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Salvaterra, no Marajó, receberá neste sábado, 2 de agosto, das 10h às 17h, a Feira “Sou Sabor Marajoara”, que assinala o encerramento da primeira etapa do projeto “Elas Fazem o Pirão Render – Quando a Farinha é Pouca”. A iniciativa é coordenada pela pesquisadora da cultura alimentar e produtora cultural Auda Piani, com apoio da Secretaria de Agricultura de Salvaterra e financiamento do edital PNAB-Pa de Circulação em Cultura Alimentar. A programação será realizada na Taberna Marajó (Rodovia PA 154, Arena Cimarron, próximo à 13ª rua, bairro do Marabá) e apresentará ao público preparos tradicionais e releituras que expressam a diversidade e riqueza da culinária marajoara.

O projeto foi desenvolvido com mulheres da Comunidade Quilombola Pau Furado, onde oficinas, vivências e rodas de conversa serviram de ponto de partida para resgatar saberes ancestrais, fortalecer vínculos comunitários e abrir novos caminhos para a geração de renda. Para Auda Piani, iniciar a ação pelo Marajó é também um gesto de retorno às raízes. “Começar aqui tem muito a ver com a minha ancestralidade marajoara. Essa experiência com a comunidade do Pau Furado é anterior, e agora esse retorno só nos enriqueceu, porque a cada vez que voltamos, descobrimos novos saberes e fortalecemos essas trocas”, afirma.

Entre os momentos mais marcantes estiveram as oficinas práticas de produção de queijo do Marajó e linguiça caseira, ministradas por Tia Rai, cozinheira de longa trajetória nas fazendas da região, e pela própria Auda. As atividades foram pensadas para aproveitar a produção local de gado e oferecer alternativas culinárias viáveis, com potencial de gerar renda. “Temperar a linguiça com os ingredientes naturais e ver as mulheres se animando para produzir foi muito especial. A cozinha é lugar de afeto e de união”, resume Tia Rai.

A líder comunitária Maria José destacou o reencontro com práticas que estavam sendo esquecidas. “São memórias e vivências que minha avó fazia e que a gente já não tinha mais como prática. Esse projeto trouxe de volta essa cultura da culinária marajoara que tanta gente consome, mas que a gente não vinha mais vivenciando. Agora vamos continuar, praticar e gerar renda com isso”, afirma.

Para Marlete Santos Leal, gestora da Escola Municipal Benedito Tomaz Carneiro, localizada na região, o título do projeto despertou lembranças afetivas. “Ele traz uma memória da nossa vivência, de quando nossos pais e mães precisavam se reinventar para garantir o alimento. Enquanto escola, queremos ajudar a dar continuidade, para que não fique apenas aqui, mas gere organização e renda para as mulheres do quilombo.”

A vivência também desencadeou novos sonhos. Claudiane de Jesus, uma das participantes, nunca tinha visto de perto o processo de fazer queijo. “Pensei que fosse muito difícil, mas aprendi passo a passo e agora quero levar esse conhecimento para minha família. Quem sabe a gente se junta com as mulheres daqui para produzir e vender no quilombo e até fora dele?”, projeta.

Durante a feira, o público poderá degustar pratos como maniçoba com coco, bolinho de farinha e preparos à base de peixe, que misturam saberes das cozinhas quilombola, indígena, afro-brasileira e de fazenda e são um retrato vivo das múltiplas influências que compõem a identidade alimentar do Marajó.

Encerrando esta primeira etapa, o projeto “Elas Fazem o Pirão Render – Quando a Farinha é Pouca” continuará sua jornada pelo estado do Pará, promovendo intercâmbios entre comunidades e incentivando a valorização dos saberes tradicionais em diálogo com novas práticas culinárias. As próximas ações seguirão no arquipélago do Marajó, em uma comunidade do interior de Ponta de Pedras, e depois em regiões ribeirinhas de Belém, como Cotijuba, Quatipuru e Ananindeua, culminando em Icoaraci. Em cada parada, o projeto busca fortalecer redes de mulheres, fomentar a autonomia econômica e registrar coletivamente os sabores e memórias que marcam a cultura alimentar marajoara.

Fotos: Ettiene Angelim / Divulgação

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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