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No domingo, escorreguei e caí em casa. Bati violentamente a cabeça e as costas e tive náuseas, mas preferi não ir na hora ao hospital. Ontem de manhã acordei aparentemente bem, mas assim que saí comecei a sentir fortes dores, tive que cancelar minha agenda e acabei na emergência da Unimed da Doca. Lá, foram me tirar do carro numa cadeira de rodas (!), e o médico traumatologista me mandou aguardar sentada(!) enquanto chegava a minha ficha, porque sem ela não poderia me atender. Acionada a recepção, informaram que a ficha já tinha sido mandada ao consultório – naturalmente em longo percurso, com direito a paradas pelos corredores, dada a demora -. Minha filha, agoniada, ponderava ao médico que ele podia, sim, me examinar e passar a medicação, dada a urgência e as minhas dores, e depois registrar na tal ficha que estava em lugar incerto e não sabido. Que nada. Só com o papel carimbado em mãos ele me atendeu e me levou para fazer medicação injetável.
Aí foi outro terror. As enfermeiras estavam que nem baratas tontas, cheias de papeletas e injeções, e eu de pé lá na janelinha do ambulatório, elas me pedindo para sentar e eu informando que não tinha onde, estava tudo lotado e, ademais, a dor aumentava ao sentar. Tive medo de apressar – vai que trocam a minha medicação? Assim, preferi acionar minha faceta estóica e aguentar firme. Até mesmo quando a enfermeira atravessou minha veia com uma agulha enorme (disse que não podia ser fina porque era preciso salinizar)e eu tive que mostrar, com santa paciência que nem sabia ter, que estava doendo muito e inchando o local – o líquido estava fora da veia. Ofereci o outro braço, pedi que a enfermeira se acalmasse, minha filha me consolava fazendo cafuné.
Para fazer os exames radiológicos, nova rodada. Vai daqui, vai dali, volto ao consultório. O médico anterior já fora, o outro estava atrasado, minha ficha(!) em cima da mesa no consultório vazio, minha filha pediu ao médico que estava ao lado para me atender, ele falou que não podia, era para esperar. Como não tinha mais pacientes, resolveu me receber, avaliou os raios X, receitou medicação para casa e me encaminhou à neurologista.
Começa tudo de novo. Ficha na recepção, aguarde na porta do consultório. Vá fazer a tomografia do cérebro. Retorne. Ufa! Felizmente nada quebrado, e o tico e o teco, meus neurônios, escaparam incólumes.
Estou contando a minha via crucis na Unimed porque a primeira coisa que me veio à cabeça foi o sofrimento dos que não têm plano de saúde e vão às filas do SUS. Que uma cabeça iluminada propôs, no Fórum Mundial de Saúde, ontem, ser declarado patrimônio da Humanidade.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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