Publicado em: 6 de outubro de 2025
O governo brasileiro confirmou que enviará nesta segunda-feira, 6 de outubro, uma nova missão diplomática ao presídio de Ketziot, no deserto de Negev, onde permanecem detidos 13 brasileiros interceptados durante a flotilha humanitária Global Sumud. O grupo foi levado para a prisão após a ação de forças israelenses que bloquearam a frota de 41 embarcações com destino a Gaza, que transportava cerca de 400 pessoas de diversas nacionalidades levando alimentos e remédios para civis.
Entre os detidos está a deputada Luizianne Lins (PT-CE), que participava da delegação em caráter de observação internacional. A assessoria da parlamentar informou que ela segue “em boas condições físicas, mas detida ilegalmente e sem comunicação regular com advogados”.
Na última sexta-feira, diplomatas já haviam permanecido mais de oito horas em Ketziot para verificar a situação. Agora, a nova visita terá como objetivo examinar o estado de saúde dos presos e coletar informações sobre o processo de deportação, ainda indefinido. O Itamaraty classifica a medida como apoio consular, diante das denúncias de maus-tratos e da ausência de previsão para a liberação do grupo.
Parte dos brasileiros presos iniciou uma greve de fome. Thiago Ávila, Ariadne Telles, João Aguiar e Bruno Gilca relatam falta de acesso a medicamentos e ausência de atendimento médico básico. Familiares e advogados declararam publicamente que os relatos de abusos são graves, com menções a interrogatórios prolongados, vendagens, algemas e imposição de permanecer voltados para a parede.
Em resposta, autoridades israelenses negaram as acusações e afirmaram que “todos os detidos tiveram acesso a água, comida e advogados, e que seus direitos foram respeitados”.
Enquanto os brasileiros seguem retidos, outros estrangeiros começaram a ser liberados. Mais de 170 já foram deportados. No domingo à noite, chegaram a Lisboa quatro portugueses que estavam na flotilha: Mariana Mortágua, Sofia Aparício, Miguel Duarte e Diogo Chaves. Eles desembarcaram no Aeroporto Humberto Delgado por volta das 22h30 e foram recebidos por dezenas de ativistas e familiares. Perto da meia-noite, foram ovacionados por centenas de apoiadores da causa palestina.
À chegada, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua declarou: “Não somos heróis, estamos a fazer o que os nossos governos não estão a fazer”. Em entrevista, acrescentou: “Isto não é sobre nós. A nossa crítica não é o apoio consular que foi dado aos cidadãos portugueses que estavam na prisão israelita. (…) A nossa crítica é ao Governo português que não aplica sanções a Israel”.
A dirigente bloquista relatou ainda que “Se eles nos fazem isto a nós, imaginem o que eles não fazem a prisioneiros palestinianos”. Segundo Mortágua, os ativistas “perceberam a diferença naquela prisão entre ser europeu e ser palestiniano”, apontando abusos e provocação de autoridades israelenses.
Miguel Duarte confirmou as condições denunciadas: “Fomos algemados, fomos vendados, fomos postos dentro de autocarros-prisão”. O ativista relatou que todos passaram fome e sede, que as celas estavam superlotadas e que alguns detidos ficaram mais de 48 horas sem água ou comida. “Temos camaradas que têm diabetes que estiveram três dias sem receber insulina. Fomos postos em jaulas ao sol durante muito tempo”, acrescentou.
A atriz Sofia Aparício, também integrante da flotilha, contou que houve tentativas de obrigar os ativistas a assinar documentos em hebraico. “Obviamente que nós não assinámos”, disse. Duarte reforçou a denúncia, afirmando que um soldado falsificou assinaturas em passaportes para simular aceitação da captura. “É preciso ser claro quanto a isto: fomos intercetados, fomos raptados em águas internacionais e trazidos ilegalmente e contra a nossa vontade para Israel”, declarou.
Antes de embarcar de Madrid para Lisboa, Mortágua acusou Israel de inventar “um crime”. Disse à RTP que jamais admitiu entrada ilegal em território israelense: “Eles inventaram um crime. Mas nós nunca admitimos e saímos do país”.
Na recepção aos ativistas, a eurodeputada Catarina Martins destacou a importância da flotilha e afirmou que, mesmo sem alcançar Gaza, a mobilização internacional pressiona Israel: “A mobilização internacional que a flotilha está a conseguir é o caminho para parar o genocídio”. Ela disse ainda que a atuação dos portugueses “é algo de que Portugal se pode orgulhar”.
Mais de 130 participantes, deportados por Israel, chegaram no sábado a Istambul. Entre eles, cidadãos da Itália, Reino Unido, Jordânia, Kuwait, Líbia, Argélia, Mauritânia, Malásia, Bahrein, Marrocos, Suíça, Tunísia, Turquia e dos Estados Unidos.
Relatos dos deportados incluíram maus-tratos contra a ativista sueca Greta Thunberg. De acordo com um participante turco, ela foi arrastada pelos cabelos, agredida e forçada a beijar a bandeira de Israel. A jovem, de 22 anos, disse ter recebido pouca água e alimentos, relatando erupções cutâneas e tratamento severo.
O jornalista italiano Lorenzo D’Agostino confirmou: “Greta Thunberg, uma mulher corajosa, tem apenas 22 anos. Foi humilhada, embrulhada numa bandeira israelense e exibida como um troféu”. Ele mesmo afirmou ter sido agredido e privado de água potável por mais de dois dias, descrevendo a prisão como um ambiente de “barbárie”.
Segundo D’Agostino, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, esteve no porto de Ashdod no momento da chegada dos ativistas e teria orientado que fossem tratados como terroristas. Em vídeo divulgado, o próprio Ben Gvir classificou os detidos como terroristas e confirmou que foram levados para presídio de segurança máxima.
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