Publicado em: 22 de julho de 2025
É completamente atônita que escrevo a notícia de que o “príncipe das trevas” seguiu para a luz. A família de Ozzy Osbourne, ícone do metal e vocalista da banda Black Sabbath, anunciou nesta manhã a morte do cantor, aos 76 anos. Em comunicado, os familiares afirmaram: “É com mais tristeza do que as palavras podem expressar que temos de informar que nosso amado Ozzy Osbourne faleceu esta manhã. Ele estava com a família, cercado de amor. Pedimos a todos que respeitem a privacidade da família neste momento.” A causa da morte não foi divulgada, embora fosse público e notório que Ozzy enfrentasse problemas de saúde nos últimos anos, incluindo um diagnóstico de Parkinson, complicações na coluna e diversas cirurgias.
A notícia chega menos de três semanas após o histórico show de despedida do Black Sabbath, realizado em 5 de julho no Villa Park, em Aston, bairro natal do cantor em Birmingham, Inglaterra. Na ocasião, o evento “Back to the Beginning” marcou a primeira vez em 20 anos que Osbourne se apresentou ao lado da formação original da banda. Eu assisti o concerto da banda que foi e é a minha referência musical desde a infância, em São Paulo, em 2016, sem o baterista Bill Ward. Não consigo nem lembrar exatamente do tamanho da minha felicidade, da corrida até a grade do palco, ao lado da minha amiga Rafaela, ao ouvirmos os sinos introdutórios de Black Sabbath ou o duplo twist carpado que inventei em Children of the Grave. Também tive a oportunidade de vê-lo na carreira solo, quando a banda que o acompanhava tinha o guitarrista Zakk Wylde (Black Label Society) e o baixista Robert Trujillo (Metallica).
O concerto reuniu 40 mil pessoas no estádio e milhões em transmissão online, contando ainda com participações de grandes nomes do rock, como Billy Corgan, Steven Tyler, Tom Morello, Ronnie Wood e Yungblud. Segundo Tom Morello (Rage Agains the Machine, Audioslave, Prophets of Rage, The Nightwatchman, etc), diretor musical do evento, a apresentação arrecadou cerca de 140 milhões de libras para instituições de caridade. Um filme-concerto que celebra a trajetória de Osbourne e do Black Sabbath está previsto para 2026.
Nascido John Michael Osbourne, em 3 de dezembro de 1948, em Aston, Birmingham, Ozzy teve uma infância difícil, marcada pela pobreza, abuso sexual na infância e pequenos delitos que o levaram à prisão ainda jovem. Foi ao lado do amigo de escola Geezer Butler que começou a trilhar sua carreira musical, formando bandas de blues e rock até fundar o Black Sabbath com Tony Iommi e Bill Ward. A sonoridade pesada, inspirada no ambiente industrial de Birmingham, moldou o heavy metal e revolucionou a música britânica e mundial. Álbuns como Black Sabbath (1970), Paranoid (1970) e Master of Reality (1971) tornaram-se pilares do gênero, e clássicos como Iron Man e War Pigs tornaram-se referências na cultura pop.
Demônios pessoais acompanharam seu sucesso. O abuso de drogas e álcool culminou em sua saída do Black Sabbath em 1979, sendo substituído por Ronnie James Dio. Ainda assim, Ozzy construiu uma bem-sucedida carreira solo, iniciada com o álbum Blizzard of Ozz (1980), que vendeu milhões de cópias e apresentou hinos como Crazy Train e Mr. Crowley, escritos em parceria com o lendário guitarrista Randy Rhoads, que morreu em um trágico acidente de avião durante uma turnê acompanhando o madman, em 1982 ( a minha guitarra elétrica é uma The Jackson Rhoads, modelo que virou um ícone do heavy metal por causa de Rhoads). Ao longo da carreira solo, Ozzy lançou 11 discos de estúdio, incluindo Ordinary Man (2020), com colaborações de Post Malone, Travis Scott e Elton John.
Ozzy também protagonizou momentos controversos, como o episódio em que mordeu a cabeça de um morcego durante um show em 1982, acreditando que fosse um adereço cênico. A imagem do “Príncipe das Trevas” foi reforçada por gestos excêntricos, como arrancar a cabeça de duas pombas em uma reunião com executivos de gravadora em 1981, o que lhe rendeu fama e escândalos.
Em 2002, o reality show The Osbournes, exibido pela MTV, levou o cotidiano de Ozzy, sua esposa Sharon e os filhos Kelly e Jack para milhões de lares, tornando-se um fenômeno cultural e vencedora de um Emmy. O programa mostrou tanto o humor caótico da família quanto momentos de vulnerabilidade, como a luta de Sharon contra o câncer e o grave acidente de quadriciclo que quase matou Ozzy em 2003.
Osbourne teve dois filhos, Jessica e Louis, com sua primeira esposa, Thelma Mayfair, antes de se casar com Sharon em 1982. Com Sharon, teve três filhos: Aimee, Kelly e Jack. O casal viveu crises públicas, incluindo um episódio em 1989, quando Ozzy foi preso por tentar estrangular Sharon durante um surto causado por álcool e drogas. Apesar de tudo, Sharon foi essencial para consolidar a carreira do cantor, tanto no gerenciamento da sua carreira solo quanto na criação do festival Ozzfest, em 1996, que se tornou um marco do metal mundial.
Nos últimos anos, Ozzy lutou contra problemas de saúde debilitantes. Diagnosticado com uma forma de Parkinson em 2020, ele enfrentou sucessivas cirurgias na coluna após um acidente doméstico em 2019. Em 2023, cancelou sua última turnê devido à fraqueza física, mas ainda se apresentou no encerramento dos Jogos da Commonwealth em Birmingham em 2022, com uma performance emocionante de Paranoid.
Sua última aparição pública nos palcos, no show de despedida do Black Sabbath, simbolizou a resistência de um artista que, mesmo debilitado, jamais perdeu o vínculo com os fãs. “Obrigado do fundo do meu coração. Sou o Homem de Ferro: enlouqueçam!”, declarou ao público, sentado em um trono adornado com morcegos, em uma imagem que sintetiza a força e a teatralidade de sua trajetória.
Ozzy Osbourne deixa um legado imortal como um dos maiores nomes da história da música. A foto que ilustra este texto está até hoje emoldurada, no meu quarto de adolescente na casa da minha mãe. Com sua voz inconfundível, presença de palco bem doida, jogando baldes de água fria que deixavam o público ainda mais elétrico, e uma vida repleta de altos e baixos, ele moldou o heavy metal e influenciou gerações de músicos e fãs ao redor do mundo. Certamente a minha.
“Is it the end, my friend?
Satan’s coming ‘round the bend
People running ‘cause they’re scared
The people better go and beware!
No, no, oh, God, no!”
Rest in Power, Ozzy!
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