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No último dia 24 de outubro o mais importante geógrafo brasileiro, referência mundial em preservação ambiental, completaria cem anos de nascimento. Autor de Os Domínios de Natureza no Brasil, livro que contém uma das análises mais completas do relevo, solo, vegetação, hidrografia e clima brasileiros, dividindo o território em seis domínios morfoclimáticos: Amazônico, Caatinga, Mares de Morros, Cerrado, Araucárias e Pradarias, a contribuição científica e política do professor doutor Aziz Ab’Sáber é crucial no cenário de emergência climática enfrentado hoje em todo o planeta. Há quarenta anos ele já divulgava estudos e pesquisas envolvendo variações climáticas, modelagem do relevo brasileiro, modelos de zoneamento ecológico, econômico e programas importantes como o Floram, que surgiu no Instituto de Estudos Avançados da USP. A meta era, na época, deslanchar um processo de florestamento e reflorestamento de grandes dimensões para sequestrar parte do excesso de gás carbônico (115 bilhões de toneladas) introduzido na atmosfera pelas diversas fases da revolução industrial e por queimadas de grandes dimensões para a implantação de agroecossistemas. Uma estratégia ousada para sequestrar os materiais acumulados na atmosfera terrestre, que ameaçam toda a humanidade devido à progressão do efeito estufa.

Seu legado é atualíssimo e suas ideias estão sendo utilizadas com muita força na Europa, onde vários países estão abandonando as construções em alvenaria e retomando a construção a partir da madeira engenheirada na construção civil, que é trabalhada para resistir às condições climáticas e com isso diminuir a pegada do carbono.

Há décadas o ilustre cientista alertava quanto ao processo de seca que a Amazônia iria enfrentar, que o ciclo de chuvas poderia ser mais intenso em regiões do Sul e Sudeste, entre muitas outras situações.

Se ele tivesse sido ouvido, a crise ambiental que o País atravessa com o aquecimento global, desequilíbrio ambiental causado  pelas ações humanas, poderia ser menos trágica.
 
Visinario da biodiversidade, o mestre defensor da natureza, referência para cientistas e pesquisadores de diversas áreas como geografia, fitogeografia, ecologia, geomorfologia e arqueologia, deixou um legado também para a educação e formação das crianças e jovens: pensar no futuro e incentivar a preservar a natureza. Defender a ecologia, o meio ambiente, a história.

O mestre Aziz Ab’Sáber faleceu em 16 de março de 2012. Era filho do imigrante libanês Nacib com a brasileira Juventina, de ascendência portuguesa, vinda do sertão do Nordeste. Tinha 16 anos quando entrou na USP para fazer Geografia e o seu sonho era trabalhar na Universidade. O professor de Geografia e História Kenneth Caster o chamou, dizendo que gostaria muito de contratá-lo como seu assistente sênior, mas só tinha vaga como jardineiro. Aziz Ab’Sáber já era bacharel e pós-graduado, e aceitou o cargo e o salário de jardineiro.

Humanista e intelectual com sensibilidade social e revolucionário, o professor Ab’Saber entendia que a conquista da cidadania passa, necessariamente, pela escola e pela leitura, acreditava que a universidade deveria cumprir o seu papel social, de produzir conhecimento também para os excluídos, exatamente os que mais necessitam dos avanços conquistados pela academia.

Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), professor honorário do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) e presidente de honra da SBPC, Aziz ganhou, entre outros, o Prêmio Internacional de Ecologia e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente, três prêmios Jabuti e o título de Intelectual do Ano com o Prêmio Juca Pato.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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