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Abriu hoje, 30, e segue até 30 de dezembro deste ano a exposição “Habitar a Floresta”, com curadoria dos arquitetos Marcelo Rosenbaum e Fernando Serapião, no Centro Cultural Banco da Amazônia, em Belém do Pará. São treze projetos arquitetônicos realizados em colaboração com povos originários, comunidades ribeirinhas e quilombolas na Amazônia brasileira e de outros territórios latino-americanos, como Peru e Equador. A diretora de Marketing e Comunicação, Ruth Helena Lima, queestá no Basa há 25 anos e lidera as iniciativas de setor em nove estados da Amazônia Legal, recebeu jornalistas convidados para uma pré-inauguração da mostra, ladeada pela gerente do Centro Cultural Ana Amélia Fadul e seu staff.

Marcelo Rosenbaum comentou que a arquitetura apresentada na mostra é fruto de encontros com pessoas que vivem nos territórios da Amazônia continental inteira e que desejam permanecer nele, com educação, cultura, bem viver. “Aqui é uma exposição com 13 projetos que passam exatamente por esse assunto de trocas, de encontros desses saberes, trazendo essa forma de possibilidade de habitar a floresta e permanecer nela. Então, são projetos de resistência. A gente tem um recorte, que é uma coisa muito difícil até encontrar no universo da arquitetura, um recorte feminino de arquitetas, que também é algo muito interessante de entender, que existe um protagonismo de arquitetas, de mulheres, fazendo esse trabalho em território, junto com comunidades. A gente tem aqui o trabalho do Guá Arquitetura, que é um trabalho importantíssimo, O Pablo, amigo, que faz um trabalho, aí no caso é o arquiteto enxergando, entendendo a qualidade, a necessidade da permanência de um saber tradicional, como os carpinteiros. Então é o trabalho da carpintaria da Amazônia, que é essencial e necessário para a valorização deles mesmos, da permanência desses saberes na história, enquanto beleza de reconhecimento desses mestres.  É uma exposição didática, intuitiva, não é só para arquitetos, então ela é tátil, com os próprios desenhos executivos que mostram a qualidade profissional desses arquitetos nos territórios, mas também para quem é leigo, quem não é arquiteto, dá um sabor e um desejo de ver uma história em quadrinho, ou de pensar e imaginar o que é aquele desenho técnico, o que aqueles desenhos representam depois, como passa a ser construído”. 

Fernando Serapião complementou no sentido da resistência como aspecto central da exposição. “A gente tem que imaginar que é uma espécie de maneira nova de atuação do arquiteto; é um arquiteto que não fica sentado no seu gabinete esperando o telefone tocar. Nenhum desses profissionais que está aqui em cima recebeu um telefonema para fazer um projeto. Ou seja, há um ativismo, um envolvimento direto de todos eles com a liderança ou com as comunidades, seja lá como for, ou seja, há um contato muito antes do projeto, há um relacionamento muito antes do projeto. É quase como se o arquiteto conhecesse o cliente, ou namorasse o cliente, ou se interessasse pelo cliente, anos e anos e anos antes de ter um projeto para fazer. Então, acho que esse aspecto é muito interessante. São profissionais que têm um saber técnico, acadêmico, como se chama assim, e que levam isso para uma nova necessidade, onde esse próprio arquiteto também não aprendeu na escola a fazer esse tipo de coisa. ou seja, como fazer um projeto junto com comunidades muito diferentes, que podem ser quilombolas, indígenas, ribeirinhos. O arquiteto sai sempre desses processos muito maior do que ele entrou, porque ele aprendeu muito mais do que ele doou. Então, acho que tem essa situação muito específica. O Marcelo, no caso, é um desses arquitetos, quer dizer, no fundo ele é curador dessa exposição, ele desenhou a exposição, ou seja, toda a maneira como a gente está expondo, partiu da prancheta dele também, e ao mesmo tempo ele é protagonista, quer dizer, de um dos projetos que estão também expostos aqui.”

Os curadores propõem também pensar em políticas públicas e enfatizam a necessidade de microcrédito, de abertura de possibilidades, espaços para a geração de renda. “São projetos, na maioria deles, que necessitam esse olhar para além da beleza. De tudo que a gente está propondo, também uma discussão, uma reflexão desse habitar a floresta. Então é uma exposição que passa por várias camadas, várias possibilidades de reflexões e de entendimentos. E estar no Banco da Amazônia é algo que nos deixa muito esperançoso e feliz também, de poder criar essa reflexão, apresentar de forma poética, bonita, porque as lutas vão fazer a transformação também nessas pequenas revoluções pela beleza, pelo amor e pela beleza, e é aqui que a gente está mostrando exatamente esses encontros com possibilidades de grandes futuros”.

A exposição inicia com um vídeo do arqueólogo Eduardo Neves, que evidencia a floresta amazônica ter sido plantada, não só pelo homem, como por todos os outros seres não humanos que trabalham coletivamente, cocriando e colaborando para a floresta estar em pé, como legado dos sábios ancestrais. 

E há um vídeo também de um cacique que mora na fronteira com o Peru, onde a família dele vive desde tempos imemoriais, e fala a mesma coisa que o professor e cientista Eduardo Neves, só que pela linguagem da natureza, contando a partir da visão da sabedoria da floresta o mesmo assunto. “Então, nesse aspecto, essa passagem de conhecimento, é que hoje os grandes centros de arquitetura percebem que o concreto está completamente condenado, Quer dizer, o futuro da construção, por exemplo, é madeira. Hoje em dia, o técnico que sai de uma universidade tem que ir para o meio da floresta para aprender no saber de milhões de anos”, conclui Rosenbaum.

A gerente Ana Amélia Fadul salientou que os pilares do Centro Cultural do Basa são principalmente a valorização dos povos originários, dos quilombolas, da diversidade, do protagonismo da ancestralidade. Neste momento que a gente tem grandes arquitetos que tem experiência internacionais que estão com os ribeirinhos, com os indígenas, com os quilombolas, vendo o saber deles e trazendo isso para a indústria, dando esse protagonismo, nós estamos valorizando como utilizar a floresta amazônica de forma sustentável. E como essas moradias são resilientes a toda essa crise climática que o Brasil e o mundo estão sofrendo. Porque o Ribeirinho está lá, se alaga, está lá, se tem calor, aquela cobertura de palha, aquela protesta, o calor excessivo. Então ele está em comunidade com a floresta há milênios. E a gente está nesse momento de copo exportando esse modelo profundo. E isso é extremamente relevante para o Brasil, para Belém e para o Banco da Amazônia, que está fazendo este investimento, trazendo 4 mil metros quadrados do centro cultural, onde a gente vai ter, para a Senete, uma biblioteca de acesso público. vai ter seis salas de oficina e nessas salas de oficina dentro das contrapartidas das nossas exposições tem oficinas que também vão carregar a literatura apesar de eu não ser patrocinado diretamente pelo edital, de forma indireta a gente vai estar aqui e toda essa atuação é um serviço social que o Banco da Amazônia está fornecendo para a sociedade paraense todas as nossas atividades aqui são gratuitas elas são gratuitas porque o banco é o patrocinador master de tudo E isso é muito relevante para a nossa cidade, para a nossa região. Então é um prazer estar com a equipe da RUT, que capitaneia toda a parte de patrocínio, marco de publicidade, e está com a gente aqui no Banco há mais de 25 anos, colocando o Banco da Amazônia no mapa do mundo. 

“Habitar a Floresta” apresenta um panorama de construções notáveis na Amazônia e em outras regiões de floresta tropical, cuja característica comum é colaborar para a manutenção da biodiversidade, em harmonia com as comunidades locais”, informou Fernando Serapião. “Outro ponto de união entre as obras é o uso de materiais sustentáveis e a cocriação dos projetos, desenvolvidos em processos participativos e oficinas comunitárias”, destacou.

Com projeto expográfico inovador, que utiliza materiais e tecnologias sustentáveis, a exposição apresenta aos visitantes – por meio de painéis de texto, vídeos, desenhos, fotografias e maquetes – projetos arquitetônicos que evidenciam o diálogo com os saberes tradicionais, valorizando a sociobiodiversidade e propondo novas formas de habitar a floresta.

Cada painel evidencia as características e o processo de idealização, escuta e execução dos projetos. O propósito é realizar um letramento dos saberes ancestrais e da resiliência dessa forma de viver e construir na floresta para todos os visitantes. Com a participação dos turistas e das delegações da COP30, essa mensagem será difundida ao mundo inteiro – que o ato de construir pode ser também um gesto de reconexão entre o humano e a floresta.

Dois projetos foram desenvolvidos no Pará: o Centro Experimental Floresta Ativa, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, na região de Santarém; e Carpinteiros da Amazônia, na ilha do Murutucu, em Belém. A exposição ainda terá a exibição de quatro vídeos sobre a relação entre arquitetura, cultura e meio ambiente: “Terra Preta”, do SescTV Acervo Sesc São Paulo; “Aldeia Sagrada Yawanawa”, da Mira Filmes; “Construindo na Floresta”, do Acervo Rosenbaum; e “Carpinteiros da Amazônia”, do Acervo Guá Arquitetura.

“Habitar a Floresta” abre a Galeria 2 do Centro Cultural Banco da Amazônia. Para atender todos os públicos, serão disponibilizados vídeos em libras e caderno em braile com os textos da exposição.

Inaugurado neste mês com a exposição “Mandela, Ícone Mundial de Reconciliação”, o Centro Cultural Banco da Amazônia tem quatro mil metros quadrados adaptados para o funcionamento de três galerias, biblioteca, minilab de inteligência artificial, seis salas de oficina, restaurante e café. Com um investimento de R$ 30 milhões de reais, 

SERVIÇO

Exposição: “Habitar a Floresta” – curadoria de Marcelo Rosenbaum e Fernando Serapião.
Período: 30 de outubro a 30 de dezembro de 2025.
Local: Centro Cultural Banco da Amazônia – Galeria 2.
Avenida Presidente Vargas, 800 – Campina – Belém, PA.

Horário de funcionamento
Outubro: terça a sexta-feira, das 14h às 20h
Novembro e dezembro: terça a sexta-feira, das 10h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h

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