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Ia passando há pouco na Av. Romulo Maiorana,
antiga 25 de Setembro, e, parada no engarrafamento infernal, fiquei observando um
senhorzinho feirante e seu ajudante descascando castanha-do-pará. No que me deu
uma vontade inadiável de comer a fruta e não contei conversa: milagrosamente
surgiu uma vaga e consegui estacionar logo adiante. Atravessei a rua e ia
caminhando na direção dos dois quando uma senhora simpaticona, de tez bronze
amazônida, sentada num tamborete, me atalhou oferecendo outra delícia irresistível:
pupunhas carnudas, macias, sedutoras.
É óbvio que eu acabei ficando por lá mesmo,
até porque a dita senhora, Dona Conceição, também vende castanha-do-pará,
castanha-de-caju e um monte de outras suculentas frutas típicas do Pará. À minha
pergunta desconfiada acerca da oleosidade da pupunha, ela me deu de pronto um
verdadeiro atestado de originalidade. Descascou uma, que eu provei e aprovei
cheia de hum, humm, e hummm…!
Logo quis saber mais sobre a origem dessa
espécie tão especial. Ela me ensinou como cozinhá-las, contou que a
banqueteira, o chef de cozinha, o
hotel estrelado compram dela, que as pupunhas chegam fresquinhas às terças e
sextas, sempre muito limpas e sem herbicidas. Mas que o município onde a
plantação é localizada e a identidade dos produtores é segredo absoluto. Um
intermediário faz a entrega e é um túmulo.
Por alguns minutos fiquei ali, naquele calor
causticante, trânsito paralisado, ainda sem almoçar, degustando as pupunhas
enquanto as minhas compras eram pesadas e embaladas, ouvindo as histórias da
Dona Conceição – que me presenteou com uma dulcíssima sapotilha – como se
estivesse de férias, e fiquei pensando em como isso me acalmou, além de me
proporcionar um contato tão profundamente humano e fraterno, de uma
simplicidade simplória mas imensamente bonita e agradável.
Recomendo a barraca da Dona Conceição para os
que gostam de comprar produtos naturais na feira da 25. E não deixem de ouvir uma boa
história.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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