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A obra “Guia de seleção de árvores ornamentais: paisagismo urbano para a Amazônia”, publicada pela Editora de Livros do Museu Emílio Goeldi (MPEG), foi indicada ao 11º Prêmio da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu), na categoria Ciências Naturais e Matemáticas. O livro, de autoria de Rafael de Paiva Salomão e Nélson Araújo Rosa (in memoriam), concorre com produções de universidades de todo o país e atesta a relevância científica e editorial da instituição parauara no cenário nacional. O resultado será anunciado no próximo dia 25 de novembro, durante cerimónia na Academia Paulista de Letras, em São Paulo.

A publicação, fruto de anos de pesquisa sobre a flora amazônica, propõe-se a orientar técnicos, gestores e planejadores urbanos na escolha de espécies adequadas para o paisagismo das cidades da região. O engenheiro florestal Rafael Salomão, doutor em Ciências Agrárias e pesquisador aposentado do Museu Goeldi, explica que o guia nasceu de uma constatação prática feita ainda na década de 1990, quando atuou na Fundação Parques e Áreas Verdes de Belém e dirigiu o Horto Municipal. “Existia uma lacuna, havia a necessidade de estabelecer mecanismos para selecionar espécies”, recorda. A percepção de que a arborização urbana das cidades amazônicas dependia, em grande parte, de espécies exóticas, impulsionou a criação de um instrumento técnico capaz de valorizar a biodiversidade local.

O livro apresenta uma metodologia de avaliação baseada em 14 atributos biológicos, dendrológicos, paisagísticos e culturais, que orientam a seleção de espécies segundo critérios de funcionalidade e adaptação ambiental. O levantamento identificou 325 espécies arbóreas com potencial paisagístico, das quais 211 ocorrem naturalmente na Amazônia. A matriz de seleção, aplicada a 164 dessas espécies, revelou que mais da metade é nativa da região, indicando que a floresta é sim fonte de soluções sustentáveis para o urbanismo tropical.

“É bom ressaltar que este guia pode ser usado em qualquer região do Brasil, basta observar os atributos das espécies e as indicações de uso, se é para arborização de ruas, de praças, ou outras necessidades”, esclarece Salomão. O pesquisador espera que a versão impressa da obra, atualmente disponível em formato digital, receba apoio financeiro para ser distribuída gratuitamente às prefeituras amazônicas. “É um guia muito útil para subsidiar as escolhas das prefeituras em seus projetos de arborização”, diz. Ao comentar a indicação ao prêmio, ele destaca o caráter coletivo do trabalho: “Foi uma grande surpresa. Divido a autoria com o Nélson Rosa, considerado o melhor parabotânico de toda a Amazônia. Trabalhamos juntos em cada detalhe. O livro é também um reconhecimento da sua importância para a pesquisa.”

A menção ao nome de Nélson Araújo Rosa, coautor da obra, é também uma homenagem. Autodidata e reconhecido como um dos maiores especialistas em taxonomia e ecologia de plantas da região, Rosa faleceu em agosto de 2024, aos 74 anos, deixando uma contribuição notável à ciência amazônica. Nascido no município de Primavera, o pesquisador colaborou em dezenas de artigos e relatórios técnicos, atuando lado a lado com grandes nomes da botânica nacional e internacional, como João Murça Pires, Graziela Barroso e Ghillean Prance. Ingressou no Museu Goeldi em 1974, onde permaneceu por mais de duas décadas, construindo um legado de 47 anos dedicados à pesquisa.

Rafael Salomão (o primeiro da esquerda para a direita) e Nélson Rosa (o terceiro) com equipe em pesquisa de campo (Foto: acervo pessoal/Ascom MPEG)

O diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, assina a apresentação da obra e destaca sua relevância para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, especialmente os de número 3, “saúde e bem-estar”, e 13, “combate às alterações climáticas”. Para ele, o guia contribui diretamente para o planejamento de cidades mais sustentáveis e resilientes diante das mudanças climáticas: “destacamos a importância desta publicação ao pensarmos em cidades mais sustentáveis, com um paisagismo urbano que promova o bem-estar e condições de temperaturas mais amenas, sobretudo nas metrópoles amazônicas, como um direcionamento premente num contexto de mudanças climáticas globais, através do trabalho imprescindível dos autores”.

A diretora-executiva da Editora de Livros do MPEG, Iraneide Silva, reforça o significado da indicação para o cenário editorial amazônico. Segundo ela, o Prêmio Abeu é hoje o mais relevante do país na área científica, ao lado do Prêmio Jabuti, e o reconhecimento mostra a qualidade da produção técnica do Museu Goeldi: “esta indicação ao prêmio mostra que estamos em paridade com as editoras das grandes universidades brasileiras. Estamos cada vez mais aprimorando a nossa qualidade no design, nos conteúdos, no formato dos livros, para estar entre os melhores”.

Nos últimos anos, a editora do Museu Goeldi tem conquistado espaço entre as grandes instituições acadêmicas do país. Em 2024, ficou em 3º lugar na mesma categoria com o livro “Exposições em Botânica: os segredos das plantas”, de Monyck Jeane dos Santos Lopes, e em 2022 venceu o 1º lugar com “Peixes teleósteos da Costa Norte do Brasil”, organizado pelos pesquisadores Alexandre Pires Marceniuk, Rodrigo Antunes Caires, Alfredo Carvalho-Filho, Matheus Marcos Rotundo, Wagner Cesar Rosa dos Santos, Alex Garcia Cavalleiro de Macedo Klautau, além de ter recebido menções honrosas por design gráfico, assinado por Jamil Miranda Ghani, e tradução, realizada por Gleice Mere, com “A Expedição do Guaporé (1933-1935): cadernos de campo, publicações e acervo de Emil Heinrich Snethlage”.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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