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O mundo está tomado pela barbárie nas diversas instâncias sociais, culturais, econômicas e políticas. Fome, miséria, analfabetismo, desemprego, mortalidade infantil e de gestantes, doenças endêmicas, pandemia, destruição da natureza, falta de solidariedade e de retos meios de vida. Rui Barbosa um dia afirmou: “A chave misteriosa das desgraças que nos afligem é esta, e somente esta: a ignorância! Ela é a mãe da servilidade e da miséria”. O tema é antigo mas atualíssimo. Miséria humana move o livro que inspirou “O Beco do Pesadelo”, concorrente ao Oscar 2022. Com tantas mortes por ataques terroristas, por pessoas em surto psicótico, pelo crime organizado, pela pandemia e pelas guerras entre os povos, era de se esperar que a Humanidade se reinventasse. Mas eis que a realidade se mostra ainda mais dura e cruel.

Grupos e organizações de voluntários se mobilizaram em todo o planeta para oferecer roupas, alimentos e até mesmo moradia em outros países para os milhões obrigados a deixar a Ucrânia. No entanto, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky recusou a ajuda de brasileiros. À primeira vista, pareceu uma reação insana.

Contudo, é perfeitamente compreensível diante do absurdo que tem sido perpetrado por nacionais que envergonham o povo brasileiro. Não bastasse aquele deputado federal de São Paulo que, supostamente, foi oferecer ajuda humanitária e enviou áudios repugnantes sobre as mulheres ucranianas a seus amigos, outros conseguiram entrar na Ucrânia a título de ajudar os militares no front de batalha. O que pareceu um ato heroico se revelou infâmia. Ao chegarem na base de uma das tropas ucranianas, a primeira coisa que fizeram foi postar stories e vídeos em seus perfis pessoais nas redes sociais. Obviamente, a inteligência russa detectou, rastreou e bombardeou a base. E muitos dos que estavam ali morreram. Dentre eles, alguns brasileiros.

É absurdo, patético e inaceitável, mas indivíduos que sentem necessidade de aparecer nas redes sociais realizando atos de falso altruísmo geraram crise diplomática e são responsáveis por portas que se fecharão a bons brasileiros. Há quem não tenha vida fora da internet. Nada mais complexo, intrincado e enigmático do que seres humanos. E olhem que, dentre as quase oito milhões de espécies de animais viventes no planeta Terra, o homem é o único capacitado de consciência e controle instintivo.

São os indigentes de qualquer senso moral, empatia e humanidade, que causarão a ruína civilizatória. São os donos da vaidade ignorante, que aniquilam ambientes, instituições e sociedades. Intimamente ligados pelo desprezo quanto ao outro, verdadeiros carcinomas sociais que contaminam o planeta, para os quais a única coisa que importa é o seu ego insaciável.

A geração atual não sabe viver off line. Até os bebês já são viciados no celular, porque ninguém tem mais paciência para brincar com eles, então é melhor que fiquem vidrados na telinha. As famílias conversam pelos grupos nos aplicativos. E depois ninguém entende o porquê de distúrbios de comportamento. E ninguém enxerga que pessoas estão sofrendo, se automutilando e se suicidando porque não têm ajuda, o sofrimento é invisível. As máscaras são muitas, e entre elas os indispensáveis filtros dos apps. Parece exagero, desesperança, mas é um choque real. Vamos por os pés no chão e as mãos na consciência?

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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