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A
situação da BR-230 (rodovia Transamazônica) e da BR-163 (a Santarém/Cuiabá) é calamitosa,
no trecho paraense. O abandono da população dos municípios do oeste do Pará,
principalmente no trecho de Medicilândia a Rurópolis, se arrasta há décadas: construídas
no início dos anos 1970, durante o regime militar, no governo do general Médici,
a BR-230 até hoje tem cerca de 200 Km em leito de terra, intrafegáveis,
coalhados de buracos, lama e atoleiro durante os seis meses do inverno
amazônico, cenário que se alterna para buracos, poeira e mato durante  os  seis
meses de verão, e a BR-163 continua ao longo de 150 Km em idênticas condições.
Um imenso eixo rodoviário que, combinado com os caudalosos rios da região, poderia
trabalhar a multimodalidade e revolucionar o escoamento de cargas, amenizando o
quadro dramático da infraestrutura do Brasil, e proporcionar significativa
economia do custo de transporte, tornando competitivos os produtos nacionais no
mercado mundial, permanece há 45 anos em total esquecimento pelo governo federal.
O
deputado Eraldo Pimenta(PMDB) denunciou, da tribuna da Assembleia Legislativa,
o caos nas estradas da Transamazônica. Por conta dos imensos atoleiro, as
cidades ficam desabastecidas de alimentos e de remédios, populações inteiras
isoladas, sem esperança de uma vida digna. Exemplo desse quadro funesto é o
sufoco vivido por Everson de Brito Silva, conhecido pelo nome artístico de
Tirullipa, humorista e músico cearense de stand up filho do palhaço Tiririca,
atual deputado federal. Contratado para um show em Itaituba, o artista se
apresentou na sexta-feira passada (3) em Santarém e, depois de ficar durante
dez horas com seu micro-ônibus atolado na Transamazônica, fez um desabafo que
viralizou nas redes sociais, com direito a apelos ao presidente Michel Temer
para que asfalte a rodovia, o que foi prometido por todos os presidentes das
últimas quatro décadas – e nenhum cumpriu.
Na
época do “milagre brasileiro”, o governo federal se lançou ao delírio de
construir 15 mil quilômetros de rodovias na região amazônica. Tal projeto fazia
parte do Plano de Integração Nacional (PIN), instituído pelo Decreto-lei nº
1.106, de 16 de junho de 1970, que tinha como principais objetivos deslocar a
fronteira econômica, e, notadamente, a fronteira agrícola, para as margens do
rio Amazonas; integrar a estratégia de ocupação econômica da Amazônia; e criar as
condições para a incorporação à economia de mercado de amplas faixas de
população antes dissolvidas na economia de subsistência.
A
Transamazônica, inaugurada em 27 de agosto de 1972, foi projetada para ter oito
mil quilômetros, ligando as regiões Norte e Nordeste do Brasil com Peru e
Equador. Mas está inacabada até hoje: foram construídos apenas 4.223 Km,
ligando a cidade de Cabedelo, na Paraíba, a Lábrea, no Amazonas, passando por
sete Estados brasileiros: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e
Amazonas.
Os
impactos sociais e ambientais foram catastróficos. Segundo os dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1973 e 1983, os
municípios de Marabá, Itupiranga, São João do Araguaia, Tucuruí e Jacundá,
todos no Pará, cortados pela Transamazônica, saíram de 57.510 habitantes, em
1970, para 187.336 em 1980, ou seja, um crescimento de 225.75%, sem qualquer
planejamento e muito menos amparo. Já Conceição do Araguaia, Santana do
Araguaia e São Felix do Xingu, mais ao sul do Estado, contavam com 40.370
habitantes, em 1970, passando para 130.029, em 1980, com crescimento de
222.09%. 
A
Comissão Nacional da Verdade apurou que houve extermínio de 29 grupos indígenas
que viviam isolados na região. Os Aikewara e os Parakanã tiveram a sua
população dizimada. Ainda nos dias atuais há desmatamento da floresta
nativa, transporte ilegal de cargas de madeira e de castanha-do-pará.
O
contexto é funesto e o futuro se avizinha sombrio. Quantas milhares de famílias
ainda sofrerão e morrerão por conta dos atoleiros que são fruto do descaso em
relação aos nortistas é uma conta que pesará um dia quando a História cobrar as
devidas responsabilidades dos que governam o País. 


Assistam ao vídeo aí em cima. Ele foi feito há um mês e mostra só um pouco do estado sinistro da Transamazônica.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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