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Na beira do Tâmisa, ou Thames, chamado assim na língua inglesa, me sento para organizar meu retorno para o Brasil, dando até logo ao Otto, meu netinho que aqui fica começando a vida.

Olho para o rio que não é o Amazonas, e reflito sobre o fluxo da existência, nas mesmas condições dos rios que passam de ida, de volta, enchendo e vazando, em suas importâncias e acontecimentos evolutivos.

O Tâmisa nasce nos cotswolds, região de colinas ao sudoeste da Inglaterra e percorre várias cidades importantes, como Londres, antes de desaguar no estuário do Tâmisa, Mar do Norte. O Amazonas nasce na cordilheira dos Andes e segue até envolver o arquipélago do Marajó, sem entregá-lo ao oceano atlântico.

Os dois rios têm suas histórias, dignas de registros. Na antiguidade e na idade média, o Tâmisa serviu como rota de comércio e invasão, sendo vital para os romanos e os povos anglo-saxões.

O Amazonas teve um papel muito importante nas primeiras explorações e tentativas de colonizações europeias na América do Sul. Antes da chegada do europeu, as civilizações antigas da Amazônia possuíam culturas complexas, sustentáveis e bem adaptadas ao meio ambiente, cientes do valor desse grande bioma aquático.

Tâmisa, Amazonas, e todos os rios, representam às cidades que banham um elo fundamental para a sobrevivência de seus povos pelo dinamismo com que se desenvolvem envolvendo economia, política e vida social.

O Rio Nilo, que era chamado a “dádiva do Egito”, banhando 11 países, com cerca de 6.650km de comprimento, formou a base da civilização egípcia, beneficiando a agricultura, o transporte, a economia e a religião.

Somos como rios durante as nossas vidas, águas que seguem, retornam, inventam, beneficiam, conduzem, falam e alimentam a própria vida em seu espaço temporal.

Durante uma boa temporada andei pra cima e pra baixo em um trecho do rio Tâmisa, ignorando a modernidade de Londres com seus passeios náuticos, restaurantes na orla, comidinhas maravilhosas, a magnífica torre do Big Ben, para pensar na relação dos rios nas vidas dos seres humanos.

No dia 30 deste mês saudarei em Belém um poeta que será recebido como membro da Academia Paraense de Letras, João de Jesus Paes Loureiro, o criador do “realismo poético amazônico”, assim observo. Um poeta que sabe da importância de todos os rios em nossas vidas, que enxerga a evolução de um rio como uma história de vida em nossas vidas como parte da nossa existência que se move como os planetas.

Por isso, à frente do Tâmisa, na lembrança do Amazonas, de todos os rios de nossas vidas, relaciono os rios ao movimento da existência, minha, do meu netinho Otto aqui em Londres, do outro, nos Estados Unidos, Jax, da poesia de João, perante o tempo que nos proporciona evoluir como um rio, pontuado pelo inesperado e pelo inusitado.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, poeta e jurista, especialista em Direito Constitucional pela UFPA, mestre em Filosofia do Direito, área de Direitos Humanos pela PUC/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no Exterior, membro das Academias Paraenses de Letras; Letras Jurídicas; de Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará. Exerceu funções de magistrado estadual e atualmente atua como cônsul honorário da República Tcheca na Amazônia.

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