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No Pará, onde as grandes denominações evangélicas historicamente são atreladas ao governo do Estado – exceto a Igreja Batista e a Igreja Anglicana – ao ponto de seus dirigentes permitirem verdadeiros comícios dentro dos templos e em troca serem contemplados com benesses generosas do poder público, as crises na Convenção de Ministros e Igrejas Evangélicas das Assembleias de Deus do Pará (Comieadepa) e na Convenção das Assembleias de Deus no Brasil (CADB) impactarão diretamente as eleições de 2026.

Depois de décadas conduzida pelo pastor Gilberto Marques, falecido em 22 de março do ano passado, a Comieadepa passou a ter alta rotatividade na presidência. O pastor Riter Marques, que sucedeu o pai, só aguentou um ano no cargo. Teve que renunciar e em seu lugar assumiu o vice, pastor Océlio Nauar de Araújo. Não por acaso as duas cerimônias de posse contaram com a presença de políticos, como o governador Helder Barbalho, a quem são aliados.

Mas a gestão de Nauar está fazendo água e haverá eleição no próximo dia 2 de dezembro para escolher o novo presidente da Comieadepa, e ele periga perder o comando para o pastor Jaime Pires, que preside a Igreja na Cidade Nova, em Ananindeua e é amigo do prefeito Daniel Santos, pré-candidato ao governo do Pará. Pesquisa da Doxa revela que o Pr. Jaime Pires aparece com 46,1% das intenções de voto, enquanto o Pr. Océlio Nauar ficou com 40,5%. Outros 13,4% são votos flutuantes, isto é, estão indecisos ou pretendem anular o voto. A Doxa também pôs na pesquisa o trabalho desenvolvido pela atual gestão. A avaliação positiva (excelente e bom) soma 48,5%; enquanto a negativa chega a 12,4%. A regular é de 25,5%. Outros 13,6% não se manifestaram. A Comieadepa tem um exército de milhares de pastores, estrutura imensa e cerca de um milhão de fiéis.

Enquanto isso, a crise também atinge a Convenção das Assembleias de Deus no Brasil (CADB), criada e presidida há quase vinte anos pelo pastor Samuel Câmara, que mora no Rio de Janeiro, onde sediou a entidade, e viaja mundo afora. Acontece que o templo gigante da Assembleia de Deus na Av. Augusto Montenegro, em Belém, foi alugado por R$ 2 milhões pelo Governo do Pará a fim de abrigar os estandes dos municípios, evento paralelo à COP30, e a programação desagradou aos fiéis, que literalmente deram o próprio suor para erguer a edificação.

O pastor Phillipe Câmara, que toma conta do rebanho parauara – tal qual na política, a descendência é preparada para suceder os pais -, não está conseguindo manter as ovelhas sob cabresto. Nas redes sociais, crescem manifestações para tirar a família do poder, com o bordão “a AD não tem dono” subindo o tom. Fiéis de Belém e de vários estados do país acusam Samuel Câmara de “misturar o santo com o profano”, permitindo que uma festa mundana ocorresse em ambiente construído com sacrifício, ofertas, dízimos e anos de trabalho da comunidade para uso exclusivo do culto e da adoração cristã”.

Agravando a situação, a Convenção Estadual da Assembleia de Deus de Rondônia saiu da CADB e em nota oficial assinada pelo presidente, pastor Ademildo Durval, explica que se desliga em face da “violação do local sagrado” e atitudes dos Câmara “contrários aos princípios éticos e bíblicos da CEADRO”. Afirma, ainda, que, “devido a esse e outros episódios amplamente divulgados nos últimos meses, manter vínculo com a CADB se tornou incompatível com seus princípios doutrinários”.

O racha já extrapolou as divisas estaduais, como se vê, embora até agora nenhuma liderança tenha se erguido para enfrentar os Câmara, que por sua vez apoiam o pastor Océlio Nauar na Comieadepa.

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