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A edição 779 do Re-Pa, o clássico mais jogado do planeta, veio carregada de tensão e expectativa, especialmente por seu peso dentro da décima-terceira rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. O duelo entre Remo e Paysandu, realizado no sábado (21), às 18h30, não era apenas sobre rivalidade histórica – era sobre as tendências de cada uma das equipes no campeonato, considerando-se as posições na tabela e os resultados recentes.

Do lado bicolor, o jogo era encarado como a chance de consolidar uma reação no campeonato. Após 11 partidas sem vencer, o Paysandu vinha de um triunfo suado contra o Botafogo-SP, que serviu como alento e ponto de virada. A troca no comando técnico – com a chegada de Claudinei Oliveira –, e mudanças sensíveis também no elenco, foram movimentos importantes para sacudir o vestiário e mudar o ânimo. A expectativa era grande: o clássico poderia ser o combustível para consolidar a retomada e provar que ainda há tempo para sair da zona da degola.

E o Papão não decepcionou. Desde o apito inicial, o Paysandu demonstrou maior intensidade, ocupou melhor os espaços e pressionou o Remo em seu próprio campo. A equipe bicolor soube explorar a falta de proposição do jogo dos azulinos, que não conseguem produzir muito quando estão com a bola. A eficiência nas bolas paradas e a compactação entre os setores fizeram com que o Paysandu controlasse boa parte das ações, convertendo esse domínio em um placar justo, refletindo o que se viu em campo. Um placar mais dilatado – como 2 a 0 ou 3 a 1 – não seria injusto. Os principais trunfos bicolores foram os atacantes Mauricio Garcez e Diogo Oliveira – este último, autor do gol da vitória. O futebol apresentado pelo Paysandu esteve à altura da história do confronto. A equipe agora está com 10 pontos na tábua de classificação.
Outro fator determinante foi o papel da torcida bicolor. O Estádio Olímpico do Pará, o Mangueirão, recebeu um público impressionante, com destaque absoluto para a presença da Fiel Bicolor, que empurrou o time do início ao fim. Mesmo em situação delicada na tabela, a torcida mostrou por que é o maior patrimônio do clube. A sinergia entre arquibancada e gramado fez a diferença, elevando o desempenho do time. Foi uma noite em que a “Payxão” se traduziu em vantagem competitiva real.

Já o Clube do Remo, por sua vez, mostrou dificuldades técnicas, táticas e emocionais. Seu principal destaque, como vem sendo nas últimas partidas, foi o ótimo goleiro Marcelo Rangel. O time sentiu muito a falta do zagueiro Reynaldo, do volante Caio Vinicius e do volante Régis. A equipe azulina foi pouco criativa, teve dificuldades na transição ofensiva e sofreu com a lentidão de seus meias na construção das jogadas. O time parecia perdido diante da intensidade imposta pelo rival, errando passes simples e sem conseguir reverter o ímpeto adversário em qualquer momento da partida. A falta de variações no ataque e a ausência de uma estratégia clara de jogo pesaram negativamente.

A zaga também demonstrou desentrosamento e lentidão na recomposição, enquanto o meio-campo pouco protegeu a retaguarda. O Remo, que vinha buscando estabilidade na competição, viu no clássico uma oportunidade de afirmar seu crescimento – mas o que se viu foi um time apático, travado e inferiorizado psicologicamente. As mudanças na comissão técnica e do executivo de futebol ainda trazem desconfortos. O clássico marcou a estreia do lusitano António Oliveira no comando azulino. O novo executivo de futebol, Marcos Braz, indica que o Remo deve fazer ajustes na próxima janela de transferências, prevista para julho.

Outros resultados também mexeram com situação da dupla: a vitória do Amazonas-AM contra o Vila Nova-GO foi ruim para o Paysandu, enquanto que a vitória do Atlético -GO contra o Volta Redonda-RJ foi boa; no caso do Remo, que caiu para a oitava posição, com 20 pontos, a vitória do Coritiba-PR sobre o Cuiabá-MT foi um bom resultado, enquanto que a vitória do Athletico-PR contra o Avaí-SC não foi interessante.

Na próxima rodada, o Paysandu terá mais uma prova de fogo ao enfrentar a Ferroviária-SP, em Belém. A vitória, uma vez mais, é um imperativo, para seguir na luta para se sair e se afastar da zona do rebaixamento. Já o Remo volta a campo contra o Athletic-MG, no interior mineiro, e precisará reorganizar rapidamente suas ideias para não correr o risco de entrar em espiral negativa.  A jornada da Série B é longa, mas cada rodada pesa como uma final.

Por fim, fica a reflexão: terá sido este Re-Pa um divisor de águas para as duas equipes? Para o Paysandu, a vitória pode significar a consolidação de uma “virada de chave”, tão esperada pelo seu torcedor. Para o Remo, a derrota expôs fragilidades em seu elenco vasto e caro, fora o fator anímico.

Um clássico é sempre um clássico – mas alguns, como o de sábado, marcam mais do que uma rivalidade: podem indicar rumos de uma temporada.

Fotos: Rodolfo Marques (ReXPa em 21.06.2025)

Rodolfo Marques
Rodolfo Marques é professor universitário, jornalista e cientista político. Desde 2015, atua também como comentarista esportivo. É grande apreciador de futebol, tênis, vôlei, basquete e F-1.

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