Publicado em: 8 de abril de 2025
Em um auditório lotado por lideranças, estudantes, professores e representantes institucionais, a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) celebrou, na última quinta-feira, 3 de abril, um momento histórico: a aula inaugural da primeira turma da Licenciatura Intercultural Indígena, curso recém-criado pelo Instituto de Formação Interdisciplinar e Intercultural (IFII), com todas as vagas preenchidas no Processo Seletivo 2025. O evento também marcou a recepção aos calouros da Formação Básica Indígena (FAIN), estimulando o protagonismo dos povos originários no espaço acadêmico e no projeto de educação pública na Amazônia.
A solenidade aconteceu no auditório da unidade Tapajós da Ufopa, em Santarém, e reuniu representantes de diversas etnias, coletivos acadêmicos indígenas e órgãos públicos, ratificando a construção coletiva e democrática da formação intercultural na região.
A aula magna, com o tema “Avanços e Desafios da Educação Indígena na Amazônia”, foi ministrada por Rosilene Tuxá, diretora de Políticas de Educação Escolar Indígena da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (SECADI/MEC). Ela é, ela própria, fruto de uma licenciatura intercultural.
“Não é comum uma licenciatura intercultural iniciar com três indígenas no quadro de docentes. A Ufopa tem um papel primordial na formação de professores indígenas. Não pode haver distância entre a educação básica e a formação docente, e esse curso ajuda a construir essa ponte.”
Em sua fala de abertura, a reitora da Ufopa, professora Aldenize Xavier, enfatizou o ineditismo e o impacto do novo curso, parabenizando a professora Luanna Cardoso Oliveira (IFII), primeira mulher indígena a compor o corpo docente da universidade.
“Começar um curso novo é sempre um marco. Mas iniciar um curso como este é um ato de valorização dos saberes indígenas e de tudo que vocês trazem de seus territórios — sejam conhecimentos científicos, culturais ou espirituais. A universidade tem agora a missão de aprender com vocês.”
A reitora ainda anunciou o compromisso institucional de expandir a atuação do IFII: “estamos assumindo o compromisso de ofertar um curso na cidade de Jacareacanga, ampliando ainda mais o alcance da formação superior indígena”.
A abertura do evento teve apresentação cultural do grupo Encantos do Tapajós, que trouxe aos presentes a coreografia dos carimboleiros do Boto Tucuxi, tradicional manifestação de Alter do Chão.
Durante a cerimônia, foram firmadas duas parcerias fundamentais para o curso: um termo de cooperação entre a Ufopa e a Funai, para apoio à realização de atividades de extensão com foco nos povos indígenas, e um plano de trabalho conjunto entre a Ufopa e o Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind), vinculado ao MEC. As assinaturas contaram com a presença de André Ramos, representante da Funai em Brasília, e de Geraldo Dias, da Funai em Santarém.
Entre os calouros da licenciatura está Margareth Maitapu, coordenadora do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), que falou com emoção sobre os desafios de conciliar a militância com a vida acadêmica:
“Vai ser desafiador, mas nossa tendência é ocupar cada vez mais esses espaços. A universidade é lugar de reafirmação. Queremos voltar às nossas bases e formar novas lideranças, pessoas que conheçam o mundo e fortaleçam nossos territórios.”
Estiveram presentes ao evento lideranças estudantis indígenas como Genildo Amâncio Kaba Munduruku (CEIMAMT), Alcemi Waiwai (CAICAN), Josiane Tupinambá (DAIN), Poró Borari, coordenador da Educação Escolar Indígena e ex-aluno da Ufopa, além de docentes e técnicos do IFII, como a coordenadora do curso, professora Euricléia Galúcio, o vice-coordenador e coordenador de Saberes Indígenas, professor Abimael Munduruku, e os diretores prof. Raimundo Valdomiro de Sousa e profa. Sandra Silva.
A Licenciatura Intercultural Indígena da Ufopa é uma aliada na resistência e reconstrução dos direitos dos povos indígenas, oferecendo um percurso formativo que articula conhecimentos tradicionais, pedagogias pluriepistêmicas e atuação crítica nas comunidades de origem. A primeira turma oficialmente em aula e o apoio de diversas instituições é uma firmação do papel da universidade pública como espaço de diálogo, emancipação e protagonismo indígena na Amazônia brasileira.
Foto em destaque: Lenne Santos / Ufopa
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