Marajoara de 110 anos devota do Glorioso São Sebastião

A veneranda senhora Dona Alcinda Lopes da Silva é nascida e criada na comunidade do Rio Ipauçu do Igarapé do Puca, município de Ponta de Pedras. Aos 110 anos, ainda lúcida, é devota do Glorioso São Sebastião e, na noite do último dia 21, participou, na residência do casal Gilberto e Maria Joana, da peregrinação do santo flexado, que o povo do arquipélago do Marajó respeita profundamente e que irmana seguidores dos voduns e orixás, católicos, evangélicos, espíritas e adeptos dos caruanas da pajelança marajoara.

A devoção ao santo faz parte da identidade cultural marajoara, representa a diversidade e a singularidade da região, a forma como se estrutura e se desenvolve por meio de elementos próprios. As Festividades do Glorioso São Sebastião na Região do Marajó foram registradas como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan em 2013, a pedido do Museu do Marajó, com apoio da Irmandade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari e anuência dos outros municípios do arquipélago. A manifestação cultural também é reconhecida como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Pará.

A festividade atrai centenas de visitantes para as procissões, ladainhas, danças nos barracões, levantação do mastro e arraiais, além dos eventos esportivos, como a luta marajoara. Nos meses que precedem a festa ocorrem as esmolações, com coleta de donativos para a realização dos festejos. Folias e ladainhas expressam o forte sentimento de fé da população local, mesclando elementos do catolicismo oficial com a pajelança cabocla.

O ritual com a imagem peregrina e os foliões ocorre em Belém desde 2001 e é reconhecido pelo Iphan como ação de salvaguarda das Festividades do Glorioso São Sebastião no Arquipélago do Marajó. Recentemente foi recebido em noite cultural inédita na Academia Paraense de Letras.

Ponta de Pedras, município de grande beleza cênica e de tradição cultural, principalmente na música, cerâmica e literatura, é a cidade natal do escritor parauara Dalcídio Jurandir, cujas obras retratam a vida no arquipélago do Marajó, um mundo que ganhou o mundo.