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Ildéia Gualberto de Oliveira veio de Oriximiná a Belém do Pará fazer uma cirurgia de catarata e glaucoma no Hospital Bettina Ferro, da  Universidade Federal do Pará, marcada com meses de antecedência para o dia 13 de fevereiro deste ano. No dia da cirurgia, depois de esperar um bocado para ser chamada, ela foi informada de que não seria atendida, pois era “carnaval”. Como se sabe, a sexta-feira 13 de fevereiro foi dia útil. Ou deveria ter sido, em um hospital universitário que é referência regional em atendimento oftalmológico. Remarcaram para  o dia 20; mas, na nova data, chegando lá, disseram à paciente que dessa vez não poderia ser operada porque o hospital estava sem oxigênio. 

A família da paciente me fez um apelo e contactei, no dia 23 de fevereiro, às 10:55h, a assessoria de comunicação do HUBFS, ponderando ser tal situação revoltante e ferir a dignidade humana. Essa senhora é carente e idosa, veio com muito sacrifício, está numa casa de apoio da prefeitura de Oriximiná, e não pode esperar indefinidamente. Dei o telefone celular do acompanhante da pobre senhora e pedi que resolvessem urgentemente o caso. 

Em 24.02.2015, às 12:43h, via e-mail, a Ascom do Hospital Bettina Ferro/UFPA informou que desde o dia 9 de fevereiro deste ano foi suspensa a realização das cirurgias de Otorrinolaringologia, e, desde o dia 12 do mesmo mês, as de Oftalmologia, que precisam da utilização de oxigênio. A razão é que a empresa Linde Gases, com sede em São Paulo, cujo contrato com o HUBFS terminaria em 25 de março deste ano, comunicou em 29 de janeiro de 2015, via telefone (0800 725 4653), que “não havia mais interesse na continuidade da relação contratual”, interrompendo, de forma abrupta, o fornecimento de gases medicinais para o Bettina Ferro. A partir da quebra de contrato da empresa, o HUBFS teve que suspender as cirurgias nas referidas datas – quando terminaram as reservas de oxigênio do hospital-, e providenciar um contrato emergencial, com duração de seis meses, com nova empresa. Disse que a previsão era que as cirurgias seriam retomadas na semana seguinte e, ainda, que mesmo antes da quebra de contrato feita pela Linde Gases já era viabilizado processo licitatório para contratação de uma nova empresa para prestar o serviço de gases medicinais, no qual está incluso o oxigênio, por um ano ou para mais seis meses. Garantiu que a Central de Regulação de Cirurgias iria contactar a paciente, explicar o ocorrido e remarcar a cirurgia.

Em 25 de fevereiro, às 06:59h, informei de novo à Ascom que o hospital ainda não tinha contactado a paciente, e questionei: se o Bettina sabia desde o dia 29 de janeiro da quebra de contrato, por que pelo menos não avisou seus pacientes, sabendo que todos são pessoas pobres e vêm do interior do Estado? Um mínimo de respeito sempre cai muito bem.

A Ascom informou que a coordenadora da Central de Regulação de Cirurgias, enfermeira Mires Meireles, ligou para os dois números que estão na ficha da paciente (um deles o que eu passei). Justificou, veja só, que ela já tinha ligado para dois números e caído na caixa postal, e depois é que percebeu que ligara com prefixo 91, pois 93 não estava escrito na ficha dela. E pediu que a paciente ou acompanhante ligasse para a Central de Regulação(!) e eu informasse o telefone da casa de apoio onde ela está(!). 

Num hospital que tem uma clientela com 99,99% de pessoas muito carentes e do interior, não saber que para o celular de uma paciente de Oriximiná deve-se ligar o prefixo 93 é de doer. Sem falar que uma pessoa humilde e nessas condições certamente não tem o tino de esclarecer qual o prefixo telefônico, isso é obrigação do hospital providenciar a informação. Bastaria que algum iluminado perguntasse.

Minha intenção não é bater no hospital e sim que as pessoas sejam atendidas (é de se imaginar quantos outros pacientes, igualmente necessitados, estão sofrendo o mesmo drama), mas está claro que a falha é enorme e injustificável. Será que o Magnífico reitor, professor doutor Carlos Maneschy, sabe disso?! Está passando da hora de o Ministério Público Federal agir. Trata-se de recursos públicos federais que, no mínimo, não estão sendo bem gerenciados. E de um serviço vital que não está sendo executado.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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