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Desde o último dia 16 de setembro, 19 artistas de várias regiões do Brasil começaram a pintar murais no entorno do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) que, juntos, formarão uma galeria de arte a céu aberto. A iniciativa integra a 3ª edição do Museu de Arte Urbana de Belém (Maub), em parceria inédita com o Goeldi, e marca a preparação do parque para receber visitantes durante a COP30.

A inauguração oficial das obras muralistas acontece no dia 28 de setembro, na Avenida Magalhães Barata, com música, feira criativa e atividades educativas comunitárias. Cinco dias depois, em 3 de outubro, o Parque Zoobotânico reabre suas portas após período de manutenção. A retomada da visitação será marcada também pela exposição ao ar livre “Um Rio Não Nasce Sozinho”, do Instituto Tomie Ohtake.

O diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, ressaltou a importância de unir arte urbana, ciência e educação na preservação do patrimônio:

“Os muros estão sendo pintados por um seleto grupo de artistas para promover a inter-relação entre ciência, cultura, arte urbana e educação. Os temas dialogam com a sociobiodiversidade amazônica, com a qual trabalhamos há quase 160 anos. Queremos mostrar que estamos preparados para manter a instituição viva no século XXI”.

Entre os artistas selecionados está o parauara Dedéh Farias, que iniciou os trabalhos na Travessa Nove de Janeiro com um leiaute inspirado na arqueologia e nas pinturas rupestres “A gente começa pelo grid, que é uma marcação de formas, que são basicamente aleatórias. É mais pra gente ter uma base do fundo onde a gente vai poder aplicar o desenho pra conseguir colocar na proporção certinha, de acordo com o que a gente criou no nosso leiaute. O meu leiaute aborda a arqueologia, pinturas rupestres. Vou trazer esse tema que é muito sobre a memória da gente, sobre a nossa ancestralidade”, explicou. Outros nomes de destaque incluem Éder Oliveira, conhecido por retratos críticos da identidade amazônica, Cely Feliz, criadora do “Caboclofuturismo”, e o manauara Alessandro Hipz, que mistura hip-hop, HQs e cultura amazônica.

Além do Parque Zoobotânico, os murais também ganharão espaço no Campus de Pesquisa do Goeldi, na Avenida Perimetral, no bairro da Terra Firme. O projeto é realizado pelas produtoras Sonique e Oito Quatro, aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura com patrocínio da Vale, via Lei Rouanet, e chancela do Ministério da Cultura. Para o idealizador do Maub, Gibson Massoud, a parceria reforça a vocação educativa e comunitária da arte urbana: “Nesta edição especial, os artistas criam obras que conectam ciência, cultura popular e arte muralista, consolidando o Maub como um dos maiores museus a céu aberto do Brasil”.

Enquanto os muros recebem arte, o interior do Parque conclui as reformas iniciadas em 18 de agosto. Foram realizadas manutenções em cinco recintos de animais (da ariranha, jacaré-açu, onça-pintada, tartaruga-da-Amazônia e o novo lago dos pirarucus, que substitui o antigo do peixe-boi) e em sete prédios históricos, entre eles quatro chalés tombados pelo Iphan, a Biblioteca Clara Maria Galvão, o Auditório Alexandre Rodrigues Ferreira, a Rocinha e a portaria de entrada.

Segundo o coordenador de Administração do MPEG, Humberto Júnior Queiroz Costa, os serviços incluem reparos estruturais, pintura, adequações elétricas e hidráulicas, além da modernização dos banheiros. “Os viveiros da onça e dos pirarucus estão passando por reformas maiores, mais visíveis. Já os demais estão recebendo manutenções, como troca e recuperação de gradis, corrimãos e parapeitos. Quanto aos prédios, nesta etapa, eles estão recebendo limpeza, pintura, pequenos reparos na estrutura, nas esquadrias e nas instalações elétricas e hidráulicas, além da adequação dos banheiros. O objetivo é deixá-los funcionais e prontos para serem ocupados durante a COP30, quando o Museu recebe delegações e eventos paralelos”, explicou.

Após a COP30, o Goeldi dará início a uma etapa mais ampla de restauração, com investimento de R$ 20 milhões, viabilizados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) via Finep. As obras incluem reforço estrutural, restauro arquitetônico e recuperação de elementos artísticos dos prédios históricos. Outro feito será a restauração da Casa Goeldi, em parceria com a Embaixada da Suíça e o programa ProGoeldi. A previsão é que as entregas coincidam com as comemorações dos 160 anos da instituição, em 2026.

Os artistas selecionados para o MAUB – Edição Especial Museu Goeldi são:

  • Alessandro Hipz (AM) – Autodidata, o artista manauara une influências do hip-hop, HQs e da cultura amazônica, criando murais poéticos sobre a mulher amazônica e crenças populares
  • And Santtos (PA) – Nascido em São Caetano de Odivelas, criou o movimento “Odivelismo”, que mistura realismo e surrealismo para retratar a identidade cultural amazônica
  • Cely Feliz (PA) – Pioneira do “Caboclofuturismo”, transforma grafismos marajoaras e narrativas ribeirinhas em murais-rituais, afirmando-se como artista-pajé urbana
  • Kekel (PA) – Marajoara, destaca-se pelo reaproveitamento de madeira de barcos em esculturas, letras e peças únicas, conectando tradição e sustentabilidade
  • Graf (PA) – Natural de Belém, iniciou na pixação em 2002 e hoje valoriza ancestralidade afro-indígena em murais que retratam fauna e flora amazônicas
  • Wira Tini (AM) – Kokama de Manaus, fundadora do Graffiti Queens, conecta saberes ancestrais e cultura urbana em obras que dialogam com meio ambiente e identidade indígena
  • Deco Treco (SP) – Paulistano, cria universos pop surrealistas cheios de humor e nonsense, com murais que já circularam pelo Brasil, Europa e América do Sul
  • Wes Gama (GO) – Autodidata, trabalha com o conceito de “Caipira Futurista”, refletindo sobre relações raciais, ambientais e a ancestralidade por meio de murais poéticos
  • Ayala (PA) – Paraense, dedica-se ao string art e ao muralismo, criando obras autorais inspiradas na estética amazônica e em memórias afetivas regionais
  • João Nove – Digital Orgânico (SP) – Une natureza e tecnologia em murais de grande escala, com destaque para obras no Brasil, EUA, Europa e Canadá
  • Éder Oliveira (PA) – Reconhecido por retratos que refletem identidade e violência social, o paraense é referência nacional com obras de forte impacto crítico
  • Chico Ribeiro (AP/PA) – Jovem artista amapaense radicado no Pará, pesquisa pintura em contextos periféricos, trazendo retratos sensíveis do cotidiano amazônico
  • Alex Senna (SP) – Com sua estética em preto e branco, já levou seus murais poéticos para 24 países, abordando afeto, amor e vida urbana
  • Lenu (PA) – Paraense, há mais de 15 anos desenvolve obras que transitam entre surrealismo amazônico e educação artística, valorizando pertencimento e identidade
  • Dudi Rodrigues (PA) – Muralista autodidata de Belém, iniciou profissionalmente em 2022 e expressa vivências e crenças em obras acessíveis e transformadoras
  • Dedéh Farias (PA) – Artista da periferia de Belém, atua desde 2009 no muralismo e artes visuais, destacando cores vibrantes e o imaginário amazônico em obras de grande escala.
  • Amanda Nunes (DF/CE) – Nascida na Ceilândia, explora arte sacra e surrealismo, com obras já exibidas na SPFW e acervo da Pinacoteca Estadual do Ceará
  • Dannoelly Cardoso (PA) – Bragantina, muralista e educadora, retrata memórias ribeirinhas e rostos amazônidas em diálogo entre realismo e contemporaneidade
  • Gabz & Tsssrex (PA) – Dupla paraense, com experiências no graffiti desde 2004, unem juventude e maturidade em murais vibrantes que reafirmam identidade e resistência.

ImagemAdrya Marinho, Anna de Souza e Vitória Santana / Ascom MPEG

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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