Publicado em: 10 de julho de 2025
A Academia Paraense de Letras elegeu ontem (9) à noite a escritora Márcia Duailibe Forte para a cadeira de nº 13, patronímica de Dom Romualdo de Seixas, cujo último ocupante foi Raymundo Mário Sobral. Atuaram como pareceristas os acadêmicos Salomão Habib, Edy-Lamar de Oliveira e Ernane Malato. A Comissão Eleitoral é integrada por Franssinete Florenzano (presidente), Cláudio Guilhon e Benedito Wilson Sá e funcionaram como escrutinadoras Betânia Fidalgo Arroyo e Edy-Lamar de Oliveira. A votação começou às 9h e se estendeu até às 18h, pelo sistema Vota Net do TRE, WhatsApp e presencial. A APL é presidida por Ivanildo Alves, que tem na vice-presidência Leonam Cruz Jr. e na 1ª Secretaria Nazaré Mello Uchoa.
Em seu parecer, a escritora Edy-Lamar expressou a inequívoca importância da figura feminina, tão desproporcional em número ao elemento masculino na Academia. E enfatizou que Márcia, “dedicada às crianças através da criação, não se limitou ao brilho que o espaço literário favorece. Ela foi além; vestiu a fantasia da alegria de modo a prover a necessidade de uma atuação mais profunda, mais humana, mais presente, mais direta, no colorido forte e vivo da Palhaçaria”.
Márcia Duailibe Forte é escritora com ênfase em Literatura Infantil, musicista, compositora, atua como diretora de imagem e está se especializando em Palhaçaria. Autora dos livros Os Três Porquinhos e o Lobo Esportista; Nas Entrelinhas do Hino Nacional; e Belém – Uma Cidade Amazônica. Sobre Um Encontro Musical (ainda no prelo), Edy-Lamar pontuou que a obra a surpreendeu pela suavidade e a novidade musical adotada em cada exemplo dos sons de vários instrumentos abordados isoladamente pela autora, na apresentação de cada um desses dispositivos musicais ao leitor infantil. “Nesse trabalho a musicista associou-se à escritora, criando uma sonoridade literária capaz de encantar crianças e adultos com sensibilidade”.
“As suas várias habilitações, formação musical e a arte da Palhaçaria, para mim, uma agradável surpresa. A Palhaçaria como forma de arte e expressão, adquiriu, ao longo dos séculos, uma significação de grande relevância em diversos contextos, desde o entretenimento, à educação e à função social. Trata-se de uma forma de arte muito antiga, milenar, desde portadores de deformidades – os Bufões, os Bobos da Corte -, não raro sacrificados quando não atingiam o objetivo de alegrar o espectador principal do Castelo, onde tinham seu pequeno espaço. Esse é um aspecto triste da associação do riso ou da falta dele, à dor. Por esses fatos sombrios, muitos Bufões e Bobos, bem como os deformados – a exemplo da famosa criação de Victor Hugo, “O Homem Que Ri”, saíram pelo mundo, na esperança de ganhar a própria sobrevivência, oferecendo alegria; falsa ou verdadeira, não importava. Viver era preciso; fugir da morte, também. Assim surgiram as lonas para proteção contra as intempéries e esses nobres estimuladores do riso atravessaram continentes, evoluíram sua arte, propagaram-na e conseguiram conquistar para seu tablado, itinerante ou não, um significado mais humano, mais profundo e muito mais amplo. Obviamente, o histórico da Palhaçaria é extenso, pleno de dores, torturas, injustiças, mas também com registros positivos sobre seus êxitos. Trazendo para a nossa contemporaneidade, importa lembrar que a Palhaçaria promove a alegria, a descontração, a conexão humana, além de estimular a criatividade, a improvisação e a capacidade de lidar com o erro, eis que é exatamente nas sequências de tentativas frustradas dos palhaços que reside o atrativo para despertar o riso; é uma arte cômica, a divertir e entreter todas as idades. Os palhaços criam laços invisíveis com o público, utilizando as linguagens do corpo, da face, e a interação textual, musical, visual, para estabelecer a genuína conexão, muitas vezes pela capacidade do improviso. A Arte da Palhaçaria mostra e explica que o erro faz parte da vida e que é possível aprender a crescer com a própria fragilidade. Essa arte alcançou tanta importância, lamentavelmente pouco reconhecida em seu valor dentro da massa social, que hodiernamente existe e aplica-se quase que diariamente a “Palhaçoterapia” como veículo de bem-estar emocional de pacientes e familiares, eis que o picadeiro da vida comporta tragédias, sendo a comédia uma importante ajuda psicológica, e tem sido utilizada com sucesso em hospitais e outras instituições de saúde, cumprindo uma bela função social diante da dor pela doença ou pela perda. A “Palhaçoterapia” pode ser aplicada como ferramenta pedagógica, para ensinar de maneira lúdica, promovendo a interação, a colaboração e a aceitação das diferenças. É uma arte milenar sobrevivendo, progredindo e se reinventando conforme o mundo se transforma. Palhaços são trabalhadores da cultura, presentes no imaginário da humanidade, adulta ou infantil. Todos precisam do riso e da lágrima para expor emoções. A Palhaçaria contribui para a construção de um mundo melhor, mais bonito, pela intervenção positiva da arte da graça, da possibilidade de ser feliz ao menos por uma fração de tempo, dentro das regras sombrias da vida. A candidata Márcia Duailibe tem nota máxima no meu conceito, por mais esse nobre viés da sua personalidade e do seu talento. Entendo que reúne méritos para a nossa Casa”, concluiu Edy-Lamar de Oliveira em seu muito aplaudido parecer.
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