Publicado em: 6 de julho de 2025
· O ambiente literário que envolveu o decênio 1920 a 1930, principalmente com a realização da Semana de Arte Moderna, acendeu o sentimento de escritores paraenses incentivados pela ideia de rompimento com o tradicionalismo europeu na escrita poética. Diálogos, refutações, trocas e tensões culminaram na transição entre o simbolismo e o modernismo. Uma geração de intelectuais movimentou o ambiente literário paraense.
· Os meios de produção evidenciados por essa geração tinham como desfecho a quebra dos padrões estéticos e tradicionais europeus, a feitura de uma literatura nortista, posicionando-se diante dos modernistas nacionais e buscando a adesão de expoentes da cultura local como, Fran Pacheco, Augusto Meira, Manoel Lobato, Severino Silva entre outros. Foi o escritor De Campos Ribeiro quem relatou esse ambiente da geração que surgia na congregação da Associação dos Novos. Assim ele falou, “Minha geração, que começara os primeiros passos em 1921, congregava na “Associação dos Novos” os “ansiados”, como nos chamava o saudoso Ângelus, artista que participara no Rio do movimento de Graça Aranha (…). Começamos quase todos, na “Província do Pará”, em sua segunda fase, ali na Rua 13 de Maio. Uma seção denominada “Coluna dos Novos”, se não laboro os, dava-nos estímulo, enfim. Em 1924, quando a maioria do grupo já conseguia atrair sobre sua personalidade e atenção dos maiorais das letras da terra, aqueles que a ironia de Raul Bopp, então conosco convivendo, chamava os “Jacarés Sagrados”, nossa intrepidez lançara ao mundo literário, não só do Pará, mas do país. Esse relato histórico do cronista De Campos Ribeiro, rememora a construção de um grupo que Bruno de Menezes autodenominou de “Vândalos do Apocalipse”. Um grupo engajado com a situação concreta de sua realidade, sensível aos anseios sociais, políticos e literário e assim compromissados com atos que sedimentasse ações que norteariam a concretização de seus pensamentos e ideologias.
· O ambiente proporcionado por esses literatos possuía uma característica muito peculiar, os encontros para discutir arte, literatura, política e mundanismo e aconteciam em dois espaços geográficos bem distintos, articulando dois grupos de intelectuais por volta de 1921, o primeiro foi apelidado de Academia ao ar livre, formado nas reuniões no Largo da Pólvora. O professor Aldrin Figueiredo, destaca o depoimento de Raul Bopp, sobre os encontros dos acadêmicos ao ar livre, “ a noite, no terrace do Grande Hotel, debaixo de copadas mangueiras, reuniam-se os grupos habituais. O círculo de conhecidos ia se alargando. Emendava-se, às vezes, com outras rodas. Vinham o Braguinha, o Proença, o Orlando, Clovis de Gusmão, o Abguar Bastos, às vezes Nunes Pereira. Discutia-se de tudo. Entravam-se em comentários os fatos correntes, fofocas e anedotas. Agitavam-se opiniões, notadamente no campo literário. Em geral, os modos de ver, nesses assuntos, arrematavam-se em blagues. Mas, dessas conversas de calor comunicativo, ficava sempre um resíduo de bom senso, que assinalava o pesado artificialismo em coisas que publicavam.
· O sentimento de renovação literária; o desejo de construir uma nova feitura poética, inédita, sem copias; de rever conceitos e formas literárias, de desconstruir todo o processo de amarras do fazer poético, vinham ao encontro dos objetivos idealizados por uma coletividade de intelectuais que em sua sensibilidade captou e materializou na poesia “arte nova” do poeta Bruno de Menezes em 1920, ideias afirmativas sobre o Modernismo. Assim dizia o poeta Menezes, “Eu quero um’Arte original… Daí, esta insatisfação na minha Musa! Ânsias de ineditismos que eu não vi e o vulgo material inda não usa!” Indubitavelmente a coletividade de intelectuais Belemense prenunciava o Modernismo.
· Uma revista Literária foi ancoradouro desse pensamento Modernista. Belém Nova, fundada por Bruno de Menezes, articulava as ideias e agregava a convivência entre os velhos e os novos intelectuais nas mais diferentes formas de pensamentos. Assim o magazine era produto de um conjunto de escritores nos mais diversos estilos. Faziam parte desse elenco intelectual que publicavam na Belém Nova, Apolinário Moreno, Abguar Bastos, Carlos Nascimento, Chermont Brito, De campos Ribeiro, Dejard de Mendonça, Eneida de Moraes, Elzeman de Freitas, Eustáchio de Azevedo, Ernani Vieira, Farias Gama, Jacques Flores, Ignácio de Moura, Luiz Gomes, Lívio Cezar, Olívio Rayol, Paulo de Oliveira, Pereira e Castro, Severino Silva, Vicente Abranches. De outros estados brasileiros colaboravam: Almacio Diniz, Adelino Magalhães, Assis Garrido, Antônio, Carlos Garrido, Carlos Fernandes, Francisco Galvão, Jayme D’Altavilla, Martin Napoleão, Raul Bopp, Peregrino Junior e Tasso da Silveira.
· Belém Nova. A professora Marinilce Coelho disse que a Revista imprimia às novas feições da cidade, da cultura e da vida”. A Belém Nova, a partir de um olhar modernista, contribuía no processo social dos primeiros anos da década de 20. Era um ponto de convergência dos literatos que ambicionavam uma literatura que revelasse a identidade local e brasileira (nacional), e ao mesmo tempo a tentativa de agregar as diferentes formas de pensamentos.
A vida dos literatos seus trânsitos e diálogos nos mais distintos tempos eram temas de textos publicados na revista. A memória social e cultural, os hábitos e tradições eram expostos em artigos como forma de mostrar a sociedade o seu engajamento e conhecimento da realidade. Belém Nova inovara na forma de comunicar, a revista foi facilitadora desse processo, além de incentivar a publicação de obras e poesias de escritores nacionais em um intercâmbio cultural dentro da própria revista.
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