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Na última sexta-feira, 29 de agosto, a Galeria Kamara Kó (Rua Boaventura da Silva, 711), inaugurou em Belém a Mostra Fototaxistas, uma exposição coletiva que mergulha na experimentação fotográfica e na potência da criação coletiva. A mostra, que tem suas visitações gratuitas abertas de segunda a sexta, das 10h às 18h, até 30 de setembro, apresenta os resultados do Lab Fototaxia – Laboratório de Experimentação Fotográfica, idealizado pelo fotógrafo Miguel Chikaoka e produzido por Makiko Akao, com realização viabilizada por meio do edital PNAB – Lei Aldir Blanc (Edital 004/2024).

O projeto, que se desenvolveu entre abril e agosto de 2025, reuniu 30 participantes de diversos coletivos e territórios do Pará, compondo um mosaico diverso de trajetórias artísticas, vivências sociais e culturais. Desde sua convocatória, construída com base em escuta ativa e pertencimento, o Lab Fototaxia se constituiu como um espaço plural, com integrantes LGBTQIAPN+, quilombolas, artistas negros, comunicadores populares, professores, arte-educadores e produtores culturais.

O laboratório transformou-se em um exercício de percepção, memória e invenção coletiva. Os encontros envolveram a construção de câmeras artesanais, experimentações com pinhole, jogos de luz e sombra, práticas de fotografia mental e desenho, além de processos manuais de revelação. Foi, para muitos, um verdadeiro desaprender para reaprender a olhar.

“A mostra é como um espelho da nossa vivência: reúne fragmentos de processos, descobertas e até incertezas que fomos experimentando ao longo da imersão”, resume Camila Serrão, uma das participantes do projeto. A exposição, concebida de forma colaborativa, costura fotografias, objetos e registros audiovisuais, compondo um percurso sensível que respeita a singularidade de cada obra, mas evidencia sobretudo a força do coletivo.

A metodologia de Miguel Chikaoka, reconhecida por sua abordagem pedagógica singular, apelidada de “pedagogia da luz”, guiou todo o processo. Com mais de quatro décadas de atuação na Amazônia, o fotógrafo acredita no poder da simplicidade e da escuta. “Trabalhamos em um ambiente coletivo, onde a fotografia foi quase uma desculpa, tendo como foco o fazer, o engajamento, a escuta, o reconhecimento do lugar da luz e como ela se apresenta aos nossos olhos”, reflete Chikaoka.

Para Renée Miranda, participante do laboratório, o que se aprendeu foi muito mais do que técnicas fotográficas: “De forma simples, ele mostra que a luz está em tudo e como podemos nos apropriar dela, eternizando em formas. Foi um exercício de olhar, de paciência com o processo e de compreender que não existe certo ou errado, tudo é experimento”.

O tom lúdico também foi um diferencial. “Cada atividade parecia uma grande brincadeira. Construir a câmera escura, brincar de capturar a luz com a Pinhole, revelar imagens… Aprendi a respeitar o tempo das coisas e a experimentar outras formas de fotografar”, relata Amanda Ferreira. “Espero que o público perceba essa relação que tivemos com a luz, esse construir brincando”.

O próprio nome da mostra, “Fototaxistas”, foi escolhido pelos participantes, fazendo referência ao conceito biológico de fototaxia, que é o movimento de organismos em resposta à luz. No contexto do projeto, o termo foi ressignificado como um deslocamento sensível em direção à luz, em todos os seus sentidos simbólicos e práticos. Ao adotá-lo, o grupo traduziu o espírito da vivência: um processo de aprendizado coletivo, movido pelo desejo de experimentar, criar e compartilhar.

A Mostra Fototaxistas convida o público a mergulhar nesse percurso, atravessando não apenas as imagens e objetos expostos, mas também os gestos, trocas e descobertas que os geraram. É um convite à contemplação do processo como obra, à valorização da criação como um caminho em si, feito de luz, sombra, encontros e escutas.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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