Publicado em: 23 de outubro de 2025
Em uma decisão considerada histórica pela imprensa portuguesa, a Justiça de Portugal decretou prisão preventiva para Bruno Silva, cidadão luso-brasileiro, apoiador do partido de extrema-direita Chega e autodeclarado “o português mais racista de Portugal”, acusado de incitação ao ódio e ameaças contra jornalistas estrangeiras no país. De acordo com o Diário de Notícias, esta é a primeira vez que uma pessoa acusada de difundir discurso de ódio nas redes sociais recebe esse tipo de medida de coação.
A detenção de Bruno Silva ocorreu na manhã da última terça-feira, 21 de outubro, em uma operação conduzida pela Unidade de Contraterrorismo da Polícia Judiciária (PJ). As autoridades informaram que o homem está “fortemente indiciado por ter difundido nas redes sociais uma publicação na qual incita à violência contra um grupo de pessoas de nacionalidade estrangeira”. Segundo a PJ, as investigações reuniram “vastos elementos de prova relativos ao seu radicalismo ideológico”, incluindo conteúdos de caráter neonazista e mensagens de incitação à violência.
O caso ganhou grande repercussão depois que o suspeito publicou, em setembro, mensagens na rede social X (antigo Twitter) com conteúdo abertamente xenófobo e racista. Em uma das publicações, Bruno Silva oferecia “um apartamento no centro de Lisboa a quem realizasse um massacre e exterminasse determinados cidadãos estrangeiros e um bónus adicional de 100 mil euros a quem atentasse contra a vida de uma jornalista brasileira que trabalha em Portugal”. A publicação, segundo a Polícia Judiciária, “tornou-se viral, com enorme repercussão e alarme social, afetando gravemente o sentimento de tranquilidade, de segurança e da paz pública, gerando a indignação e o repúdio em vários quadrantes”.
Entre os alvos das ameaças estavam as jornalistas Amanda Lima, repórter do próprio Diário de Notícias, e Stefani Costa, também brasileira, correspondente da Opera Mundi em Lisboa, que formalizaram queixas às autoridades portuguesas. As mensagens violentas e de teor terrorista, amplamente disseminadas, motivaram reações de repúdio de entidades jornalísticas, defensores de direitos humanos e da própria comunidade luso-brasileira em Portugal.
A jornalista Amanda Silva relatou que o caso de Bruno Silva não é isolado. “Não apresentei queixa só contra ele, apresentei contra várias pessoas que me ameaçam na Internet. Ele é um deles”. A repórter revelou ainda o conteúdo de um e-mail que recebeu do acusado, no qual ele se descreve como “o português mais racista de Portugal” e declara sentir “um enorme nojo, ódio e desprezo pelos brasileiros”. Na mesma mensagem, Bruno Silva afirma ser “militante do partido Chega” e faz uma ameaça direta, dizendo que algo lhe “iria acontecer em breve” caso não retornasse ao Brasil. O episódio, segundo a jornalista, evidencia o clima de hostilidade e intolerância enfrentado por profissionais da comunicação e imigrantes brasileiros em Portugal.
A jornalista Stefani Costa declarou para a Opera Mundi que “a prisão em si é positiva, porque o Bruno Silva também atentou contra a liberdade de imprensa em Portugal”. Ela agradeceu às autoridades portuguesas, ao Consulado e à Embaixada do Brasil, ao seu advogado Camillo Júnior e todos os colegas que a apoiaram, mas acrescentou: “é importante que este caso sirva de incentivo para que mais pessoas, especialmente imigrantes, tenham coragem de denunciar as violências que sofrem, pois todos os cidadãos têm deveres e direitos que precisam ser respeitados, independentemente de quem sejam”.
Fontes ligadas à investigação afirmaram que Bruno Silva já possuía antecedentes criminais por crimes de discriminação racial e incitação ao ódio. A Polícia Judiciária informou que, durante as buscas, foram apreendidos dispositivos eletrônicos e documentos que reforçam sua ligação a grupos extremistas e supremacistas brancos.
Para as autoridades, a decisão judicial de mantê-lo em prisão preventiva representa um marco no combate ao discurso de ódio em Portugal, país que tem visto um aumento expressivo de casos de xenofobia e perseguição digital a imigrantes e jornalistas. “Trata-se de uma medida exemplar, que sinaliza o entendimento da Justiça de que a liberdade de expressão não pode ser usada como escudo para a propagação de violência, racismo e ameaças à vida”, destacou o Diário de Notícias, que acompanha o caso de perto.
Bruno Silva está detido e o inquérito segue em andamento sob sigilo judicial. O processo deverá estabelecer se ele agiu sozinho ou em articulação com outros membros da extrema-direita ativa em Portugal. O caso, além de abrir um precedente jurídico, reacende o debate em Portugal sobre os limites da liberdade de expressão nas redes sociais e o papel do Estado na proteção de jornalistas e minorias diante da escalada do discurso de ódio no espaço digital.
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