Publicado em: 3 de outubro de 2025
O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) abriu nesta quinta-feira, 2 de outubro, as portas para convidados na vernissage da mostra “Um rio não existe sozinho”, concebida pelo Instituto Tomie Ohtake em parceria com a instituição parauara. O evento, realizado no Parque Zoobotânico, reuniu autoridades do governo federal, do Iphan e representantes culturais, marcando a retomada das visitas ao espaço que será reaberto ao público nesta sexta-feira, 3 de outubro, às 9h, com programação estendida até dezembro, em meio à agenda da COP30 em Belém.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, esteve presente na cerimônia, ao lado do diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, da diretora do Instituto Tomie Ohtake, Gabriela Moulin, da superintendente regional do Iphan, Cristina Nunes, e das curadoras Sabrina Fontenele e Vânia Leal. O encontro começou com um café da manhã, seguido por trilha guiada pelas obras espalhadas entre fauna e flora preservadas no parque.
Luciana Santos ressaltou o valor simbólico da união entre arte e ciência em um momento de urgência climática. “Quero dizer da minha alegria de poder voltar mais uma vez a essa importante instituição do nosso país. É o patrimônio do saber, a joia da coroa do nosso Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia”, afirmou. Para a ministra, a interlocução das linguagens amplia a compreensão do público: “A arte e a ciência juntas nos ajudam a enxergar as diversas dimensões que a vida tem, nos ajudam a popularizar, a difundir o saber científico. Temos a necessidade de virar a página do negacionismo no nosso país, o negacionismo tão perverso que vivemos recentemente. E a popularização da ciência, portanto, tem poder relevante nesse embate tão necessário que a gente precisa enfrentar.”
Ao comentar a pintura dos muros do Parque Zoobotânico, realizada em parceria com o Museu de Arte Urbana de Belém (Maub), a ministra disse ter se surpreendido: “quando cheguei e vi o muro, eu disse: ‘Que maravilha!’ Isso dá pertencimento, dá orgulho às pessoas. Além de ser a Casa da Ciência, o Museu Goeldi vai ser a casa da cultura. É um muro que agora todo mundo vai querer tirar uma foto, filmar, para ficar do lado dessa beleza que é a capacidade artística do nosso povo e da nossa gente.”
O diretor do MPEG, Nilson Gabas Júnior, destacou que a comunicação empática, mediada pela arte, fortalece a difusão do conhecimento científico. “A empatia através da arte, sendo ela o veículo para transmitir os resultados das nossas pesquisas, aquilo que a instituição vem produzindo. Com essa comunicação empática, a gente toca mais fundo, a gente consegue chegar a mais pessoas.” Ele agradeceu os investimentos do MCTI, viabilizados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que permitirão novas obras no parque a partir de 2026. Também enfatizou a importância de combater a desinformação: “quando a gente faz comunicação com embasamento em dados científicos, não em fake news, não no negacionismo, a gente consegue perceber a importância estratégica de ter a ciência e a tecnologia no desenvolvimento das pessoas. Não apenas o desenvolvimento econômico, mas o desenvolvimento humano. O que nós precisamos é desenvolvimento humano.”
A superintendente regional do Iphan, Cristina Nunes, reforçou a singularidade do Museu Goeldi como patrimônio tombado desde os anos 1990 e lembrou o impacto da mobilização popular em torno das pinturas nos muros. “Gente, estava linda essa rua! Era um rio de gente, um mar de gente. Quando a gente fala em unir as pessoas para uma reconstrução, é isso.” Para ela, o momento é de aproveitar as oportunidades que a COP30 traz: “Vou voltar a falar a palavra pororoca, porque é uma pororoca de acontecimentos maravilhosos para o nosso Estado. E precisamos aproveitar. Precisamos colocar as nossas pranchas na onda da pororoca e sair com ela.”
A diretora do Instituto Tomie Ohtake, Gabriela Moulin, salientou que o projeto foi fruto de dois anos de construção conjunta entre Belém e São Paulo. “Temos certeza de que as alianças institucionais, profissionais, são o caminho para a construção de programas e projetos mais fortes e vivos, bem como que as pesquisas científicas, artísticas e sociais devem estar em diálogo.” Ela acrescentou: “o projeto ‘Um rio não existe sozinho, vem sendo concebido há dois anos, entre Belém e São Paulo, na escuta e no diálogo sobre a urgência climática e sobre o papel da arte, da cultura e das poéticas como lugares únicos e incontornáveis para perceber, sentir e traduzir as complexidades do mundo, ao mesmo tempo que imaginamos outras formas de construí-lo e habitá-lo.”

As curadoras Sabrina Fontenele e Vânia Leal ressaltaram o simbolismo de realizar a exposição no Museu Goeldi, unindo ciência, fauna e flora amazônica a obras que dialogam com a crise climática. “Não só por ser um momento da COP, que demonstra como a arte pode ser uma ferramenta para discutir narrativas, para sensibilizar e para apontar novos caminhos, mas também porque a gente entende que o Museu Goeldi é uma instituição de pesquisa, de muito cuidado com essa fauna e flora amazônica há mais de um século”, disse Sabrina. Vânia acrescentou: “atravessar corpos que pensam, corpos que agem, atravessar essa perspectiva crítica, a arte é crítica e estar aqui no Museu, num contexto de COP, eu digo que é uma comunhão.”
O público presente também relatou a experiência da mostra como um mergulho sensorial. Cássia Santos, da Fapespa, relatou memórias da infância ao visitar o espaço: “essa exposição me surpreendeu no sentido de que foi buscar memórias afetivas lá da Cássia pequenininha, que vinha ao museu, que sempre buscou, olhou com esse olhar de curiosidade, de respeito à natureza.” A diretora do Instituto Letras que Flutuam, Fernanda Martins, reforçou a importância da visita durante a COP30: “as pessoas que vierem para a COP têm obrigação de passar no Parque, não tem como escapar disso.”
Para o professor Luiz Adriano Daminello, da UFPA, a harmonia entre natureza e arte traduz debates atuais: “Essa relação da natureza com um processo de arte é super atual, é o que está sendo discutido. É o trabalho humano que não destrói convivendo com a natureza.” A artista indígena Rita Hunikuin destacou a pluralidade das obras: “de alguma forma, nós nos comunicamos através da arte. Não só os artistas, mas diversas culturas, inclusive a indígena. Então, para mim foi mágico poder ver essa diversidade.”
A exposição “Um rio não existe sozinho” permanece em cartaz até 30 de dezembro no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.
Fotos: Marcos Andrade e Rodrigo Cabral/MCTI
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