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Ondovato é mais um escritor paraense a usar a cidade, suas ruas, lugares e até o nome de pessoas reais em uma ficção, o que aproxima o texto dos leitores, que podem localizar-se e melhor desfrutar do texto. Acho isso muito bom. “A Parecerista” é um romance policial abraçado com o mistério, o que não é muito a minha praia. Geralmente o autor nos leva a várias pistas que ao final são derrubadas por algo esquecido de verificar e que fecha o livro. Isso não o deixa menos atraente. Quase tudo se passa em Cotijuba, na Praia do Vai-quem-quer. Uma atriz que fez papeis em telenovelas, paraense, professora universitária, prestes a apresentar uma dissertação para doutorado é assassinada e seu corpo aparece na praia. O investigador, por coincidência (e há várias coincidências), passava seus dias de férias e é acordado pela dona da pensão onde estava hospedado, assim que a notícia se espalha na ilha. Há uma grande investigação que cruza as vidas de vários moradores do local e aos poucos, espraia-se para acontecimentos que atingem pais, mães e até um jogador de futebol do Paysandu, que também estava na ilha e foi visto com a vítima. Estupros, pedofilia, drogas, charlatanismo e até detalhes que vêm do tempo da ditadura surgem, enquanto Miguel Arcanjo e sua equipe trabalham feericamente levantando provas. E, como disse, apenas nas páginas finais tudo é revelado, embora as demais pistas surgidas tenham tido repercussão nas vidas dos envolvidos. Nos agradecimentos, Ondovato conta que, com a aquiescência das pessoas de Cotijuba, usou seus nomes. Cita também a Confraria do Fraga, do ótimo Eudes Fraga, a Call Mass, Estação das Docas, ruas e outros. Fora de lugar parece o primeiro capítulo onde narra um encontro no Palacio do Governo, então onde hoje é o MEP, do Coronel Barata e um político que lá vai para informar da compra e construção de um Educandário para jovens hóspedes, o que de fato aconteceu. Estranho é mencionar a homossexualidade do caudilho, inclusive com uma cena de felattio recebido por Barata. É? Estranho. Preciso também informar que o Estádio apelidado de “Mangueirão”, tem o nome de Jornalista Edgar Proença, homenagem a meu avô, pioneiro do rádio na Amazônia, jornalista de várias áreas, autor de peças de teatro e livros e não Edgar Augusto Proença, meu irmão querido, radialista famoso, comandante da Feira do Som e que, curiosamente também foi locutor esportivo. Um erro cometido inclusive pelos governos anteriores, despreocupados em homenagear um paraense tão importante. Havia, dentro do estádio até placa com o nome de meu irmão. Muita ignorância. Finalmente, quero saudar Ondovato por seu livro, romance que li com prazer, mesmo percebendo onde o mistério ia acabar, mas isso é uma opinião bem pessoal e sei que a maioria dos leitores gosta dessa maneira de escrita, com vendas excelentes. Quero recomendar sua leitura, muito mais do que best sellers que enchem algumas livrarias sem o mesmo apuro e qualidade.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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