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O Ministério Público Federal enviou recomendação ao Iphan para que acelere ao máximo o processo de tombamento da Vila de Fordlândia, no município de Aveiro, oeste do Pará, como patrimônio histórico, artístico e cultural nacional. Caso isso não seja possível, o MPF recomenda a adoção de “medidas concretas direcionadas à prefeitura de Aveiro para que se possa diminuir as perdas ocorridas na área a ser tombada, sob pena de se enquadrar o prefeito em conduta tipificada como ato de improbidade”. Criada por Henry Ford nos anos 30, a vila deveria funcionar como um centro de produção de borracha para o mercado americano. Chegou a ter fábricas, restaurantes, praças, cinemas, dormitórios e funcionários, antes de virar uma cidade fantasma encravada na margem do rio Tapajós.
O processo de tombamento tramita no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, enquanto não é concluído, os bens da cidade deveriam ser mantidos pela prefeitura de Aveiro, que chegou a assinar um acordo de preservação com o Iphan em 2012, mas continuam chegando ao MPF notícias de depredação dos prédios de Fordlândia. 

O historiador Greg Grandin, professor de história da América Latina na Universidade de Nova York, narrou a saga de Fordlândia no livro “Fordlândia – Ascensão e Queda da Cidade Esquecida de Henry Ford na Selva”, obra finalista na categoria história do prêmio Pulitzer de 2010, incluída entre os cem livros notáveis do ano no ranking do jornal The New York Times, e eleito o melhor livro do ano pelos jornais Chicago Tribune e Boston Globe.
No mesmo ano, a edição 45 da revista Piauí publicou artigo de Gradin em que o autor apresenta alguns episódios dessa história. 

Eis alguns trechos:
A revolta começou numa segunda-feira. Naquela noite, James Kennedy telegrafou para Juan Trippe, o lendário fundador da Pan American Airways, em Nova York, para lhe contar que Fordlândia estava ‘sob o domínio da plebe’. Trippe havia aberto uma linha entre Belém e Manaus, com uma escala em Santarém, e Kennedy perguntou se um dos aviões poderia transportá-lo até a plantação com alguns soldados. Se não partissem logo, alertou Kennedy, ‘em 24 horas o lugar seria uma ruína completa’. Trippe concordou imediatamente.
[…] Uma delegação escolhida pelos funcionários recebeu o tenente com uma lista de exigências à empresa. A primeira delas era a demissão de Ostenfeld. As outras estavam ligadas ao direito de livre circulação. Os trabalhadores exigiam comer o que quisessem e onde quisessem. Estavam cansados de comer pão de trigo integral e arroz integral ‘por motivos de saúde’, segundo as instruções de Henry Ford. Queriam frequentar os bares e restaurantes que surgiram em torno da plantação e entrar em embarcações, supostamente para comprar bebidas, sem precisar pedir permissão. Os solteiros reclamavam das acomodações: cinquenta deles amontoados em um dormitório”. 

Leiam aqui a íntegra do artigo de Greg Grandim no site da Piauí. 

E leiam aqui a íntegra da recomendação do MPF.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

Gabriella Florenzano no Sem Censura

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