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Uma expedição científica coordenada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), a bordo do navio-laboratório Ciências do Mar II, com equipe composta por nove pesquisadores e nove estudantes parte nesta sexta-feira, 24 de outubro, de Belém, rumo a uma jornada de mais de 3 mil quilômetros em mar aberto, com o objetivo de mapear e estudar de forma aprofundada a biodiversidade marinha da região Norte do Brasil, uma das menos conhecidas pela ciência.

Durante cerca de dez dias de navegação, serão observados e catalogados microorganismos, microalgas, invertebrados, crustáceos, esponjas, peixes, baleias, golfinhos e aves marinhas. O coordenador-chefe da missão, professor Eduardo Tavares Paes, doutor em Oceanografia e docente da Ufra, destaca que o conhecimento sobre a Amazônia costuma concentrar-se no ambiente terrestre, deixando o ecossistema marinho em segundo plano. “Existe um saber de alto nível voltado para a Amazônia verde, as florestas, a área continental. Mas a parte costeira, marinha, ainda é pouco conhecida. Nessas pesquisas esperamos encontrar inclusive espécies que ainda não foram descritas pela ciência, espécies novas”, afirma.

Segundo o pesquisador, o mar amazônico, que se estende do Amapá ao Piauí, abriga uma riqueza biológica ainda subestimada: “sabemos, por estudos anteriores, que na Amazônia existe um mar de esponjas único do mundo, um verdadeiro jardim submarino com esponjas de vários metros de altura e ainda pouco conhecidos”. Ele lembra que compreender a dinâmica desses ecossistemas é fundamental também para monitorar os efeitos das mudanças climáticas. “Nós já sabemos que em muitas regiões, no arquipélago do Marajó, por exemplo, já existe salinização dos rios, porque o oceano está entrando. Mas quanto isso impacta diretamente na fauna marinha, que consequentemente impacta nas comunidades locais?”, questiona.

A embarcação Ciências do Mar II integra uma frota nacional de quatro navios de pesquisa idênticos, adquiridos por meio de parceria entre o Ministério da Educação, a Marinha do Brasil e os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), do CNPq. O projeto visa conhecer de forma comparativa a biodiversidade marinha brasileira, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS). Pela primeira vez, as quatro embarcações estão operando simultaneamente, cobrindo as diferentes regiões do país. Após missões no Sul, Sudeste e Nordeste, agora é a vez da Amazônia.

O navio-laboratório é equipado com laboratórios modernos, guindastes, guinchos e instrumentos científicos de ponta, que permitem a realização de coletas, análises e medições oceanográficas em tempo real. A bordo, os estudantes das áreas de biologia marinha, engenharia de pesca, engenharia ambiental e pós-graduação em aquicultura terão a oportunidade de aprender na prática. “Uma das metas é formar alunos através da experiência embarcada. Por isso, pesquisadores mais experientes e alunos que vão aprender a bordo os protocolos, usar equipamentos e ter um treinamento mais avançado nos estudos e planejamento”, explica o professor Eduardo Tavares.

Para o pesquisador, a expedição representa um marco para a Ufra e para o avanço das ciências marinhas na Amazônia: “é a primeira vez no Brasil que se faz uma ampla prospecção biológica e oceanográfica ao mesmo tempo, com a mesma metodologia, mesmo tipo de coleta de dados, imagens de satélite, medidas de corrente, coletas de água. É um grande esforço para se conhecer a biodiversidade brasileira. E pela primeira vez também a Ufra entra no cenário nacional das Ciências Marinhas, participando como protagonista”.

Os materiais biológicos coletados serão analisados tanto a bordo quanto em laboratórios da universidade, que passa a contar com novos equipamentos adquiridos pelo projeto e que permanecerão na instituição. Estão previstas novas viagens em 2026, mas o objetivo é consolidar uma rotina de expedições regulares dedicadas ao estudo do mar amazônico. “O conhecimento do mar não se encerra nesse cruzeiro. A ideia é que aos poucos possamos constituir cruzeiros regulares que não dependam mais de recursos de fora da Amazônia, que as nossas universidades consigam captar recursos e ter suas embarcações e centros de pesquisa, esse é só o começo. Daqui a algum tempo, quem sabe, não temos um Centro de Estudos de Biodiversidade Marinha Amazônica, que ainda não tem nenhum”, projeta o pesquisador.

A missão, além de científica, é simbólica: representa um passo decisivo na integração entre a Amazônia verde e a Amazônia azul, entre o que se vê na superfície e o que pulsa nas profundezas do oceano que molda o destino ambiental, social e econômico da região.

Foto em destaque: Professor Eduardo Tavares Paes / Ascom Ufra

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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