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Não foi só com o cacique Kayapó Raoni Metuktire, maior líder indígena do Brasil, que o presidente Lula arrumou confusão. A cacica Yuna Miriam Tembé, do território indígena I’xing, no Vale do Acará (PA), que reúne diversos povos da Amazônia, abrangendo os municípios de Acará, Bujaru, Concórdia do Pará, Tailândia e Tomé-Açu, também está muito brava. Ela vem aproveitando a COP30 em Belém para denunciar ao mundo violações de direitos fundamentais pelas empresas que produzem biocombustíveis. A líder afirma que essa indústria “não é limpa” e carrega “sangue indígena, negro e ribeirinho”. Yuna conta que só teve acesso à Green Zone e só os indígenas governistas obtiveram credenciamento na Blue Zone.

As mulheres indígenas indubitavelmente assumiram o protagonismo e suas vozes estão se erguendo cada vez mais alto. A BBF, empresa que produz biocombustíveis a partir do dendê na região onde vive a etnia Tembé, há muito tem sido denunciada por violência contra comunidades locais, que inclui destruição de roças, expulsões, perseguições e assassinatos de povos originários.

Desde os anos 1970 grileiros se apropriaram das terras na Amazônia, com madeireiros devastando o território, depois fazendeiros entraram com gado e, em seguida, vieram as grandes empresas de palma, como a Agropalma, que a partir da década de 1980 acumula terras e confrontos. É da palma que se extrai o óleo de dendê, usado na produção de alimentos, cosméticos e biocombustíveis. Por volta de 2008, a ideia de que a monocultura de palma seria uma solução para tirar famílias da pobreza, gerar emprego, renda e desenvolvimento levou o governo federal a incentivar a produção de biodiesel, o que alavancou as plantações na região.

Os povos originários foram expulsos, divididos, espremidos e chamados de invasores em seu próprio território. Parte do dendezal acabou sobreposto a terras indígenas e quilombolas e os conflitos se multiplicaram. A partir de 2020, a situação piorou com a expansão da BBF na região, que comprou da Vale a Biopalma, criada em 2007. Nos últimos 13 anos, quatro indígenas e cinco quilombolas foram assassinados nessa disputa, conforme levantamento feito pela Associação Brasileira de Antropologia.

A BBF alega que exercia a posse da área em disputa de forma “pacífica” e “justa” e nega que tenham ocorrido episódios de espancamento, ameaças ou queima de casas por agentes de segurança. Afirma que existe uma “inversão da narrativa que busca transformar a empresa em a grande vilã” e que os indígenas e quilombolas teriam invadido as terras da empresa após a alta no preço do óleo de dendê com o objetivo de roubar os frutos e vendê-los a concorrentes da região.

Em abril de 2021, o IRQ (Movimento Indígena, Ribeirinho e Quilombola) retomou os territórios e expulsou a BBF, que faliu na região do Vale do Acará.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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