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Há muito um filme não me emocionava tanto. Chorei rios. “Maudie” é sobre a vida de uma pintora que mora na Nova Escócia, Canadá. História real. Uma mulher que nasceu com alguns problemas físicos, andar vacilante, pequena e frágil, tratada como “esquisita” pela família, que dela livrou-se e guardou um segredo terrível, muitos anos depois revelado. Ela vê um anúncio precisando de uma empregada. Vai e encontra Ethan Hawk, no papel de um homem solitário, grosseiro, teimoso e estúpido. Mora em um barraco no meio do nada, dois andares, dois aposentos. Os primeiros dias são de hostilidade total. Ela suporta sempre mantendo um tom doce, amoroso e servil. Ele passa o dia fora. Em casa, trancada, ela olha para a parede e começa a pintar. Passa a pequenos postais. Alguém percebe e pede quadros maiores. Ethan se irrita. Mas passa. Dormem juntos na mesma cama. Ele quer sexo. Ela pede casamento. Um dia, casam. São estranhos. Casal esquisito. Agora vêm a televisão e revistas entrevistar. Ele se aborrece por ser visto do seu jeito embrutecido. Agora pinta sem parar. “Eu vejo o todo da vida, já enquadrado. Nunca vou a nenhum lugar. Pinto as lembranças ou então invento”. A atuação de Sally Hawkins é comovedora nos pequenos gestos e olhares. No cuidado ao mostrar mãos e pés deteriorando pela artrite. O frio intenso do inverno com neve de metros de profundidade. Eu conheço alguém “esquisito”. Problemas no parto. Sei o que é querer ser amado, visto como normal. É normal. Fala idiomas, já trabalhou como “handcup”, cheio de ternura, amor. Ele sofreu, mas hoje está feliz, muito feliz. Sim, o grito de amor que Maudie lança para todos os lados, a este mundo tão hostil para com ela é irresistível. Quando mais o marido é estúpido, grosseiro, e apaixonado, ela resiste com sua doçura. E ainda há o grande segredo revelado quase no final. Como pode o mundo tratar uma pessoa desta maneira e obter como resposta, amor, romantismo, doçura e quadros maravilhosos? É preciso ter uma alma poderosa, ser superior, mais normal do que todos os que pensam ser normais. Ethan sabe que não pode viver sem Sally. No filme ele é Everett e ela, Maudie. Belíssimo trabalho de atores. De vez em quando vale assistir a um filme tão lindo como esse. E é incrível como a arte, a qualidade do artista sempre aparece. Ela mora em um barraco no meio do nada e expõe ali mesmo, seus quadros. Foi notada. Sua arte, o brilho de seu cérebro e de sua alma, ultrapassaram todos os limites. Recomendo “Maudie”, na Netflix.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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