Um alerta para os adeptos do jejum intermitente: um estudo publicado na revista científica Cell revelou que a prática, muito popular como estratégia para perda de peso, pode impactar negativamente o crescimento capilar. A pesquisa, conduzida em camundongos e humanos, sugere que a prática pode desencadear uma resposta de estresse que inibe ou até destrói células-tronco dos folículos capilares, essenciais para o crescimento dos cabelos.
Os achados desafiam a visão amplamente aceita de que o jejum intermitente traz benefícios para todas as células do corpo. Ömer Yilmaz, biólogo de células-tronco do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que não participou do estudo, alegou para a revista Nature ter ficado chocado com os resultados. Havia a crença de que jejum fosse benéfico para a maioria das células, mas o que acontece é o oposto.
A equipe liderada por Bing Zhang, biólogo regenerativo da Universidade de Westlake, China, avaliou os efeitos do jejum intermitente em camundongos. Durante três meses, os animais foram submetidos a dois tipos de jejum: alimentação restrita por tempo (ingestão apenas dentro de 8 horas por dia) e jejum em dias alternados (24 horas de jejum seguidas de 24 horas com dieta regular). Os resultados mostraram que os camundongos em jejum tiveram uma regeneração capilar significativamente mais lenta do que os que comeram sem restrições.
Os pesquisadores identificaram que a morte de células-tronco nos folículos capilares foi desencadeada pela comunicação entre as glândulas adrenais (produtoras de hormônios de estresse) e células de gordura da pele. Esse crosstalk levou à liberação de ácidos graxos pelas células de gordura, que, por sua vez, prejudicaram o metabolismo das células-tronco, causando danos e, em alguns casos, a morte celular.
No entanto, o uso de um creme antioxidante antes e durante o jejum preveniu os efeitos prejudiciais no crescimento capilar, indicando que há possibilidae de o impacto pode ser mitigado.
A equipe também investigou se o efeito observado nos camundongos se aplicava a humanos. Em um estudo com 49 participantes, aqueles submetidos a um regime de jejum intermitente apresentaram um crescimento capilar 18% mais lento do que os que comeram sem restrições. Testes moleculares sugeriram que mecanismos semelhantes aos observados em camundongos também ocorrem em humanos.
Os pesquisadores levantaram a hipótese de que o corpo, ao enfrentar períodos de privação alimentar, prioriza a proteção de órgãos essenciais, como cérebro e coração, em detrimento de tecidos menos vitais, como os cabelos. Durante o jejum intermitente, o corpo não sabe quando será alimentado novamente, então ele protege os órgãos principais enquanto dispensa os que não são essenciais para a sobrevivência.
Curiosamente, os efeitos negativos do jejum não foram observados em células-tronco responsáveis pela reparação da camada externa da pele, o que corrobora com a existência de uma prioridade biológica em preservar barreiras imunológicas cruciais.
Além do impacto no crescimento capilar, estudos anteriores de Yilmaz sugerem outros efeitos negativos do jejum intermitente. O jejum pode provocar o desenvolvimento de crescimentos pré-cancerosos no intestino de camundongos com alterações genéticas predisponentes.
Embora o jejum intermitente seja promovido por seus benefícios à saúde, como maior longevidade em camundongos, os resultados deste estudo destacam que nem todos os tecidos se beneficiam igualmente. A popularidade da prática, que atingiu cerca de 12% dos adultos nos Estados Unidos em 2023, exige uma conduta mais cautelosa.
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