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Dias atrás, conversava com meu primeiro amigo, o renomado médico Jorge Alberto Ohana, meu amigo desde os tempos de Parque Verde, quando sequer havíamos começado a estudar, amizade de 70 anos… Ele me falava sobre meu recente livro Doutrina Ambiental da Igreja (São Paulo, Mizuno, 2025), e lembrava sobre um homem que não deveria ser esquecido nesses dias de COP-30: o médico, folclorista e ambientalista Camilo Martins Vianna, verdadeiro ícone da defesa do clima, da Amazônia e da Casa Comum (Papa Francisco) de todos. E, nessa linha de esquecimentos e recordações lembrei de outro paraense de singular brilho: o economista, advogado e pesquisador Armando Dias Mendes.

A memória do povo é curtíssima. Facilmente, esquecemos pessoas que efetivamente ajudaram na preservação do meio ambiente da Casa Comum. Há uma incrível preferência pelos que fazem manifestações políticas e olvidam a verdade dos problemas.

Nota-se um incrível e lamentável silêncio em torno de duas pessoas de importância fundamental para o desenvolvimento sustentável e a ecologia integral.

Ilustre e esquecido na COP-30 é Armando Dias Mendes. Paraense de Belém, nascido a 3 de junho de 1924, e falecido, em Brasília, em 15 de junho de 2012, quando estava sendo realizada a muito falada Rio+20. Certamente era uma das maiores referências brasileiras na busca por um desenvolvimento sustentável.

Doutor honoris causa da UFPa e da UNAMA, fundador do Núcleo de Altos Estudos Amazônia (NAEA) e Presidente do Banco da Amazônia, Armando Mendes foi Personalidade Econômica do Ano no Brasil em 2006, Consultor da ONU para o Desenvolvimento da Amazônia, além de autor de espetacular obra de pesquisa para a nossa Região. Aí estão “Viabilidade Econômica da Amazônia”, e “A invenção da Amazônia”, dois desses singulares exemplos.

Armando Mendes era um cientista e pesquisador de primorosa qualidade. Seu legado não pode ser esquecido.

O outro nome paraense ilustre e que deve ser lembrado é o de Camilo Martins Vianna, nascido em Belém em 14 de abril de 1036 e falecido em 10 de setembro de 2019. Médico pela primeira turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, criou em 1968 a Sociedade de Preservação aos Recursos Naturais e Culturais da Amazônia (SOPREN), e a Lei n. 8.958, de 19 de dezembro de 2019, deu seu nome ao Parque Estadual do Utinga, homenagem justa e adequada com os lagos Bolonha e Água Preta, que resgatou, àquela altura, sua obra.

Ao longo de mais de 80 anos de existência, Camilo Vianna defendeu, como poucos, sem política e sem falsas aparências, a biodiversidade da Amazônia, os costumes de seu povo, numa contribuição que ainda está a merecer mais homenagens.

Sinais da sua obra estão no Museu Goeldi, onde deve existir um acervo de artefatos que coletou sobre as populações do interior. Foi o realizador das Semanas Amazônicas de Preservação, promoveu o 1° Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, levou estudiosos a conhecerem a realidade das comunidades ribeirinhas, criou os projetos de extensão e interiorização da UFPa, programas de recuperação de áreas degradadas, educação ambiental, valorização dos habitantes da região e do bioma amazônico.

Como este breve texto, quero manifestar minha posição no sentido de, neste final de COP-30, que usa o espaço amazônico para resgatar a conservação da Casa Comum, lembrar a memória desses dois grandes ambientalistas brasileiros e amazônidas Armando Dias Mendes e Camilo Martins Vianna, que não podem nem devem ser esquecidos.

Georgenor Franco Filho
Georgenor de Sousa Franco Filho é Desembargador do Trabalho aposentado, doutor em Direito pela USP, presidente honorário da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, professor titular aposentado da Unama, membro da Academia Ibero-americana de Direito do Trabalho e Seguridade Social.

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