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Afuá, no extremo norte do arquipélago do Marajó, perto de Macapá, no Amapá, é uma cidade toda construída em cima de palafitas. Lá, só existe um calçadão à guisa de rua, na orla. O resto são estivas(pontes feita de madeira para a passagem de terrenos encharcados). Ali, obviamente, não trafegam carros. É a chamada Veneza paraense. Pois para tal cidade ímpar, durante a última década, o governo federal destinou ônibus escolares e ambulâncias.

Não bastasse tal descalabro, fruto da ignorância da turma de Brasília quanto à diversidade geográfica do nosso país-continente, agora o prefeito Mazinho Salomão(PSD)  teve a brilhante ideia de fechar salas de aula em comunidades ribeirinhas longínquas, remanejando os alunos para escolas-polo. Comunitários e professores denunciaram a iniciativa ao Ministério Público Federal e apontaram riscos de evasão escolar e até de problemas de saúde, já que as crianças terão, em muitos casos, que enfrentar viagens com duração de horas, sem comer. 

Já a secretária municipal de Educação, Kelly Cristina, defende o remanejamento, alegando que as escolas a serem fechadas têm poucos alunos, nenhuma estrutura e funcionam no sistema multisseriado, em que um professor ministra aulas ao mesmo tempo e no mesmo espaço físico para alunos de várias séries diferentes. 

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) aferido em Afuá pelo governo federal é um dos mais baixos do País: 3,2. Uma desgraça, principalmente porque só a educação pode redimir o Brasil e salvar as gerações atual e futura.
Além do mais, os ribeirinhos amazônicos são povos tradicionais, com direito à mesma proteção assegurada pelo arcabouço jurídico nacional a quilombolas e indígenas e de acordo com as especificidades do seu modo de viver. 

É sabido que o governo federal trata o Pará como filho enjeitado. O tal pacto federativo jamais funcionou por estas plagas, principalmente para a gente marajoara, cujo abandono é secular. Os repasses para o transporte fluvial e a alimentação de estudantes, assim como nos demais setores, são mais do que insuficientes, são ridículos, aviltantes.

Às crianças são oferecidos, quando muito, sucos industrializados com bolacha, de acordo com denúncias feitas em audiência pública, enquanto a realidade local aponta o açaí e outras frutas nutritivas, peixe e camarão, que não são aproveitados na merenda escolar. Os pequenos produtores locais não podem vender seus produtos para as escolas porque – vejam só! – não têm a Declaração de Aptidão ao Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), documento emitido pelo escritório do Incra de Belém, a 320 Km de Afuá.

Em tempo: Afuá, como todo o arquipélago marajoara, tem cenários belíssimos, como o Parque Estadual Charapucu, aí em cima na foto da ascom da Semas-PA.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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