Publicado em: 13 de dezembro de 2025
A retirada das sanções impostas pelos Estados Unidos ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes reacendeu o debate sobre os limites entre princípios e interesses na política internacional. Mais do que um episódio jurídico, a decisão expõe a lógica do pragmatismo que frequentemente orienta as relações entre Estados, mesmo quando líderes e governos ostentam visões de mundo antagônicas.
Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva nunca foram aliados naturais. Ao contrário, protagonizaram, em diferentes momentos, trocas públicas de críticas e posicionamentos opostos sobre democracia, economia e política externa. Ainda assim, diante do risco de desgaste diplomático prolongado, optaram por construir uma ponte política baseada em interesses estratégicos comuns.
Para Washington, o cálculo é relativamente claro. O Brasil permanece um ator central no hemisfério, tanto pelo peso econômico quanto pela sua influência regional. Em um cenário de disputa crescente entre grandes potências, manter canais abertos com Brasília pareceu mais relevante do que sustentar um confronto institucional com alto custo diplomático e resultados incertos.
Do lado brasileiro, Lula recorreu a uma estratégia já conhecida de sua trajetória política: dialogar com diferentes polos de poder, independentemente de afinidades ideológicas. Ao agir no caso, o presidente buscou resguardar a soberania institucional do país e evitar que disputas internas se transformassem em sanções externas de efeitos duradouros.
A decisão, no entanto, está longe de produzir consenso. Aliados do governo celebraram o episódio como vitória diplomática e demonstração de maturidade política. Já críticos do ministro e setores bolsonaristas viram na retirada das sanções uma concessão inaceitável, interpretada como relativização de princípios democráticos e esvaziamento de instrumentos internacionais de direitos humanos.
Esse embate revela uma tensão recorrente na política internacional: até que ponto valores normativos resistem quando confrontados com interesses econômicos, comerciais e de segurança? A Lei Magnitsky, frequentemente evocada como símbolo de defesa global dos direitos humanos, mostra-se também suscetível a cálculos estratégicos e rearranjos diplomáticos.
A reação da imprensa norte-americana seguiu esse mesmo tom. O episódio foi tratado menos como juízo moral e mais como recalibragem política, destacando a necessidade de estabilidade nas relações com o Brasil em um momento de reorganização das alianças globais. A ponte Trump–Lula apareceu, assim, menos como convergência ideológica e mais como exercício de realismo diplomático.
Resta saber quão sólida é essa ponte. As divergências estruturais permanecem: Lula segue crítico ao liberalismo econômico tradicional e busca maior protagonismo do Sul Global, enquanto Trump aposta em uma política externa transacional e nacionalista. O entendimento atual pode ser funcional no curto prazo, mas dificilmente elimina fricções futuras.
No fim, o episódio reforça uma lição antiga da política internacional: princípios importam, mas raramente caminham sozinhos. Quando interesses estratégicos entram em jogo, até adversários ideológicos encontram espaço para acordos improváveis. A ponte entre Trump e Lula pode ser circunstancial, mas revela, mais uma vez, que o pragmatismo continua sendo a linguagem dominante nas relações entre Estados.



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