Publicado em: 9 de setembro de 2025
A cadeira nº 37 da Academia Paraense de Letras, patronímica de Teodoro Rodrigues, cujo último ocupante foi Avertano Rocha durante os últimos 43 anos, agora é de Marcos Valério Reis, que tomou posse em bonita e muito prestigiada cerimônia conduzida pelo presidente em exercício da APL, Leonam Gondim da Cruz Jr. (o presidente Ivanildo Alves está licenciado por razões de saúde). A oradora oficial foi Nazaré Mello Uchoa. As atrações culturais arrebataram o público: Sarah Rodrigues declamou poesia, Salomão Habib fez pocket show, houve apresentação especial da Schola Cantorum da Catedral da Sé de Belém, regida pelo maestro Eduardo Nascimento e acompanhada pelo pianista e organista Paulo José Campos de Mello.
Graduado em Letras, especialista em Estudos Linguísticos e Literários, mestre e doutor em Comunicação, Linguagens e Cultura, pós-doutor em Teologia, docente de graduação e pós-graduação nas disciplinas Literatura Brasileira, Afro-brasileira, Amazônica, Indígena e Teoria Literária, diretor da Rede Nazaré de TV, membro da Academia Paraense de Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, dos grupos Academia do Peixe Frito e Estudos Culturais da Amazônia, Marcos Valério é autor dos livros “Bruno de Menezes: Entre Poéticas e Batuques”, “Guia Prático para elaboração de projetos de Pesquisa” e “Abguar Bastos e a Fundação do Romance Amazônico”, no prelo.
Em seu discurso, Marcos Valério evocou a memória do patrono Teodoro Simões Rodrigues, registrando que nasceu em Vigia, em 1874, e aos dezoito anos lançou o primeiro livro, “Pálidos” (1892). Poucos anos depois, integrou a Associação Mina Literária, sob o pseudônimo de Íris. Sua obra inclui o “Compêndio da História do Brasil” (1896) “Canções do Norte” (1909), além de manuscritos que ainda ecoam como promessas — “Canções Rebeldes”, “Lições de História do Amazonas” e contos.
“Octávio Avertano de Macedo Barreto da Rocha, presença luminosa que atravessou quase um século, deixando marcas profundas no Pará, na Amazônia e no Brasil, era jurista, filósofo, jornalista, economista, teólogo, escritor, pesquisador e professor. Aos 90 anos, ainda exibia a lucidez inquieta dos que não se permitem descansar na mesmice: escrevia, refletia, ensinava, compartilhava”, pontuou Marcos Valério. Avertano foi também membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Academia Paraense de Ciências, e membro honorário da Academia Paraense de Jornalismo. Doutor em Direitos Fundamentais, professor de Filosofia e Direito, procurador, advogado, jornalista, colaborador próximo de Benedito Nunes, voz ativa em jornais e academias, Avertano Rocha fez do conhecimento um ato de resistência e de esperança, destacou o empossado.
Ao lembrar iniciativas que ao longo dos mais de 130 anos protagonizaram a visibilização da literatura produzida no norte brasileiro, Marcos Valério Reis mencionou que seis anos antes da fundação da Academia Paraense de Letras, por volta de 1894, surgiu a “Associação Mina Literária”, integrada por “Domingos” Ferreira Pena, Domingos Rayol (Barão de Guajará), José da Gama e Abreu (Barão de Marajó), Tito Franco de Almeida, Clementino José Lisboa, Geraldo Barbosa de Lima, José Joaquim de Assis, Corrêa de Freitas, José Galdino, Júlio Cesar Severiano Bezerra de Albuquerque. Por divergências locais e internas a Associação fechou após três anos.
Contou, ainda, sobre a Associação dos Novos, Os vândalos do Apocalipse e a Academia do Peixe Frito, liderada por Bruno de Menezes, que foi presidente da APL, De Campos Ribeiro, Paulo de Oliveira, Ernani Vieira, Muniz Barreto, Arlindo Ribeiro de Castro, Lindolfo Mesquita, Sandoval Lage, Abguar Soriano, Jaques Flores, Nunes Pereira, Edgard de Souza Franco, Farias Gama, Severino Silva, Rodrigues Pinagé, Clóvis de Gusmão, Dalcídio Jurandir, Santana Marques, Abguar Bastos e Vicente Sales, este último tendo legitimado seu pertencimento à Academia do Peixe Frito pela crônica “A morte do bate-papo”, inserida no livro Crônicas de um poeta, de Georgenor Franco, que presidiu a APL de 1962 a 1964 e de 1974 a 1985, cadeira nº 38, cujo atual ocupante é Georgenor de Sousa Franco Filho.
Um dos marcos do Modernismo Amazônico foi a revista Belém Nova, fundada em 1923, bem como a revista Efemeris, de 1916, lançada por Artur Guimarães Bastos, Lucídio Feitas, Djard de Mendonça, Tito Franco, Alves de Souza, intelectuais que em 1900 participaram da fundação da APL. Outras revistas memoráveis foram Pará Ilustrado, de Jaime Lobato; A Planície, de Osvaldo Viana; Novidade, dirigida por Octávio Mendonça, Machado Coelho, Garibaldi Brasil e Ritacínio Pereira; Terra Imatura (1938-1942), dirigida pelos irmãos Cléo Bernardo e Sylvio Braga, e A Semana (1918-1943), a revista de maior duração e circulação da história de Belém do Pará.
Marcos Valério destacou, ainda, a iniciativa de Salomão Laredo e Edyr Augusto Proença, que criaram em 2014 a Feira Literária do Pará.
A atuação de Marcos Valério é marcada por profunda dedicação à arte literária, aliada a uma produção acadêmica e cultural consistente, ligada ao pensamento crítico, ao fazer literário e à visibilização das identidades da Amazônia. Sua obra conecta arte, resistência e identidade, democratiza o acesso à produção científica. Ademais, atua na recuperação e valorização da literatura regional como parte essencial do patrimônio imaterial brasileiro. A APL ganhou fôlego com sua posse.

























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