Publicado em: 2 de agosto de 2025
Jambu não avisa. Ele chega de mansinho, folha miúda, cara de mato, cheiro discreto. E de repente, a língua dança.
Primeiro o susto. Depois, a graça.
O jambu é dessas experiências que a gente não entende logo de cara, porque não é sabor, é sensação. É música que se ouve com o corpo.
Minha primeira mordida foi espanto puro. Achei que tivesse dado ruim: “isso aqui tá com problema?”, perguntei. Mas era só o jambu me apresentando seu modo delicado de existir: amolecendo pra depois ensinar.
Tem planta que alimenta, tem planta que cura. O jambu faz os dois. E ainda encanta.
Ele é presença que vibra. Quando se junta ao tucupi, ao camarão seco, à goma ou ao arroz paraense bem temperado, ele canta em coro. Um coral verde e dourado que arrepia o céu da boca e faz cócegas na alma.
Só que o jambu foi além.
Escapou do prato e foi morar em outras alquimias.
Virou brigadeiro na confeitaria criativa, entrou em cremes, óleos, cosméticos. Dia desses, encontrei uma vela aromática de jambu, dessas que viram óleo de massagem, e, olha, nem só a língua canta. O corpo inteiro responde.
Porque o jambu tem essa magia: ele adormece pra despertar.
É provocação suave, é ternura elétrica.
É um não sei quê que arrepia.
Que sussurra.
Às vezes penso que o jambu é um recado da Amazônia.
Tipo assim: “pra me sentir, não basta provar. Tem que se entregar.”
Porque o jambu é mais que gosto. É sensorial. É vegetal e poético.
É a floresta dizendo que prazer também é tremor.
E depois que se prova, não tem mais volta.
A gente começa a procurar aquela dormência boa em outros cantos da vida.
Aquele susto macio.
Aquela alegria líquida.
Aquela língua que canta.
E se o jambu é planta que treme e encanta,
Dona Onete é a mestra que canta esse feitiço.
Com ela, o jambu virou Jamburana, perfume, desejo, melodia.
E a Amazônia sorri, sabendo que até o amor, por aqui, é folha que estremece.
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