Outubro chegou, instalou-se oficialmente no calendário belenense, e com ele melhora o clima, melhora a disposição, melhora o humor. Melhora o faturamento dos hotéis, das pensões, hospedarias e albergues. Melhora o faturamento dos restaurantes, dos bares e das lanchonetes. Melhoram as vendas das lojas de tintas, melhora a renda dos pintores de paredes. Melhora a féria dos garçons, dos artesãos, dos criadores de pato, dos plantadores de maniva e jambu, melhora a receitas dos taxistas.
Outubro chegou, instalou-se oficialmente no calendário belenense, e com ele aumentam as expectativas, aumentam as emoções, aumentam as saudades e também os reencontros. Aumenta a fé, aumenta a capacidade de perdoar e aumenta o que há de sincero no perdão. Aumenta a tolerância, aumenta a hospitalidade, aumentam os sorrisos e aumentam os abraços.
Outubro chegou, instalou-se oficialmente a partir deste domingo. Cresce o número de voos, cresce o número de ônibus, cresce o número de barcos. Cresce o movimento do aeroporto, da rodoviária e do terminal hidroviário. Cresce o orgulho da terra, cresce o público das missas, crescem as súplicas à Padroeira, crescem os dízimos e as ofertas, crescem as caixinhas dos funcionários. Cresce a vontade de compartilhar, cresce a capacidade de dividir, cresce a percepção do próximo, cresce a amor ao semelhante.
Já é outubro em Belém. Aparecem os brinquedos de miriti, aparecem as feiras de artesanato, aparece o Parque de Diversões e aparece o Arraial de Nazaré. Já é outubro, aparecem as luzes e as arquibancadas da Avenida Presidente Vargas, aparecem os enfeites das fachadas, aparecem centenas de berlindas, milhares de imagens, milhões de fitinhas coloridas. Já é outubro, pintam-se as casas, arejam-se os quartos de hóspedes, acende-se a Santa da Doca de Souza Franco.
Chegou outubro, abrem-se os corações, abrem-se as mentes, abrem-se os braços e todas as janelas dos percursos da Virgem. Chegou outubro, dobram-se os joelhos, estendem-se as toalhas brancas nas varandas e carregam-se os anjos sobre os ombros. Chegou outubro e molda-se a cera de acordo com as dores, conforme as doenças, na ânsia das curas. Chegou outubro e vertem-se as lágrimas, lavam-se os rostos purificam-se as faces. Chegou outubro para dividir os copos de água que não bastam para matar tantas sedes.
Vai passar outubro e com ele vão passar pelas ruas, pousadas sobre as cabeças, as ofertas de gratidão – a casa conquistada, o carro, o barco, a carteira de trabalho, os testes de gravidez e os livros dos jovens que sonham com as universidades. Vão passar os sonhos a brilhar nos olhos, as incertezas a tremer não mãos, os desejos a bater nos peitos num ritmo compassado, ritmo de marcha, de marcha que evoca a flor, o lírio, o lírio mimoso que exala o mais suave perfume.
Vai ficar mais um outubro, gravado na mente, marcado no coração, eternizado em forma de lembrança. Vai ficar nas mesas postas para reunir as famílias, nas cores, cheiros e sabores da floresta, na comida de índio que tomou o mundo e encanta os paladares. Vai ficar o gosto das frutas de época, fartas nos paneiros ou dentro dos bombons de chocolate, vai ficar o gosto do sorvete famoso, vai ficar a imagem dos isopores a levar daqui um pouco de tudo o que somos. E vai ficar, em mim, muito mais do infinito afeto pela Santa cabocla, pela Maria do mato, dos rios e dos igarapés, pela Maria de Nazaré.
Obrigado outubro, volte sempre!
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