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Atenção, som? Câmeras? 3,2,1, Ação! Ouvi essas ordens muitas vezes na noite em que estive no set de “Pssica”, seriado que está sendo filmado em Belém pela O2, de Fernando Meirelles e Andrea Barata e será distribuído pela Netflix, a partir do livro de mesmo título, de minha autoria. Adoro cinema, séries, enfim, de modo que foram momentos maravilhosos, vividos em meio a mais de oitenta figurantes, que penaram por algumas horas até Meirelles dar-se por satisfeito com o resultado. Foi Andrea, sua sócia, a primeira a ler o livro, motivada por uma matéria na Folha de São Paulo. Avisou Fernando, que estava em Belém, dirigindo uma ópera e ele me ligou. A partir daí vieram várias tratativas entre a Editora Boitempo e uma agente, que duraram alguns anos até tudo se acertar. Filmar em Belém custa caro. O tal do “custo amazônico”. Mas a O2 veio com tudo, trazendo até Fátima Toledo para preparar atores e já  filmou no Combu, está em Outeiro e vai ao Marajó. Alguns amigos perguntam se algo que está no livro foi alterado. Foi. O cinema é outro gênero, outro veículo, que traduz em imagens as palavras. Há também cuidado em fazer um produto muito caro, que precisa de público para se pagar. Nada tenho contra isso. Compreendo perfeitamente. Sou responsável pelo que escrevi. Não pelo que será filmado, já que vendi os direitos para a O2, como tantos e tantos autores.

Quando cheguei estavam todos jantando em uma grande tenda. Muitos conhecidos aqui de Belém. Fernando e sua equipe em uma rápida reunião. Kitty Feo dá as ordens, ela que comanda a todos com os avisos e chamadas, posiciona, chama, corta e manda ação novamente. Enquanto a ação com muitos figurantes acontece, há muitos profissionais em diversas atividades. Câmeras circulam, em uma tenda a galera do som assiste em pequenos monitores, enquanto em outro lugar da casa, há monitores maiores. Gente cuidando da luz, dos atores, vestem e despem roupões, mudam de posição e a noite corre, rápida. Há um palanque e nele, um dj brega, dançarinas e um animador, que é o ator Cláudio Jaborandi. Ele anuncia a presença de um “presente de aniversário” para o prefeito, interpretado por Alberto Silva. Trata-se de uma moça, a heroína do filme, chamada Janalice, papel de Domitila Pinheiro, jovem e linda. Fernando não para, ensaiando, grava, volta, tudo de novo, agora vou filmar de outro ponto. A equipe movimenta-se agilmente e dribla as dificuldades. Nada é desperdiçado. É uma iniciativa cara. Enquanto isso acontece, estou sentado em posição privilegiada, ao lado de Andrea Barata, nessas famosas cadeiras de diretor de cinema, com a marca O2. Quase peço para uma vez, gritar “Ação”. E exatamente na hora marcada, todos encerram os trabalhos, há uma correria em guardar equipamentos, Kitty Feo pergunta quantas pessoas Fernando vai querer para o dia seguinte, se farão novamente esta ou aquela cena e após isso, sai ditando ordens a torto e a direito ( e não à esquerda?). Os ônibus e vans estão ligados, recebendo todos os envolvidos naquela noite. Já passava da meia noite e saindo do set, em Outeiro, encontramos caminhos silenciosos, da cidade dormindo em um início de semana em plenas férias. Querem saber, espero o melhor. Uma das duas melhores companhias de filmes do Brasil e distribuição pela Netflix. O que posso pedir mais? Corta!

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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