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Foto: Erik Jennings

Área com cenários paradisíacos, instalada em 1758, a vila de Boim, hoje distrito de Santarém, é englobada pela Reserva Extrativista do Tapajós-Arapiuns. Desde os tempos do governador Magalhães Barata uma lei estadual declarou “de serventia pública as matas de Boim”. Judeus do norte da África dominaram economicamente a localidade durante um século. Com a decadência do ciclo da borracha os norte-americanos Chester Coleman e Charles Townsend Jr. instalaram em Boim uma serraria que, por duas décadas, movimentou a economia local. Chegados ao Tapajós em 1942, os franciscanos da Província do Coração de Jesus, com sede em Chicago, construíram na década de 1950 um enorme convento que, nos anos 1970, ao assumirem a Prelazia de Santarém, venderam para a prefeitura municipal e hoje é uma escola em ruínas e interditada, como denuncia a Paróquia Santo Inácio de Loyola, consagrada ao padroeiro da comunidade. 

A beleza luxuriante da natureza contrasta com a pobreza dos moradores. O rico imaginário popular fez a estagnação econômica e social até virar lenda.  Os caboclos locais dizem que a vida deles só vai mudar no dia em que a igreja de Santo Inácio de Loyola for construída de frente para o rio, porque, contam, é a única do Brasil construída “de banda” para o rio, nada menos que o deslumbrante Tapajós.  A posição da igreja tem uma história ligada à Cabanagem. Contam os antigos moradores que, quando tentaram tomar a vila, um devoto de Santo Inácio conseguiu esconder a imagem no mato. Em meio à luta, eram tantas as aflições e providências, de modo que o lugar acabou esquecido. Mas um dia o santo escondido foi encontrado e aí começaram a erguer uma nova capela, dessa vez de frente para o belo Tapajós, mas a obra era lenta demais e sobrevinham vendavais que levam a edificação ao chão. Até que uma velha senhora, respeitada como oráculo pela comunidade, vaticinou que o templo tinha que ser feito na mesma posição em que foi encontrado o santo. E, como este estava “com as costelas para o rio”, assim foi feito e a igreja nunca mais caiu. Só que, como a lenda diz que o atraso de Boim é por causa da posição errada da capela, seus habitantes um dia terão que fazer uma escolha tipo a de Sofia (livro de William Styron e filme de Alan J. Pakula, com interpretação magistral de Meryl Streep)

Boim, como toda cidade amazônica, é exemplar do realismo fantástico. Lá, Seu Cantídio Oliveira, 78 anos, o ex-pajé da vila, está convertido ao catolicismo.  E mora sobre o aterro da casa onde nasceu Dom Frederico Costa, o primeiro bispo prelado de Santarém.

Com tanta riqueza a ser estudada, e sendo talvez o único vestígio dos tempos áureos de Boim, o casarão precisa ser recuperado e mantido como memória, em pleno funcionamento. Com a palavra, a prefeitura de Santarém e alguma alma boa que possa ajudar.


Em julho de 2013 o jornalista santareno Manuel Dutra, professor doutor em Comunicação, da UFPA, publicou em seu blog a impagável matéria intitulada História de jornalista: hoje é dia do santo namorador de Boim”. Leiam a íntegra aqui.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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