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Um dos autores e coordenadores do artigo multidiscilinar recentemente publicado pela Nature Communications que analisa os danos do garimpo na Amazônia brasileira – e que noticiamos aqui no Uruá-Tapera – é o cientista parauara Cesar Guerreiro Diniz, sócio fundador da Solved – Solução em Geinformação. Nascido em Belém e com as raízes familiares em Oriximiná, Cesar é graduado em Oceanografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), onde também realizou o mestrado e o doutorado. Sua trajetória de pesquisa começou com o uso de imagens de satélite de baixa resolução para estudar vegetações costeiras, como os manguezais do Pará, e evoluiu para tecnologias de alta resolução.

Uma das primeiras atividades de sua carreira foi o uso de sensoriamento remoto para monitorar áreas costeiras, incluindo regiões de manguezais no Pará e zonas costeiras do Vietnã. Essa especialização lançou as bases para um trabalho no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde ele passou a explorar o desmatamento em larga escala na Amazônia, conectando sua expertise em áreas costeiras às necessidades críticas da floresta.

No INPE, liderou avanços na análise de desmatamento, contribuindo para o monitoramento ambiental em escalas nunca antes vistas. Mais tarde, no Projeto MAP Biomas, ele fez a transição para técnicas de mapeamento automatizado, integrando programação e métodos matemáticos para mapear mudanças na cobertura do solo e identificar áreas de degradação florestal.

Cesar, então, tornou-se referência no uso de tecnologia para abordar desafios ambientais, abrindo caminho para novos métodos de monitoramento baseados em inteligência artificial e machine learning (aprendizado de máquina).

No primeiro pós-doutorado, realizado na UFPA, concentrou seus esforços em um tema central: monitorar a devastação ambiental na Amazônia, especialmente a partir de atividades como desmatamento e mineração ilegal. A pesquisa trouxe avanços significativos na forma como se rastreiam essas atividades, destacando a importância da tecnologia para a preservação do bioma.

O projeto visava criar uma metodologia sistemática para monitorar as mudanças no uso da terra, oferecendo dados confiáveis para ONGs e autoridades públicas. Entre os principais parceiros beneficiados estava o MAP Biomas, conhecido por liderar iniciativas de mapeamento ambiental. A pesquisa também almejava fornecer ferramentas práticas para combater crimes ambientais e apoiar políticas públicas voltadas à sustentabilidade.

Para atingir esses objetivos, ele recorreu ao uso de imagens de satélite de alta resolução, capazes de captar mudanças na cobertura vegetal em períodos específicos. Além disso, desenvolveu algoritmos automatizados que possibilitaram análises temporais mais rápidas e precisas. Essa abordagem garantiu escalabilidade, permitindo que grandes áreas fossem monitoradas de forma eficiente.

Um dos resultados mais notáveis do projeto foi a criação de um banco de dados histórico, cobrindo desde 1985 até o presente, sobre desmatamento e mineração na Amazônia. Esses dados têm sido fundamentais para embasar estratégias de fiscalização ambiental e para fortalecer o combate a atividades ilegais, ajudando a preservar um dos ecossistemas mais importantes do planeta.

Em seu segundo pós-doutorado, na Universidade de Harvard, Cesar expandiu o uso do sensoriamento remoto para a saúde pública. O foco era modelar o impacto do desmatamento e da mineração sobre a disseminação da malária, conectando questões ambientais e epidemiológicas de forma pioneira.

O projeto buscou entender como cenários específicos de degradação ambiental influenciam a transmissão da malária. A meta era criar modelos preditivos que ajudassem autoridades de saúde pública, como o Sistema Único de Saúde (SUS), a alocar recursos de forma mais eficiente e prevenir surtos em áreas vulneráveis.

Cesar, então, combinou dados de satélite com informações ecológicas e sociais, integrando esses elementos em modelos epidemiológicos avançados. O objetivo era identificar pontos críticos de risco, onde atividades humanas, como mineração, poderiam aumentar a vulnerabilidade à malária.

O trabalho resultou no desenvolvimento de ferramentas preditivas para autoridades de saúde pública, permitindo uma abordagem mais estratégica na gestão de recursos. Além disso, o projeto trouxe contribuições significativas para o planejamento de saúde em regiões remotas da Amazônia, onde a infraestrutura é limitada.

Ambos os projetos mostram o potencial do sensoriamento remoto como ferramenta interdisciplinar e as aplicações práticas das duas iniciativas são notáveis, oferecendo dados e ferramentas que ajudam tanto na formulação de políticas públicas quanto na implementação de ações diretas. Eles exemplificam como a ciência pode transcender fronteiras disciplinares para abordar problemas complexos e interconectados. 

O pesquisador é um defensor ferrenho de mais ciência conduzida localmente na Amazônia. Ele acredita que os desafios únicos da região devem ser abordados por cientistas que compreendam suas complexidades culturais, ambientais e sociais. Formar e apoiar cientistas amazônidas é essencial para o futuro da região, já que os pesquisadores locais trazem um entendimento inigualável dos problemas e têm maior capacidade de criar soluções eficazes.

Embora reconheça as barreiras impostas pela infraestrutura limitada e pela falta de financiamento adequado, essas dificuldades podem ser vistas como estímulos para buscar formas inovadoras de realizar pesquisas.

Para superar os entraves burocráticos das universidades públicas, o pesquisador propõe a consolidação de centros de pesquisa privados. Esses espaços, segundo ele, seriam mais ágeis para implementar projetos que tenham impacto direto no desenvolvimento sustentável da Amazônia.

César defende a convicção de que a ciência é uma ferramenta poderosa para transformar a Amazônia. Ele vê o potencial de iniciativas que conectem pesquisa científica a aplicações práticas, como o uso de dados para combater o desmatamento, mitigar os efeitos da mineração ilegal e desenvolver soluções para desafios de saúde pública.

Seus objetivos de longo prazo incluem inspirar uma nova geração de cientistas locais a trabalhar em projetos que beneficiem diretamente a região, transformar a Amazônia em um polo de inovação científica reconhecido globalmente e fortalecer colaborações internacionais sem comprometer a autonomia regional.

O verdadeiro sucesso, afirma César, será ver a Amazônia prosperar por meio de soluções criadas por seus próprios habitantes, fortalecendo suas comunidades e preservando suas riquezas naturais. Seu trabalho é um exemplo de como ciência, tecnologia e compromisso social podem se unir para criar um futuro mais sustentável para a Amazônia, com protagonismo intelectual e tecnológico amazônida.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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