Publicado em: 22 de dezembro de 2025
Joaquim Ferreira dos Santos é um dos melhores cronistas do país. Escreve em O Globo às segundas. Vou plagiá-lo. Não é a primeira vez. Seus temas são deliciosos. O desta segunda é sobre aquelas pessoas que conhecemos visualmente, mas não lembramos o nome. Meu avô, já com seu “HD” lotado, ao caminhar pela Presidente Vargas, de dois em dois passos, era cumprimentado por alguém. Recebia saudações, perguntava pela família e tirava do bolso uma agenda surrada, oferecendo-a à pessoa, dizendo que estava sem óculos, e que escrevesse seu nome, para depois colocar em sua coluna social, “Instantâneos da Cidade Morena” aquele encontro. Quando recebia de volta, olhava de relance o nome escrito, lembrava e a partir daí, saudava o identificado com palavras mais certeiras. O velho era bom. Quanto a mim, já nem ligo mais se sou chamado de Edgar Augusto, mesmo sem barba e bigode. Ele, famoso apresentador da Feira do Som, é mais conhecido. Já me chamaram várias vezes de Janjo, com a alcunha de “dono” do Roxy Bar. Respondo positivamente para todas as questões e vida que segue. Mas, pessoalmente, também sou chamado. Alguns até pelo apelido, dos tempos de colégio, mais coloquialmente. Agora, quem são? Você identifica o rosto, a partir de uma verificação sobre os efeitos do tempo, mas o nome? Não traz a agenda surrada como a do avô. Então, responde à saudação e procura assuntos no qual a própria pessoa se identifique, facilitando tudo. “Já sei, não lembra de mim, né? Quem eu sou? Agora, me diz”. Que agonia. Um dia desses postaram uma fotografia do nosso time no Nazaré, em formação digna dos grandes esquadrões. Nós, franzinos, na pose, sentindo a importância do momento. Meu Deus, quem é esse, meu colega, zagueirão, dentro do campo uma fera, fora, um fofo. “Lembra de mim?” Ela está à sua frente, bonita, fresca, interessada, acabou de ler seus livros, quer comentar, elogiar e você ali, com um sorriso congelado, sem acreditar ter esquecido da menina mais bonita da sala. “”Eu sou fulana, seu metido. Sentava três filas atrás de ti. Me pediste cola uma vez. Ah, mas tu não me deste. Vem tudo na cabeça e a conversa segue. Neste mundo imagético, com nossos “HDs” lotados, já cansados, os segundos de indecisão podem magoar os outros, que por algum motivo nos têm vivos em suas memórias. E não é por falta de grandeza. Em uma noite de autógrafos esqueço até o nome da minha mãe. Assinei um livro para Ernani Malato, mas era Edilson Pantoja estava à minha frente. Quando percebi, mais tarde, liguei e pedi perdão. Invejo esses políticos que entram, em cidades do interior, cheias de líderes locais e vão falando com todos, de um perguntando pela famosa maniçoba, a outro pela mãezinha, a quem chama pelo apelido doméstico, belisca o clube daquele, enfim. Talvez tenha um follow up que estuda antes de entrar no recinto, mas mesmo assim. Outros têm um ajudante, logo atrás de si, que vai dizendo os nomes, discretamente. Evaristo de Macedo, um dos melhores jogadores que o mundo já teve, veterano como treinador, ao chegar a um novo clube, sem gravar os nomes do elenco, dizia simplesmente, “ei ponta direita, cruza logo pro centro avante” e vamos adiante. Outro xingou um atleta em mau momento por 45 minutos, quando o substituiu, só então percebendo que o xingou todo o tempo com o nome do lateral direito, já incomodado, sem saber a razão de tanta reclamação. Pedrinho, saudoso goleiro de peladas da AP, tinha um cacoete. Passava o jogo inteiro a gritar “volta, lateral”, seja quem fosse. Joguei com ele e ouvi, na primeira vez. Preferi trocar de posição.




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