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Em um momento histórico para a educação e o desenvolvimento regional amazônico, foi oficialmente fundada nesta terça-feira, 6 de agosto de 2025, a Universidade Livre do Marajó (Unilivre Marajó). A cerimônia de fundação foi realizada de forma híbrida: presencialmente na sede da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), em Belém, e com transmissão on-line, reunindo membros fundadores, representantes da sociedade civil, pesquisadores, lideranças comunitárias e simpatizantes da causa marajoara.

A Unilivre Marajó é fruto de um sonho antigo, cujos primeiros debates começaram ainda em 1994. A iniciativa ganhou novo fôlego a partir de 2024, com as primeiras reuniões realizadas na residência do ativista José Marajó Varella. Em 2025, as articulações se intensificaram em 16 de junho, o “Dia de Alfredo” (data instituída pela lei municipal nº 9.164/2015 de Belém em homenagem ao grande escritor marajoara Dalcídio Jurandir), que pela primeira vez foi celebrado oficialmente, pela Academia Paraense de Letras.

No último 6 de agosto, foi realizada a leitura e aprovação do estatuto da nova instituição, além da eleição da primeira diretoria executiva. A data marca oficialmente a fundação da Unilivre Marajó, considerada por seus membros como um marco para o pensamento autônomo e enraizado no território marajoara.

O encontro evidenciou o compromisso da nova universidade com uma abordagem emancipadora, centrada na valorização dos saberes e práticas locais. Os participantes destacaram que a Unilivre Marajó nasce com o propósito de trabalhar a formação, a extensão, o diálogo intercultural e a articulação de pessoas e entidades — sejam elas nascidas ou não no arquipélago — que estejam comprometidas com a luta pela vida em todas as suas dimensões.

A Unilivre Marajó tem como patrono Dalcídio Jurandir, cuja obra retrata com profundidade a vida e os dilemas da região, e como presidente emérito José Varella, seu idealizador. A sede da instituição está localizada no município de Cachoeira do Arari, à Avenida do Museu, nº 1983, no Centro da cidade, mas a atuação da Unilivre abrangerá toda a Região de Integração do Marajó, com possibilidade de expansão nacional e internacional.

Conforme o Estatuto Social aprovado na cerimônia de fundação, a Unilivre Marajó é uma organização da sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, de duração indeterminada. Entre os objetivos da instituição estão congregar instituições nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento territorial; valorizar os saberes e a cultura marajoara; oferecer capacitações em diversas modalidades de ensino; promover o turismo literário, ecológico e cultural na região; apoiar ações de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável; incentivar políticas de direitos humanos, justiça social, economia da sociobiodiversidade e erradicação do analfabetismo; e articular ações junto a instituições públicas e privadas, em escala local, nacional e internacional.

A Unilivre Marajó se propõe também a oferecer cursos e eventos voltados à educação, artes, cultura, governança territorial e bioeconomia, buscando sempre a melhoria da qualidade de vida das populações marajoaras. Já está em diálogo para parcerias com a Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade da Amazônia (UNAMA) e Universidade do Estado do Pará (UEPA).

A primeira Diretoria Executiva da instituição é composta por Albertinho Leão (presidente), Moacir Pereira (vice-presidente), Amiraldo Barboza Pereira (diretor jurídico), Rodolfo Pereira (diretor de projetos), Wanderleia Almeida (diretora financeira) e Gabriella Florenzano (diretora de Relações Institucionais e Cooperação Internacional).

O presidente Albertinho Leão nasceu em Cachoeira do Arari e foi viver em Belém com 7 anos de idade. É engenheiro mecânico de formação, oficial de máquinas da Marinha Mercante, especialista em engenharia de segurança, especialista em planejamento, gestão pública e mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas. Desenvolve, há anos, militância em Cachoeira do Ararí. Foi presidente do Museu do Marajó, hoje é assessor de relação institucional. É membro da Irmandade dos Devotos do Glorioso São Sebastião. Participa da diretoria e do resgate do Arari Esporte Clube.

O vice-presidente Moacir José Moraes Pereira é doutorando em Geografia, PPGEO/UFPA. Mestre em Ciências Ambientais pelo Instituto de Geociências-UFPA. Licenciado em Geografia. Atuou no Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares da UFPA, como docente convidado em cursos de especialização e extensão na UFPA nas áreas de eduicação ambiental; coordenou o Projeto de extensão Agroecologia nas escolas: estímulo e apoio à construção de hortas e espaços agroecológicos nas escolas públicas de Belém-PA. É membro da Associação Brasileira de Editores Científicos. Membro do corpo editorial dos periódicos Agricultura Familiar: Pesquisa, Formação e Desenvolvimento e do periódico GeoAmazônia; Avaliador de Periódicos Científicos; membro do Projeto Formação de Agentes e Assessores Técnicos Rurais em Bioeconomia na Amazônia (UFPA-MDA-GIZ). Suas linhas de pesquisa são Ensino de Geografia; Ensino de Ciências Ambientais; Educação Ambiental; Geografia Agrária; Desenvolvimento Territorial Rural; Agricultura Urbana e Periurbana; Divulgação da Ciência; Bioeconomia e Economia da Sociobiodiversidade. É servidor técnico administrativo da UFPA, na Escola de Aplicação.

O diretor jurídico Amiraldo Barboza Pereira, filho de Albino Gomes Pereira e Maria da Conceição B Pereira, natural de Breves na Ilha do Marajó, é técnico em Saneamento, formado pela Escola Técnica Federal do Pará, e bacharel em Direito pela UNAMA. Foi servidor concursado do TJE-PARÁ, Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Portel, ajudou a organizar o primeiro conselho tutelar de Portel, onde já atuou como Assessor Jurídico e é atualmente Procurador Geral Adjunto. Também atuou como Assessor da Comissão de Direitos Humanos da Alepa, na Presidência do Deputado Arnaldo Jordy. Foi secretário de Planejamento, Educação e Finanças de Marituba e Secretário de Transportes de Santa Izabel do Pará. Atuou como Secretário Executivo da Associação dos Municípios do Marajó- AMAM, onde desempenhou importante papel na realização do Linhão do Marajó, que levou energia para o arquipélago. É proprietário da Ilha do Ajurizal e da Ilha da Boa Vista, no Município de Portel, onde realiza trabalhos sociais e de Proteção Ambiental.  É produtor cultural há mais de 50 anos em Portel e Breves.

O diretor de projetos Rodolfo Fernando Moraes Pereira é formado em Biologia e mestre em Zoologia e doutorando em Ecologia, com concentração nas áreas de Ictiologia (Taxonomia e Filogenética) e Pesca (Ecologia de Recursos Pesqueiros). Ingressou no IBAMA em 2002 como Analista Ambiental, trabalhando inicialmente no Centro de Populações Tradicionais (CNPT), com foco de atuação na área de implementação e gestão das Unidades de Conservação do tipo Reservas Extrativistas Marinhas no Estado do Pará de 2002 a 2004. É encarregado de representar o IBAMA junto ao SIPAM no Grupo de Trabalho dos órgãos parceiros de 2004 a 2006. Foi requisitado pela Presidência da República (Casa Civil) para chefiar a Divisão Ambiental e posteriormente a Divisão Territorial do SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia) de 2006 a 2008. De 2008 a 2009 trabalhou no Gabinete e Chefe do Setor de Inteligência na Superintendência do IBAMA no Estado do Pará. Atuou também, nesse período, junto ao COAER/IBAMA (Coordenação de Operações Aéreas), em operações de fiscalizações e combate aqui desmatamento. De 2009 a 2010 trabalhou no GT de repasse da gestão florestal e de fauna, entre IBAMA e SEMAS/PA. Nesse período foi cedido para a Secretaria de Meio Ambiente do Estado (SEMAS/PA) onde atuou como coordenador do GT e Fórum de Mudanças Climáticas e posteriormente como Diretor de Áreas Protegidas (onde iniciou, junto ao COBRA/MAB-UNESCO, o processo de candidatura do Arquipélago do Marajó como Reserva da Biosfera). Nesse período também atuou como Conselheiro dos Conselhos Nacional de Meio Ambiente (CONANA) e do Conselho do Fundo Amazônia (COFA). Em 2011 a 2018 regressei à Superintendência do IBAMA no Pará (SUPES/PA), onde trabalhou no Gabinete, Setor de GEO e posteriormente como chefe substituto da Divisão Técnica. De 2018 a 2019 e de 2022 a 2023, ocupou a chefia do Núcleo de Biodiversidade da SUPES/PA). Atualmente trabalha na Equipe de Fauna e Pesca da Divisão Técnica da SUPES/PA e participa do Grupo Especial de Operações Marinhas do IBAMA.

A diretora financeira Wanderleia da Costa Almeida é natural de Arapixi, Município de Chaves, Marajó, no Estado do Pará, filha de José Maria Barroso de Almeida & Gilk da Costa Almeida. Cursou Engenharia Florestal na FCAP – Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, atualmente UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia, estagiou na Embrapa, tendo a oportunidade de participar de Inventário Florestal na Terra Indígena Xikrin do Cateté, em Parauapebas-PA, assumiu cargos de Chefe da FLONA – Floresta Nacional de Caxiuanã/IBAMA-Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recurso Naturais Renováveis, localizada nos Municípios de Melgaço e Portel, no Arquipélago do Marajó-PA, depois como consultora na RDS – _Reserva de Desenvolvimento Sustentável Itatupã-Baquiá, no Município de Gurupá-PA, pela FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, em Gurupá; Resex – Reserva Extrativista Verde para Sempre, no Município de Porto de Moz-PA, pelo IBAMA e depois retornou a seu Município de origem Chaves, na área de Meio Ambiente, onde exerceu os Cargos de Secretária Municipal de Meio Ambiente. Por duas vezes foi a Brasília, como Delegada representado o Arquipélago do Marajó, para a III Conferência Nacional de Meio Ambiente “Mudanças Climáticas”, em 2008, e a IV Conferência Nacional de Meio Ambiente, com o Tema central Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2013 assumiu interinamente a Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Pesca, pela Prefeitura Municipal de Chaves. Atua em busca de Políticas Públicas que cheguem a população Marajoara, participa do CODETEM – Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó. Atualmente está na empresa Dantec Telecom, em Belém-PA, na função de Supervisora de Suprimentos. É pós-graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Meio Ambiente e Sustentabilidade.

A diretora de Relações Institucionais e Cooperação Internacional Gabriella Florenzano Guerreiro é cantora, jornalista, cineasta, atriz e performer parauara, natural de Belém, doutoranda em Ciência e Tecnologia das Artes pela Universidade Católica Portuguesa (Portugal). É graduada em Comunicação Social pela Universidade da Amazônia (Pará) e em Música – Canto Lírico pela FMCG/USP (São Paulo), pós-graduada em Ópera e Estudos Músico-Teatrais pela Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (Portugal), mestra em Comunicação Audiovisual – Cinema Documental pela Escola Superior de Media Artes e Design (Portugal) e teve formação em canto lírico na Eastman School of Music (University of Rochester, NY) com a professora Katherine Ciesinski. É pesquisadora da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, Portugal e desenvolve pesquisa científica sobre as representações artísticas coloniais e decoloniais das mulheres amazônidas. Sua carreira artística, bastante eclética, que abrange a música erudita, o rock, o jazz e ritmos amazônidas, passa por palcos brasileiros no Pará, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina; Estados Unidos, México, Alemanha, Itália, França, Espanha e Portugal. É coeditora do Portal Uruá-Tapera, produtora e apresentadora do podcast Rádio Poeira, e colunista do portal Buala.org. Foi eleita, em 2025 para a cadeira de nº36 da Academia Paraense de Jornalismo. Atua como realizadora, atriz e na trilha sonora de filmes exibidos em festivais brasileiros e europeus, como o Curtas Vila do Conde. É ativista em defesa da Amazônia – meio ambiente e população – com enfoque no combate à violência de gênero e na violência sexual, principalmente a que vitima crianças e adolescentes, e é voluntária das organizações marajoaras Fraternidade Ágape da Cruz, sediada em Portel, e do Instituto Dom José Luís Azcona, sediado em Soure.

Será composto e divulgado, em breve, o Conselho Consultivo, dividido por temáticas, e o Conselho Fiscal, responsável pela fiscalização contábil e financeira da universidade.

Durante a reunião, os membros fundadores reforçaram a importância de uma instituição comprometida com a realidade marajoara e com os desafios enfrentados por suas populações. A Unilivre Marajó é uma resposta à histórica ausência de políticas públicas adequadas para o arquipélago, e busca articular conhecimentos acadêmicos e populares de forma democrática, participativa e engajada.

Ao declarar oficialmente a fundação da instituição, os participantes celebraram o nascimento de um espaço plural de resistência, esperança e construção coletiva. A Unilivre Marajó trabalhará como uma ponte entre tradição e inovação, ciência e ancestralidade, território e mundo.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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