0
 

Megaeventos são estratégias de regeneração urbana que também carregam riscos significativos, como expulsar comunidades de áreas centrais para as periferias, em razão do encarecimento dos imóveis e serviços nas zonas de intervenção, algo que conhecemos como gentrificação.

De certa forma, esse processo já pode ser percebido em Belém. Primeiro, observou-se um aumento expressivo nos aluguéis e preços de imóveis, e mais recentemente, os impactos chegaram também aos serviços, como restaurantes e entretenimento.

Por outro lado, há um aspecto positivo importante: o fortalecimento do sentimento de pertencimento entre os moradores. Estudos realizados em cidades que sediaram megaeventos, como Liverpool, Barcelona, Newcastle e Glasgow, esta última também sede de uma COP, demonstram que esse tipo de evento pode gerar pertencimento e engajamento comunitário.

Esse sentimento começa a emergir também em Belém. À medida que as obras são entregues à população, cresce a percepção de uma cidade em transformação, a ponto do professor de Geografia Lucival Júnior (@juniografia) apelidar o momento de “Belle COP”, numa clara alusão à Belle Époque, período de maior desenvolvimento urbano e econômico na nossa história.

Mas será que estamos realmente vivendo uma Belle COP?
Por mais sedutora que seja a comparação, ainda estamos longe de uma equivalência real. Prova disso é que é possível rememorar outros momentos em que um sentimento similar ocorreu, como por exemplo, quando Paulo Chaves esteve à frente da Secretaria de Cultura e Belém passou por um processo intenso de renovação: surgiram a Estação das Docas, o Hangar Centro de Convenções, as restaurações dos Palácios Lauro Sodré e Antônio Lemos, o Sistema Integrado de Museus, o restauro da Igreja de Santo Alexandre e do Museu de Arte Sacra, além da consolidação de festivais de dança, ópera e música com projeção internacional.

Não se tratava de um megaevento, mas de uma estratégia de reposicionamento da cidade, uma preparação para atrair investimentos e ampliar sua relevância cultural e econômica. Vemos algo semelhante acontecer agora com os preparativos para a COP30. Contudo, é fundamental aprender com os erros do passado.

Apesar dos investimentos que tivemos na estrutura no passado, a cidade ainda ficou para trás em diversos aspectos. Primeiramente, por Belém ainda figurar entre as capitais menos favoráveis ao empreendedorismo. Ademais, a regulação urbanística é complexa e pouco transparente; a conservação do patrimônio histórico esbarra em entraves legais que desestimulam investidores; e a burocracia continua a ser um obstáculo recorrente para quem quiser operar na cidade.

Portanto, é possível cravar que ainda não vivemos uma nova Belle Époque. Mas os investimentos em curso, a chegada de novos atores econômicos e o renascimento do sentimento de pertencimento entre os belenenses indicam que esse cenário pode se consolidar. O desafio agora é realizar as reformas estruturais e regulatórias que nos permitam, enfim, tornar Belém a cidade da Bela Época.

Acilon Cavalcante
Arquiteto e urbanista apaixonado por cidades, histórias e pessoas. Tem mestrado em Artes, mestrado em Arquitetura e é doutorando em Mídias Digitais pela Universidade do Porto. Premiado em projetos de planejamento urbano, já atuou com governos e ONGs no Brasil, Canadá e Portugal, sempre conectando urbanismo, design participativo e sustentabilidade. Gosta de transformar dados em ideias e ideias em cidades mais humanas.

Lula defende novo modelo de desenvolvimento e diz que é “a hora do povo da Amazônia”

Anterior

Macron visitou o barco Iaraçu na UFPA

Próximo

Você pode gostar

Mais de Cidades

Comentários