Publicado em: 26 de julho de 2025
Belém tem cheiro de mundo fresco e chão molhado. Mas é no Ver-o-Peso que a cidade pulsa mais forte, entre barracas de fruta, cheiro de tucupi no ar, folhas verdes de maniva, patichicos, castanhas e o balé das cuias no vai e vem das mãos. Ali, o tempo não passa, ele cozinha. E eu, que vim de fora, fui me tornando de Belém no compasso da feira.
Foi o Ver-o-Peso que me ensinou a amar com todos os sentidos. Primeiro o espanto: o colorido das frutas, o canto dos vendedores, o som da faca batendo no filhote fresco, cortado ali mesmo, com precisão e poesia. Depois o encanto: o banho de cheiro, o tucupi escorrendo, o jambu cantando na boca. E por fim o pertencimento, como quem encontra seu chão no mundo e entende que ali é casa.
Dizem que o Ver-o-Peso é mercado, mas não é só isso. É país. É o mundo a céu aberto. É terreiro de cura, de cheiro e de sabor. Lugar onde a ciência popular e a fé se encontram entre raízes, ervas, pós, farinhas, peixes e histórias.
Foi ali que me descobri gastróloga, entre as mãos que cortam, vendem, oferecem e sabem. Sabem tudo. Sabem da terra, do rio, do corpo. Sabem que comida é também encantaria.
E eu, que cheguei sem ser daqui, fui ficando. Fui sendo. Fui me encharcando de cheiro, de cor, de gosto. E quando percebi, o Ver-o-Peso já morava em mim.
Ver-o-Peso não é só mercado.
É coração.
É verbo.
É ventre.
E quando eu piso ali, ainda hoje, sinto que estou no lugar mais vivo do mundo.
O meu país, chamado Ver-o-Peso.
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