma trupe
recém-saída de um show da Gang Do Eletro. Apesar de ter uma linha de raciocínio
que vai contra essa onda que prega o brega,
technobrega, melody e afins como cult, é impossível negar que o ritmo
é contagiante e, que por mais duvidoso que seja o gosto – principalmente por
algumas letras de caráter chulo – ele faz parte do nosso subconsciente cultural
coletivo e faz todo mundo “tremer”.

O Festival Se Rasgum é um reflexo local da tendência dos grandes
festivais: a diversidade de estilos. E é esse o espírito mesmo, a quebra de rótulos
e o intercâmbio cultural, mas sempre valorizando as nossas pratas da casa.
Espero que o universo musical se amplie cada vez mais e que, nas próximas
edições, tenhamos muitas surpresas agradáveis.”

(Gabriella
Florenzano, sobre o VI Festival Se Rasgum.)
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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