Publicado em: 16 de setembro de 2025
Uma cerimônia marcada pela emoção reuniu a comunidade acadêmica de Física do Pará no dia 12 de setembro de 2025 para homenagear o professor José Maria Filardo Bassalo, que completou 90 anos em 10 de setembro. Mentor e fundador do curso de Física da Universidade Federal do Pará (UFPA), Bassalo foi celebrado como um dos grandes responsáveis pela consolidação do ensino e da pesquisa na região, cuja excelência é atestada por indicadores nacionais: o curso de graduação da UFPA recebeu nota 4,8 do Inep (em escala de 0 a 5), e a pós-graduação obteve nota 6 da Capes, próxima da máxima 7.
O evento, denominado “Bassalo 90”, foi organizado por um amplo coletivo de instituições acadêmicas: Instituto de Ciências Exatas e Naturais da UFPA, Faculdade de Física, Programa de Pós-Graduação em Física, Centro Acadêmico de Física, Programa de Educação Tutorial (PET), Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física e Centro Interativo de Ciência e Tecnologia da Amazônia, além da participação de Ufopa, Unifesspa, UEPA e IFPA. Realizada no Auditório H do Campus Básico, a cerimônia teve lotação completa. Ao lado de seus dois filhos, Bassalo foi recebido sob aplausos e recebeu uma placa comemorativa entregue por docentes e ex-alunos.

Engenheiro Civil, mestre, doutor e pós-doutor em Física, José Maria Filardo Bassalo foi um dos principais responsáveis pela implantação do curso de Física da UFPA no final dos anos 1960, quando ainda predominavam as grandes faculdades de Engenharia, Direito e Medicina. Havia quem considerasse a Física mero “diletantismo”, mas Bassalo e outros docentes, como Rui Brito, Mário Serra e Fernando Vieira, defenderam sua relevância. “Bassalo via a Engenharia como uma Física aplicada e usou esse argumento para convencer a UFPA da importância de criar uma faculdade específica”, relatou José Luiz Magalhães.
Após vencer resistências, a Faculdade de Física foi implementada em 1971. Hoje, consolidada como uma das melhores do país, é resultado direto da persistência do professor que, ao completar 90 anos, é celebrado como um alicerce da ciência amazônica.
Os discursos evidenciaram o papel central do professor na formação de gerações de cientistas e professores. Sua aposentadoria compulsória ocorreu em 2005, mas seu legado segue vivo tanto na pesquisa quanto na literatura, já que também se destacou como cronista e biógrafo de grandes nomes da Física. Representando o reitor Gilmar Pereira da Silva, o professor Ari de Souza Loureiro comparou Bassalo a uma “constante fundamental” da ciência amazônica:
“Ao longo de nove décadas, o professor Bassalo tem sido exatamente isto para a ciência na Amazônia: um pilar que sustenta e orienta gerações inteiras. Cada passo de sua vida acadêmica foi marcado pela convicção de que a ciência não deve se afastar de sua responsabilidade histórica”.
Loureiro também destacou que Bassalo foi “formador de formadores”, multiplicando discípulos que hoje dão continuidade à pesquisa e ao ensino: “Cada tese orientada, cada aula ministrada, cada livro escrito representa não apenas a transmissão de conteúdo, mas a construção de uma comunidade científica amazônica. Sem o professor Bassalo, dificilmente a ciência na Amazônia teria alcançado a densidade e a legitimidade que hoje possui”.
A importância de Bassalo extrapolou os muros da academia. O diretor do Instituto de Ciências Exatas e Naturais, Marcos Monteiro Diniz, lembrou que seu nome era conhecido mesmo fora da Universidade: “os efeitos da ação do professor Bassalo reverberaram muito além do campo acadêmico. Sua amplitude e importância chegavam à sociedade, como constatei, não sem surpresa, quando um parente da minha esposa, empresário bem-sucedido em São Paulo, sem nenhuma vinculação com a Universidade, um dia perguntou-me como estava o professor Bassalo”.

Outros depoimentos reforçaram a marca do homenageado. O diretor da Faculdade de Física da UFPA, José Luiz Magalhães, destacou o papel do professor na criação de cursos em Belém e em vários municípios do Pará: “Bassalo plantou a semente que germinou uma Física forte e de qualidade na Amazônia”. Já Silvana Telles, coordenadora do Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física, recordou como Bassalo se tornou inspiração para sua vida acadêmica e foi decisivo para a implantação do programa no Pará.
O físico Luis Carlos Bassalo Crispino, sobrinho do homenageado, ressaltou a contribuição do tio para a consolidação da Física brasileira: “Meu tio dedicou boa parte da sua carreira a escrever livros, não só científicos, mas também livros de História da Ciência, que fizeram muito sucesso tanto no Brasil, quanto em países de língua portuguesa aonde seus livros chegaram. Seu convívio com os grandes nomes da Física, como Jayme Tiomno e José Leite Lopes, por exemplo, permitiu-lhe desenvolver uma vertente como biógrafo desses cientistas, resultando deste trabalho a publicação de várias biografias. Esses livros estão nas estantes e nas bibliotecas. Hoje encontro muitas pessoas em Portugal, por exemplo, que perguntam por Bassalo, porque o reconhecem como autor daqueles livros”
O professor Danilo Alves destacou três dimensões de Bassalo: “do ponto de vista acadêmico, ele produziu trabalhos científicos extremamente relevantes. Do ponto de vista da educação, sua produção de livros é extraordinária, fantástica. Do ponto de vista humano, trata-se de um ser humano que, no processo de transmissão de conhecimentos, sempre buscou transmitir posturas éticas, agindo sempre de acordo com a sua consciência e não de acordo com conveniências pessoais”.
Viva o professor Bassalo!
Fotos: Alexandre de Moraes / UFPA
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