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O multi-instrumentista Hermeto Pascoal, três vezes vencedor do Grammy Latino, morreu neste sábado, aos 89 anos.

Nascido albino, estrábico e com problemas de visão em 1936 no povoado Olho D’Água, na região de Arapiraca, em Alagoas, Hermeto ficou célebre por sua originalidade. Usava, além de instrumentos tradicionais como piano, flauta, violão, cavaquinho, acordeon, órgão, saxofone e pandeiro, itens inusitados como água, xícaras, chaleiras, bacias, ferro velho, animais, sua própria barba e outras bugigangas que inventava e improvisava no palco. Até batimentos cardíacos e outros ruídos humanos ele transformava em música.

As histórias de sua vida são incríveis. O pai tocava sanfona, mas o menino basicamente aprendeu tudo sozinho.
O sobrenome da família era Da Costa, mas Hermeto foi registrado Pascoal porque o pai se chamava Pascoal da Costa. 

Aos 14 anos, Hermeto e seu irmão Zé Neto, também albino, foram tentar a sorte como músicos em Recife e logo atraíram a atenção de outro gênio musical – também albino – o grande Sivuca, que disse sobre Hermeto: “Assim que o vi, percebi que tinha dentro dele o fogo sagrado da música”.

Hermeto tocou em muitas boates e gravou discos no Rio e em São Paulo. Formou vários grupos.

No início dos anos 1970, ele passou dois ou três anos nos Estados Unidos, a convite do casal Airto Moreira e Flora Purim e lá mergulhou no jazz, gravou com Miles Davis e outros monstros sagrados. Em 1973, de volta ao Brasil, gravou o disco A Música Livre de Hermeto Pascoal.

Em seu show no Festival Internacional de Jazz em 1978, em São Paulo, Chick Corea, John McLaughlin e Stan Getz fizeram questão de dar uma “canja” e Hermeto fez concerto em 1979 no Festival de Montreux, na Suíça, que resultou no álbum “Hermeto Pascoal Montreux Ao Vivo”, com participação antológica de Elis Regina. Ele também tocou no festival  japonês Live Under The Sky, em Tóquio. Sua obra “Suite Pixitotinha” foi executada pela Orquestra Sinfônica de Copenhague, na Dinamarca. Alemanha, Inglaterra, Argentina e Portugal também receberam suas turnês.

No folclore de sua carreira consta que certa vez entrou no estúdio de gravação segurando um porco para ser usado como instrumento musical. Os grunhidos estão lá, gravados na faixa título do disco. Hermeto literalmente tocou o porco, beliscando o bichinho no momento certo para que seu som estivesse no compasso, perfeitamente integrado à melodia.

Doutor Honoris Causa das universidades de New England Conservatory, de Boston e da Universidade Federal da Paraíba, era, como todos os seres iluminados, de simplicidade e humildade desconcertantes.

Foi um dos maiores músicos do planeta e de todos os tempos. No céu hoje os acordes são mais belos. Ave, Hermeto!

Ilustração de Guilherme Maia

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