Publicado em: 30 de julho de 2025
O The New York Times publicou hoje, 30 de julho de 2025, a primeira entrevista com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 13 anos. Seu posicionamento é claro: o Brasil pretende ocupar um espaço de protagonismo político global, rejeitando posturas de subserviência diante de potências como os Estados Unidos. Lula deixou explícito que não aceitará “ordens” de Donald Trump, que ameaça impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, a partir do próximo dia 1º de agosto, como forma de pressionar o governo a abandonar o processo criminal contra Jair Bolsonaro.
O tom adotado por Lula, apesar de diplomático, é uma resposta direta à tentativa de instrumentalização política do comércio internacional. Trump tem assumido, como de praxe, uma postura agressiva, dessa vez em defesa do aliado Bolsonaro, que enfrenta acusações graves no Brasil por tentar subverter o resultado das eleições de 2022. Lula deixou claro: “Aqui, a Justiça é independente”.
A entrevista demonstra que Lula não está disposto a aceitar imposições econômicas que comprometam a soberania brasileira. Ele afirmou categoricamente que “seriedade não exige subserviência”. O presidente brasileiro ressaltou que o Brasil reconhece o poder econômico, militar e tecnológico dos Estados Unidos, mas não se curvará como “um país pequeno frente a um grande”.
Segundo o NY Times, “o presidente do Brasil — um líder de esquerda em seu terceiro mandato e que é, possivelmente, o mais importante estadista latino-americano deste século — vem rebatendo o Sr. Trump em discursos por todo o país. Suas páginas nas redes sociais passaram a ser inundadas por referências à soberania do Brasil. E ele adotou o uso de um boné com a frase ‘O Brasil pertence aos brasileiros’”.
É relevante lembrar que a relação entre Lula e os EUA atravessa um momento de tensão incomum. Ao longo de seus governos anteriores, Lula manteve boas relações com líderes estadunidenses, incluindo George W. Bush e Barack Obama, com quem cultivou uma diplomacia baseada em pragmatismo. No entanto, Trump representa o oposto, com uma agenda nacionalista agressiva, marcada por ataques frontais à diplomacia tradicional.
Trump ameaça impor tarifas que podem afetar produtos como café, carne e suco de laranja, ignorando o fato de que os próprios consumidores estadunidenses serão penalizados com preços mais altos. Lula destacou que nenhum dos dois povos merece isso. Em um momento de turbulência econômica global, tal atitude soa como mais uma jogada política, especialmente porque, ao contrário de outros embates comerciais, este é motivado por razões pessoais e políticas, não econômicas.
A entrevista também evidencia o quanto Bolsonaro se tornou um ponto de conflito entre Brasília e Washington. O ex-presidente brasileiro, agora réu em processos que podem levá-lo à prisão por décadas, aposta no apoio político de Trump para tentar escapar da Justiça. Essa relação, marcada pela semelhança ideológica e pelos ataques às instituições democráticas, torna-se um fator de instabilidade internacional.
Trump não esconde sua intenção de interferir. Em carta enviada a Lula, o estadunidense classificou o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas”, expressão esta já usada em referência a seus próprios processos nos EUA. Lula respondeu de forma contundente, criticando a falta de diplomacia: “Quando há um problema político ou comercial, você pega o telefone e conversa. Não é assim que se resolve taxando e dando ultimatos”.
Outro ponto forte da entrevista é a defesa de Lula do Estado democrático de direito, que ele classificou como “sagrado”, lembrando que o Brasil já viveu ditaduras e não aceitará retrocessos. Ao afirmar que, se o episódio do Capitólio (6 de janeiro de 2021) tivesse acontecido no Brasil, Trump estaria sendo processado como Bolsonaro, Lula expôs a diferença entre as respostas institucionais dos dois países aos ataques antidemocráticos.
O embate com Trump não é apenas uma disputa econômica. Ele coloca em pauta o papel do Brasil no cenário internacional. Lula não abre mão de defender que o país não é um “coadjuvante” e pode estabelecer suas próprias diretrizes de política externa, mesmo em um contexto de pressões vindas da maior potência econômica do mundo.
O NY Times, nitidamente, quer que os cidadãos dos EUA entendam que as tarifas prejudicam ambos os lados. Lula, ao que tudo indica, continuará firme em seu posicionamento de que Brasil não aceitará interferências políticas em seu sistema judicial. Ainda bem.
Foto: Reprodução / The New York Times / Victor Moriyama
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