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Um dos mais brilhantes docentes e pesquisadores da Universidade Federal do Pará, falecido em 11 de novembro do ano passado, Jean Hébètte foi agraciado pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará na quarta-feira, 15 de fevereiro, com o título de cidadão paraense, in memoriam. A data não foi escolhida ao caso: seria o dia de seu 92º aniversário. 

Jean Hébètte viveu 46 anos na Amazônia. Ao longo de mais de três décadas, contribuiu sucessivamente com o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), o Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural (NCADR) e com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), na UFPA, construindo uma obra sólida e coerente sobre o campesinato amazônida. Na sua extensa produção bibliográfica, há mais de 100 títulos em que foi autor ou coautor, entre eles o aclamado “Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia”. No cenário nacional e internacional, é referência quando o assunto é a Amazônia, região que adotou para viver. 

Hébètte foi fundamental para a criação do curso de Especialização em Agricultura Familiar e Desenvolvimento (DAZ), que até hoje forma pessoas no atual Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural da UFPA. 

A iniciativa da homenagem, intitulada “Vida e Obra de Jean Hébètte”, foi do deputado Airton Faleiro(PT), que vivenciou momentos significativos junto ao professor. O agrônomo Emmanuel Wanbergue, escolhido para receber a condecoração, emocionou a todos ao destacar o ensinamento mais relevante que aprendeu com o amigo. “Entre os ensinamentos que aprendi com o Jean, destaco a noção que ele ensinou pra nós, no campesinato, sobre ser cidadão“. Ao final da audiência pública na Alepa, os presentes comemoraram, simbolicamente, o aniversário do pensador que deixou enorme contribuição aos temas que envolvem campesinato, meio ambiente, reforma agrária e fronteira amazônica. 

Em seu pronunciamento, Airton Faleiro acentuou que Jean Hébètte veio para o Brasil e dedicou toda sua vida à produção de conhecimento sobre a Amazônia.

O legado de Hébètte ao desenvolvimento social do Estado também foi evidenciado pelo presidente da Alepa, deputado Márcio Miranda(DEM), que sublinhou, ainda, ter sido uma pessoa que dedicou a vida às causas do movimento social e sindical, estando na academia, e que seu exemplo deve inspirar a todos.  

Nascido na Bélgica, Jean Hébètte se ordenou sacerdote aos 24 anos e acumulou doutorados em Filosofia e Teologia na França. Atuou no Zaire, Burundi e Ruanda, na África, até chegar a Belém, em 1967, já com 42 anos, na condição de missionário da Ordem dos Oblatos de Maria Imaculada. Aqui, voltou aos bancos escolares para a graduação em Economia e logo que concluiu a especialização, em 1973, abriu nova linha de estudos na região e deslanchou a  carreira de pesquisador e escritor, concentrando sua atenção sobre o mundo rural e, nele, o camponês. 

Emanoel Van Berger, integrante da mesma congregação religiosa, trabalhou com Jean Hébètte em vários momentos na Pastoral da Terra da CNBB Norte II e na academia, por meio do NAEA, e foi o último dos amigos paraenses que o viu com vida, já na Bélgica. Ao visitá-lo em 2014, ele já estava debilitado pela doença, mas o recebeu com o largo sorriso que era a sua marca e conversaram muito em português, que o grande cientista social não falava havia dois anos e contou que, na Bélgica, mesmo sendo seu país de origem, se sentia “um peixe fora da água“, tamanho o amor pelo Brasil e pela Amazônia. 

A foto é de Ozéas Santos.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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